Frio Auspício
...e assim deixei teu rosto ali, no cantinho da tela fria, como quem apenas observa. Nada mais.
"...Teu amor é uma mentira que a minha vaidade quer, e o meu , poesia de cego, você não pode ver(nem deve!!)...", pela vez enésima , ponho-me a escutar os apelos do louco-poeta. Bebo aos sorvos as mentiras delicadas e desafiadoras que esta letra-música me traz. Ensaio diálogos infinitos, caras, bocas e outras troças como se a delícia-mentira que na tela se prende pudesse me ser recíproca (tolo, débil!). Olho no fundo destes olhos-picsels como se tua retina pudesse me capturar ; ao menos por um instante a mais do que o habitual minuto-pouco o qual eu nem tenho, ou sonho ter...
Aqui? Nada além da tela, um teclado que me serve de púlpito e a inegável vontade de te amar(?). Estante de ocre-dessabor, mídias de tudo-já-ouvi, papéis e outros periféricos ,assim como esta eu-peça que se confunde com os relicários-sem-vida em uma simbiose ilógica, porém redencionista (ao menos para este nada-ser).
Você?? Nada me diz. Nada esboça. A não ser um meio-sorriso de l.c.d que não me diz muita coisa; talvez porque não queira, eu, ouvir.
Imagino o que seria possível fazer se as sinestesias não fossem apenas de domínio semântico, mas, fossem as tais, possibilidades transcedentes do sentido. Conjecturo: Meus pudores acerca de tua vida-casta de mulher-unica de único-amor teriam um fim. Como agora, enquanto beijo a tela-rosto, a boca-pasta-arquivo, o seio-resolução, o tudo-nada que é você neste abismo de precisão a que chamo de portal-cadeia deste seu-nada-meu coração.