Recomeço

Amanda vinha seguindo pela rua, se lembrando de seus amores passados. Todos fracassados. Seguia vestida de forma simples, com seu inseparável companheiro, seu MP3, ali, marcando presença. Seguia ouvindo uma velha música que ela gostava muito. Chamava-se November Rain, mas ela não tinha a mínima idéia sobre o que falava, mas adorava.

A rua estava vazia, exceto por ela, um mendigo do outro lado da rua, e alguns cachorros vagabundos que seguiam sem rumo. E enquanto caminhava ele pensava, de forma bem depressiva, que o amor não existia. Não. Com certeza não. Esse papo romântico sobre outra pessoa, pela qual você daria a vida, ou que daria a vida por você, era exagero, loucuras de uma mente fraca, pensava ela. A realidade era que estávamos sozinhos nesse mundo frio, que não havia ninguém que pudesse nos ajudar, e que tínhamos que aprender a viver sozinhos, do contrario ficaríamos esperando para sempre um 'príncipe encantado' que não existia.

E enquanto seguia em frente, sua alma ia regressando. Regressando a sua infância, aonde ela lera tantas aventuras românticas, tantas histórias sobre amores impossíveis, sobre princesas presas em castelos, com longas tranças, ou sobre feras que se transformaram em homem por causa do amor... Não. Nada disso era real. Não havia sequer uma base, por menor que fosse, de realidade nessas histórias.

Acabou a música que ela estava ouvindo. Uma outra começava agora. Beauty and Beast. Uma ironia, pensou ela. Uma música que fala justamente sobre amores impossíveis, justo agora, só podia ser o destino, ou o acaso, pregando mais uma de suas infinitas peças. Pois bem, se o destino queria rir dela, que ria! Não se importava. Já estava tão acostumada a sofrer por amor que criara uma espécie de proteção contra ele. Sim. Ela conseguia controlar seus próprios sentimentos. Demorou um pouco pra acostumar, mas valeu a pena. E se acostumou a não amar mais, pois, para ela, o amor era ilusório.

Mas ao virar a esquina, o destino mostrou a ela que ele não desistia, e que não seria ela que iria subjugá-lo. Por um momento seu coração parou, junto com sua respiração, junto com o tempo. Um pouco mais a frente estava algo que ela definitivamente não esperava. Havia ali, na mesma calçada que ela, uma outra mulher. Simplesmente linda. Com os cabelos pretos com mechas vermelhas amarrados de forma simples, uma camiseta azul marinho, uma calça jeans preta com um tênis all-star muito bem cuidado. Seu rosto era todo perfeito, com olhos castanhos, fundos como o mar, lábios perfeitamente vermelhos, contrastando com sua pele levemente morena... Enfim, algo magnífico. Uma beleza única. Tinha estampado na face, um meio sorriso, que a deixava meio enigmática, um sorriso impossível de dizer se era referente a música que ouvia, ou se alguma lembrança feliz.

Amanda nunca mais fora a mesma depois desse dia. Descobriu que sim, o amor existia, mas ela estava procurando no lugar errado. Redescobrira aquele sentimento, tão selvagem, tão místico, e ao mesmo tempo, tão humano... Sim, o amor existia. Era real. Tão real quanto a natureza, ou a vida, ou qualquer coisa do tipo. Mas, para desespero de Amanda, ela não tinha controle sobre esse sentimento novo que começava a re-aflorar dentro de seu peito.