Uma História de Amor

Suspeitei que não seria amado quando ela me disse aquelas palavras: “não sei se quero namorar...” e fechou com chave de ouro: “quero ficar um tempo sozinha...” Sim, foi isso que eu ouvi. Não fora a primeira vez e provavelmente não seria a última. Alguma coisa eu tinha que aprender com aquilo. Ficar passando por coisas assim e não aprender nada era muita burrice. Fiquei pensando nas possibilidades enquanto ela ainda estava comigo. Segurei a sua mão e não pretendia soltar, provavelmente seria a última vez que a sentiria. Fiquei calado, tocando-a de leve nos nós dos dedos, sentindo a sua pele macia. Meus movimentos estavam alí, mas minha mente não. Viajava longe, tão longe quanto minha imaginação permitia-me. Imaginava-nos separados, o fim de meus sonhos com ela. Aquilo me entristeceu muito. Pensei em outra coisa imediatamente para poder me livrar de algumas lágrimas. Minha mente, em seguida, pensou em como eu me isolaria do mundo, como me fecharia e não mais me permitiria gostar de alguém e... há! Quem eu estava querendo enganar? Isso era ridículo, eu já havia pensado nessa suposição por mais de uma vez e, em nenhum das ocasiões, conseguira me manter firme na decisão. Foi exatamente assim que aconteceu com ela. Estava firme em minha posição de curtir a vida, já havia alguns meses, mais de meio ano, daí eu a conheci. Nada então indicava o meu triste fim, não imaginei que sentiria algo por ela. Pensava que já estava curado desse mal. É, pensava... conjuguei corretamente o verbo. O que eu consigo me lembrar, foi que à primeira vista, eu a achava muito bonita. Adorava os seus olhos tímidos e sua boca pequena e desenhada. Sua pele macia e suave me encantava. E alí, naquele exato segundo que segurava a sua mão, desejei, pedindo a Deus, que Ele não a tomasse de mim. Queria muito sentir sua pele por muitos anos. Foi nisso que eu pensei. Foi isso que me apertou mais ainda o coração. Esse aperto me fez instintivamente abraçá-la e ficar ali, cheirando o cheiro doce de seu pescoço. Minha mente voltou para o passado, quando conversamos a sério pela primeira vez. Não a via, não a sentia, apenas prestava atenção em suas palavras. Ouvia atentamente o que me dizia, e um fogo foi surgindo dentro de mim. Esperança! Essa era a palavra que me vinha à cabeça. Naquele instante, nada sobre sofrimento e dor me chegavam à mente. Nenhum aviso, nenhum alarme. Estava tudo muito lindo, muito mágico. Quando dizemos algumas palavras, de fato, não pensamos em suas consequências, afinal, quando são ditas ou escritas, naquele instante, elas só representam aquilo pra nós: palavras. Depois de jogadas ao vento é que percebemos que elas podem voltar e nos atingir bem nos olhos e impedir-nos de ver outras possibilidades. Foi assim que aconteceu comigo. Eu estava tão bem, gostava tanto do que ela me representava que não podia enxergar o que estava por vir, outras escolhas. Assim fiquei, ouvindo o que ela tinha a me dizer. E eu também disse muitas coisas naquele dia. Uma coisa que ela me disse e que não pude esquecer, mesmo naquele momento fatídico, foi que ela sentia orgulho de mim. Ela me falava de coisas que gostava em mim que, ninguém até então, havia percebido ou dito algo a respeito. É, admito, fui seduzido. Mas não entendam como uma reclamação, não!, longe disso, aquilo era basicamente algo que eu havia pedido há muito tempo atrás. Isso! Foi isso que me fez sentir diferente. Parei de pensar em passado e futuro e fiquei ali, abraçado a ela. Cara! Como eu adorava aquele abraço. Naquele exato momento, percebi que, por mais que eu não a visse de novo, uma parte de mim ia sempre ficar com ela. Eu não havia deixado e ela nem sequer havia me pedido licença... ela foi chegando, assim de repente, e foi pegando parte do meu coração. Isso não me chateou, não! Gostava dela por demais. Sem causa e sem razão. Curtia aquela garota, isso era um fato. Ela já se levantava pra ir embora e foi quando eu percebi a minha desvantagem. Segurei firme em sua mão, levantei-me junto com ela, e sem que ela me deixasse ou permitisse, tomei-lhe o maior e melhor beijo que podia conseguir de sua boca. Nossos lábios ficaram grudados por alguns minutos em confissões silenciosas. Sabia que no fundo, ela também gostava de mim. Não havia muito o que fazer. Terminamos o beijo e deixei-a partir. Antes que me fugisse de vista disse em voz alta: “Obrigado!” Ela olhou para trás imediatamente e depois, sorrindo, voltou-se pra seu destino e partiu. Meu obrigado não havia sido apenas pelos momentos magníficos que ela havia me proporcionado, meu obrigado era também pelo maior bem que ela podia ter me deixado: os verdadeiros sentimentos para eu compor uma bela história de amor. Compreendi então o que devia tirar de bom daquilo tudo. Percebi também que não haveria um fim. Somente novos começos. E assim, termino o começo da minha bela história de amor... adeus, minha musa inspiradora... somente por enquanto...

Pedro HD Delavia
Enviado por Pedro HD Delavia em 11/10/2010
Código do texto: T2549662
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