A Dança
-Você nunca dançou comigo. –Indagou a moça.
Os dois corpos começaram a balançar juntos. Não havia um ritmo definido, eles dançavam uma música própria.
Ela estava na ponta dos pés, sentia o vestido longo tocar os seus calcanhares. O tecido fino deslizava dando leveza aos movimentos. A maquiagem borrava, ela limpava o lápis preto que, minutos antes, destacava-lhe o olhar, mas agora só lhe enegrecia as faces. Sabia que aquilo só piorava as coisas, mas ela não podia se privar de ter sua primeira e última dança. Estava indecisa. Indecisão é quando você sabe muito bem o que quer, mas acha que deveria querer outra coisa.¹
Ele. Talvez nem passasse por sua cabeça o que estava prestes a acontecer. Não conseguia saber o que ela tanto pensava, o porquê do olhar perdido, do choro escuso. Ela não queria parar de dançar. Sabia que depois da dança teria que dizer algo, dar uma explicação para aquilo que ela não sabia explicar nem para si mesma. Ele parou de dançar, já não havia mais escapatória.
“Desculpa dançar quando deveria ser indiferente. Desculpa querer te beijar quando deveria dizer adeus.”
Esse discurso não existiu. Ela o engoliu a seco. Mas como ele não poderia ter existido? Se estava vivo dentro dela...
Ela sorriu, um riso que agredia seu rosto. Ambos foram até a porta, combinaram horários, como de costume, beijaram-se na despedida. Ele acenava convicto de vê-la no próximo fim de semana. E verá. Até o dia que ele conseguir ouvir no silêncio.
Vendo-o indo embora, pensava e repensava se era mesmo aquilo que queria: vê-lo partir. Sentou e esperou sentir a saudade, como se ela personificada viesse, chamando-a para mais uma dança.
- Quando ele irá perceber. –Indagou a moça.