Abandono

O gosto de seus lábios ainda queima na minha boca, seus beijos ardem em minha pele, seus olhos brilham em algum esconderijo do meu ser, seu amor ainda me alimenta. Mas eu me pergunto até onde?

Disfarço.

Não deixo que ninguém veja o quanto arrasado estou sem você. Minto, finjo, enceno, trapaceio. A única coisa que me mantém de pé é meu orgulho e este já dá sinais de fraqueza.

Até quando?

Eu me pergunto. Até quando vou deixar meu coração sofrendo? Não posso mais continuar assim, não posso mais me iludir... Você não vai voltar!

Meu corpo clama pelo teu, minhas mãos tremem ao lembrar-se de tuas curvas, tuas formas.

O reflexo do espelho mostra o homem destruído, desesperado, apaixonado, fadado ao amor errado.

A raiva e a mágoa brilham nas lágrimas que enfeitam meus olhos, que correm até deixarem o gosto salgado em minha boca.

O uísque ameniza sua falta, seu calor. O líquido âmbar desce queimando por minha garganta, matando o amargor das lágrimas desfazendo o nó do desespero.

O rasgo feito pela lâmina do abandono ainda despeja sangue por minha alma. A ferida fétida e pútrida envenena aos poucos os resquícios de vida que ainda habitavam meu corpo, encarcerando em seu casulo escuro e frio minha pouca alegria.

As estrelas do meu céu se apagaram, a escuridão me envolve e eu recebo com alegria seu abraço, pois é quando fica escuro que eu posso cantar meus soluços sofridos e apaixonados.

Na frieza da noite, libero minha angústia cantada através do choro, despejada através das lágrimas. O sim, dito por você ainda ecoa em meus pensamentos. Seu sorriso, seu brilho, seu amor... Nada disso eu tenho mais, tudo em nome de um bem maior.