FIM DE CASO!

 

 

A mesa estava posta, as taças de cristal brilhavam, à luz de velas perfumadas,  vermelhas como sangue, contrastando com os castiçais brancos. Um jantar para dois, tão esperado, que lhe sufocava de ansiedade. 

 

Tomou um banho demorado, com ervas relaxantes e o perfume das flores de setembro, espalhou-se por todo o ambiente do pequeno e aconchegante apartamento.

 

Vestiu-se, linda e sensualmente, perfumou-se, alisando seus cabelos, desceu as mãos e pousou em seu colo bem formado – ela continuava linda -  e, com um sorriso malicioso no rosto, sentou-se no canto do sofá, taça de vinho na mão,esperando  o ruído da chave na porta.

 

Não sabe quanto tempo permaneceu ali. A comida esfriara na mesa arrumada, o vinho, levemente resfriado, como ele apreciava, jazia ao lado dos copos de cristal, morno e choco. Olhou o relógio da parede da sala, cúmplice de todas as horas felizes, e percebeu que quatro longas horas haviam se passado, esperando por ele.

 

Não soube precisar quanto tempo mais demorou-se ali, naquele silêncio doído, que tolhia sua capacidade de entendimento. Iria dormir, amanhã seria outro dia. Iriam se encontrar, como sempre, no trabalho e ele, certamente, lhe daria explicações.

 

Ao passar pela porta, notou a luz da secretária eletrônica piscando, detalhe que não houvera percebido até aquele momento. Reunindo toda a força que ainda lhe restava, acionou o botão que piscava, insistentemente, e ouviu  a frase que a matou, ali, naquele momento. Morrera para o mundo. Morrera para si mesma.

 

- Me perdoe, se for possível, mas sigo meu caminho, sem você. Caso-me hoje e viajo, em definitivo, com minha  esposa, para gerir a filial da empresa, na Europa.    

Foi bom enquanto durou... Esqueça-me!

 

(Milla Pereira)