Juntos para Sempre
Nota: Já havia publicado este conto aqui antes,mas o retirei para tentar o Concurso de Contos Geração Editorial. Quem faturou a peleja foi o texto "Casamento", de Gian Danton, então voltarei a deixar o que fiz a disposição de quem desejar ler. Aos que o fizeram antes, minhas desculpas por não apresentar algo inédito; aos que estão acessando agora, uma boa leitura.
JUNTOS PARA SEMPRE
Lágrimas e saudades destiladas em uma caixa de textos. Ele, do Rio Grande do Sul, conversando com uma guria distante em Ouro Preto. O casal perfeito, unido apenas por conexões de banda larga. Conheceram-se num desses bate-papos de provedor a cerca de sete anos atrás, e nesse tempo todo se encontraram apenas uma vez, sendo a corajosa iniciativa tomada pela jovem dos cabelos dourados e rostinho de boneca que sempre elogiava. O que antes era uma possibilidade remota tornara-se concreto por três dias, em uma convenção no Rio de Janeiro. Paixão ardente que ainda queimava nos jovens corações, torturando-os com a distância que logo viriam a descobrir ser intransponível.
Amavam-se, disso tinham certeza, mas seus sonhos e ideais rumavam para direções completamente opostas. Ela passou com louvor aos 18 para o curso de comunicação social da UFOP, vindo a se tornar uma requisitada jornalista. Em pouco tempo já fazia parte de uma filial na Europa, e sua vida, apesar de corrida, era prazerosa em suas inúmeras regalias. Ele não teve um futuro menos glorioso, formando-se um excelente psicólogo pela UFRGS que logo dava palestras por todo o país. Com o tempo, as chances de formarem o tão sonhado par se esvaíam, junto do único contato que ainda tinham, mas as memórias ainda fulguraram por muitos e muitos anos.
O rapaz botou pé-firme, jurando não tocar em outra senão a única mulher quem desejava até o fim de sua vida. Veio então a paranóia, de mãos dadas com a mágoa e o sofrimento, um de cada lado, desfazendo o que restava de suas crenças. Ele se envolvera com uma legista que conhecera – ironicamente – num congresso, a qual viria a ser sua esposa e mãe de três filhos. Embora não acreditasse, nem que lhe fossem apresentadas evidências concretas, do outro lado do Atlântico a mocinha do rosto de porcelana havia feito o mesmo, esperando inutilmente pelo príncipe que jamais viria, até se entregar a um inglês de caráter sem igual.
Acabaram-se as esperanças, e o sonho teve de se contentar em não passar de uma paixonite adolescente. Contudo, os juramentos permaneceram, e não raras eram as noites que ambos voltavam-se aos céus e confabulavam sobre como seria se talvez fossem da mesma cidade, se não tivessem tão longe um do outro. Ainda que de forma latente, havia uma vontade utópica de remodelar o destino.
O fim chegou para ele, e por um instante tudo foi escuridão, até que se desse conta de que toda sua vida foi apenas um milissegundo diante da eternidade que aflorava em si. Um novo começo, dimensões paradisíacas de aprendizado e paz. Séculos, milênios de experiência convergidos em um único ser... Ela chegava logo depois, ainda confusa, mas logo revivendo cada sonho que tivera com seu amor. Felicidade plena. A espera valeu, e como valeu.
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Uma decisão, outro carma assinado. Caiu o véu do esquecimento: o tempo no além se tornou imensurável, tanto quanto os vestígios que podiam guardar do acontecido, exceto por um: o olhar fixo e apaixonado, os lábios se unindo e separando várias vezes em meio a uma conversa que não via seu fim. A relva macia roçando nos pés descalços, enquanto uma brisa dançava ao redor de seus corpos, brincando de bagunçar cabelos e roupas. Luz pura vinda de cima, aquecendo, confortando. Lágrimas e saudades expurgadas no além-vida.
“Nunca mais vou me separar de você, eu prometo...”
“Para sempre...”
As mãos juntas trocando calor, gradualmente se convertendo em um abraço de estalar os ossos, em um delicioso sonho que precisou de nove meses para se desfazer. A partir de então, a dor de uma nova e absurda realidade. Um choro que nunca mais se calaria.
Em algum lugar da Índia, uma mulher dava a luz a gêmeos. Siameses.