Desencontros II - A amizade.
Primeiro dia de aula. Sente-se desconfortável. Não conhece ninguém. Repara nas meninas da turma, vê se tem alguma gatinha pra azarar. Procura pelo fundo da sala. Percebe que todos se conhecem. Definitivamente ele é o estranho. Na frente está uma menina de sorriso fácil que logo puxa conversa. Muito simpática. Apresentam-se. Por causa dela outras se aproximam. Aos poucos vai conhecendo toda a turma.
Boa aluna, presta atenção em tudo. Adora o movimento da turma, da escola, mas mantém certo distanciamento de quem não quer ser parte de tudo que acontece. Amam música!
Ele traduz algumas pra ela. Cantam as que mais gostam. Gosto sempre igual.
O menino logo se apaixona por alguém da escola. A menina da carteira da frente torna-se sua confidente. Falam o tempo todo. Estão juntos todo o tempo. Ela sabe tudo sobre ele. Ele sabe quase tudo sobre ela. Os dois se divertem tanto que começam a ser alvo de brincadeiras. A primeira a comentar é uma das professoras que os apelida de Super homem e Mulher maravilha. Ficam constrangidos. Ela teme que ele desista de ser seu amigo. Ele teme que alguém ache que está apaixonado por ela.
Ele leva um fora. O ombro da amiga é o melhor lugar do mundo. Até se esquece de que está sofrendo quando estão juntos.
Longe, o assunto preferido dela é ele. A melhor amiga já percebeu e diz que ela está apaixonada. Desmente. São só amigos, mas sozinha, em seu quarto, caminha com ele de mãos dadas e o ouve dizer que a ama. Atravessa todo o pátio do colégio como a namorada. Suspira... “ele nunca demonstrou nada”. É só amizade.
Longe, ele se arrisca a pensar nela de um jeito diferente: no sorriso límpido, na pele negra, no belo corpo, na cumplicidade... “Não! A zoação vai ser enorme!” E ela só é amiga dele. Nunca percebeu nada de diferente no comportamento dela.
Na escola, o disfarce faz parte do show. Nada nem ninguém podem abalar a amizade dos dois. Nem mesmo eles.