Confusões do amor

Lá estava ele curtindo sua solidão em meio a seus devaneios. Nunca mais viverá um grande amor desde que sua amada Lucia Makino se mudou para o Japão.

Prisioneiro de uma paixão mal resolvida tem seu coração em constante luto. Ainda que se arrisque a novos amores, não consegue esquecer-se de sua amada. Até amores virtuais tentou, mas de nada adiantou. A imagem do sorriso da amada emoldurado em suas mãos antes do beijo não lhe saiu jamais da lembrança. Sem condições de determinar as atitudes do coração volta ao mundo virtual sem saber o que lhe espera.

De repente em sua caixa de email uma mensagem que o deixa desestruturado. Um email da amada, uma mensagem, um contato, uma maneira de revê-la.

Não pensava jamais em ler aquilo, não ele. A mensagem era um convite de casamento.

Sua amada Lucia Makino encontrara um novo amor, convidava-o a se fazer presente à cerimônia civil que se realizaria na cidade de São Paulo. Sua cabeça, seu coração, seu corpo todo parecia querer explodir. Não podia acreditar no que lia.

Havia esperado por ela todo aquele tempo... E agora ia se casar!

E ainda lhe mandava um convite! Como!

E o recado dizia que seria em São Paulo. Então ela havia voltado do Japão. Voltou e não o procurou... Porque?

Pensando bem, ele havia lhe dito que nunca mais o procurasse, mas não era de verdade. Eram somente palavras ditas no meio de uma discussão.

Não devia ter sido assim.

Na verdade nem devia tê-la deixado partir, ainda lembrava-se muito bem daquele dia.

Acreditava que ela ainda amava seu antigo namorado, e assim começaram discutir. Ele a amava demais, porém, estava muito enciumado com o fato de ela ainda manter contato com o outro. Então discutiram e nunca mais a viu.

Fez o que faz todo amante desiludido. Pôs-se numa roupa elegante e foi afogar as mágoas em seu bar preferido, no centro da cidade, um bar estilo pub, no qual há oportunidades de uma boa paquera. Mas não foi lá para isso, de fato, e sinceramente, foi fazendo tipo de triste, porque a tristeza só se justifica feito vitrine para ser vista. Pediu ao barman uma bebida forte que tragou em dois goles rápidos, como se quisesse engolir com ela a fúria melancólica que o assolava. Depois pediu uma cerveja, que tragou em goles malemolentes, quase que indolentemente, do mesmo modo que fumava seus cigarros consecutivos. Nem reparou na loira que ao lado o fitava demoradamente, como que para lhe decorar os traços e os gestos, por uns quarenta minutos aproximadamente. Ela ficou tocada com sua visível tristeza, sentindo que era algo apaixonante. Tendo ficado sem fogo, a loira saltou para uma cadeira ao lado da sua no balcão e perguntou quase que sussurrando:

- Você tem fogo?

Se fosse antes de conhecer Lúcia, não teria perdido esta oportunidade, mas naquele momento não. Definitivamente não!

As imagens do futuro casamento dela não lhe saiam da mente.

Assim negou-se a aceitar às investidas daquela mulher, preso a uma insana fidelidade a uma relação que não mais existia.

Voltou para casa. Quando de repente alguém bateu à porta do apartamento,. Era sua amada Lúcia.

Ele ficou perdido, sem chão sob sés pés. Não sabia se estava lúcido ou alucinando. Ela ali, olhos banhados em lágrimas ( como ainda era linda). Não disse palavra alguma. Apenas correu em sua direção em uma mistura de beijos e soluços de um choro angustiado. O coração batendo descompassado. Ele não teve tempo de pensar em nada. Aceitou a língua que lhe invadia em beijos sofridos. Beijou-a também. Quando deu por si estavam já jogados no tapete do apartamento. As roupas como que parte da decoração, jogadas sobre os móveis eles num êxtase frenético de um amor que parecia nunca ter terminado.

Quando acabaram de consumar-se nas chamas daquela paixão, foi que ele se lembrou de perguntar a ela o que estava acontecendo.

Calmamente, sem olhar em seus olhos, ela vestia a meia-calça, vagarosamente, parecia querer provocá-lo ainda mais, e disse:

- Eu precisava lembrar do quanto era bom estar com você, queria pela última vez literalmente comer teus beijos.

FIM

Marcelo Bancalero / Kate Weiss e Marcos Lizardo

Obs: AINDA BEM QUE FOI SÓ UM CONTO! UFA!