A história de D. Afonso
Uma história de D. Afonso
Uma história de D. Afonso
Ela já havia tido algumas paqueras, já tinha se envolvido antes com alguém, mas desta vez era diferente... agora um grande amor a tomara por completo, havia se apaixonada de vez por um rapaz de seu país... Eles moravam em Portugal, numa das cidades perto do Porto...
A primeira vez que se viram foi na frente de uma "igreja", perto de uma bela praça toda ornada de árvores... rodeada de plantas e repleta de pessoas, que vinham todos os finais de semana, e chegavam para encontrar-se num dia de domingo... foi a ocasião inicial dos seus encontros...
Ele havia perguntado por seu nome, e tinham dado sorrisos um para o outro... certamente gostaram à primeira vista, e tinham um interesse em comum tão cedo...
Teu nome, Cristina, um nome tão bonito...
Posso te chamar de um amor profundo?
Algo tão belo de se enunciar...
Não sou nenhum poeta, mas sou o rapaz romântico...
Que pretende roubar-te o coração...
Sequestrar para sempre o teu amor de mulher...
Sempre se encontravam naquele mesmo lugar, naquela praça em que havia a igreja em frente, mostravam seu ardor dos sentimentos tão calorosos, e sentiam-se alegres no calor dos seus abraços... Agora era um verdadeiro amor para ambos, e eles se enamoravam com as emoções de se conhecerem... tudo era maravilhoso, cada dia mostrava ser um tempo de prazer... Podiam exibir-se para todos como um novo e belo casal, podiam demonstrar para os amigos que não estavam mais sozinhos...
Os pais deles já aprovaram o namoro e tudo corria bem!
Como foi bom te conhecer...
Saber que existe uma pessoa tão amável para mim...
Que me trata como um príncipe...
Que me faz parecer um rei perto de ti...
Logo nossas vidas se unirão,
Teremos uma só existência...
Desejo dar-te um anel,
E em teus dedos colocar um sinal...
De que representa sentimento puro...
Algo forte por dentro de mim...
Eles namoraram por um certo tempo, e deixaram os dias correrem, como uma carroça veloz de um torneio de cavalos, como a Maria Fumaça parecia correr veloz... As coisas iam maravilhosamente bem, e tudo era como um sonho... Só havia flores por todos os mundos, e contentamentos cobriam-nos de alegrias... A cada encontro, agora já em suas casas, e em outros locais, era um dia de ansiedade, e como esperavam o próximo encontrar-se... era como satisfazer uma necessidade da alma, um querer intenso do coração... Só quem está apaixonado sabe o que isto significa para o coração, e sente a ansiedade de encontros novos e novos, sempre é novidade!
Cada vez mais me entusiasmo por ti,
Constantemente aumenta o que sinto...
Sou um homem privilegiado...
Tenho meus vinte e dois anos...
Mas já sou uma pessoa realizada...
Sou jovem como tu és,
Com teus dezenove aninhos...
És uma flor das orquídeas mais atraentes...
Como as pétalas das lindas rosas...
És como as pinturas clássicas e do barroco...
Semelhante às grandes obras de arte...
Não consigo mais viver longe de ti...
E não morar junto de ti me agoniza...
Vamos juntar nossos corações em harmonia...
Fazer o canto do pássaro ser um só...
Anseio o que todo rapaz anela...
Querer a mão da sua donzela...
Em matrimônio honrado por todos...
Casar-me contigo para viver feliz...
Para sempre...
Eternamente...
Como Cristina ficou feliz com este pedido, e era aquilo que ela tanto queria também... Já se conheciam bem, e seu namoro era muito bom... Não precisava mais conhecer o íntimo daquele moço, nem ficar questionando suas aventuras antigas... Ele era seu par perfeito, era o complemento ideal para ela... E ela dormia tão feliz em seu leito, sonhando com as felicidades mais deliradas...
Como sou feliz...
Sou a moça dos privilégios reais...
Pois tenho um amor sem fim...
Algo que durará para todo o sempre...
Quanto sou alegre com a vida...
Torno-me como a Eva que foi dada a Adão...
Possuo o valor de um sentimento nobre...
A nobreza de um ardor forte...
Sei como tanta gente sofre...
Mas eu sou o contrário...
Reconheço tantas coisas duras nesta existência...
Mas só enxergo um mar-de-rosas...
Vou entregar-me de vez a um amor bem sublime...
Irei amarrar-me nos grilhões das emoções...
Ambos eram muito apaixonados um pelo outro, e os dois tinham uma paixão de adolescente... Davam presentes um ao outro, e as dádivas eram frequentes, um perfume vindo da França, um doce que a mãe de um deles preparou, qualquer lembrancinha era bem-vinda, como um tesouro a ser guardado em sete chaves, num cofre de metal maciço... escreviam cartas, mesmo morando na mesma cidade!!!! Entregando pessoalmente as cartas, nem correio precisavam, com cavaleiros que levavam a outras cidades...
O amor de Cristina por ele era maravilhoso, nunca sequer olhava para outrem... e o sentir dela era fortíssimo como o ferro fundido, e jamais flertava com mais ninguém... As mulheres quando amam não traem seus amores, e quando sentem uma coisa intensa não fazem nada prejudicial... Outros rapazes tentavam dizer que ela era tão bonita!
Que o D. Afonso era namorador, não merecia seu amor!
Suas amigas diziam que marido é para escravidão, e mulher sofre muito, mas como era duro ficar sem um Adão!
Casaram-se finalmente, depois de terem feito todos os preparativos, e seu matrimônio foi muito lindo, depois que ajuntaram seus pertences numa vida apenas... numa família nova, uma que era feliz... Viviam muito bem, com risos verdadeiros em suas bocas, e toda manhã sorriam um para o outro... Passeavam ainda, e o romantismo não havia se extinguido... Falavam mil juras de amor, cobriam de carinho para jamais sentir o frio das agonias, nem sentir o amargo da ausência do doce dos sentimentos mais admiráveis...
Os anos se passaram, e ela jamais percebeu alguma mudança em seu marido... o tempo não revelou nenhum traço de aborrecimento... Ele não ficava cobrando nada dela, ela fazia todos os deveres de casa com carinho e prestimosidade... Não havia brigas entre eles, e davam-se tão bem... nunca ela iria imaginar uma traição, nem sonhar com uma deslealdade... Havia a segurança de um casamento feliz, não existiam motivos para desesperos... e ela estava agora grávida de alguns meses... estava gestante de uma filha de ambos (embora ainda ela não soubesse que seria uma filha ou filho)... o fruto de um amor adorável, um amor que se prometeu ser para o sempiterno...
Contudo, alguns homens (e às vezes algumas mulheres) esquecem-se rapidamente de tudo que deixaram fiança, e seus compromissos são deixados no escuro... Tudo de maravilhoso que se expressou é abandonado, como um desprezo do passado, como algo bom que durou, mas que acabou... Assim, num dia inesperado, num momento sem igual, apareceu ele contando sem jeito sobre o que pretendia fazer, e lastimando-se dizia para ela como se sentia:
Tu és boa, adoro tua pessoa...
És uma mulher e tanto.
Sabes como te aprecio...
Mas estou a encontrar-me com outra...
Uma senhorita de outro país...
Não uma portuguesa,
Mas uma que é inglesa,
Seu nome é Charlotte...
Este é seu nome...
Ela visitou aqui, nossa cidade,
E mostrou um interesse em mim...
Eu disse ser casado,
Mas ela insistiu,
E sendo tão linda, eu não resisti ao encanto...
Vejo nela algo tão novo,
Uma coisa diferente...
Não sei explicar como tudo aconteceu...
Nem posso dizer o que há comigo...
Mas tu és cheia de qualidades e me amas...
Saberás entender o meu abandono...
Compreenderás a minha aventura...
O coração é traiçoeiro...
Ele nos guia a desertos da vida...
O sentimento é um ser enganado...
Ele nos tortura por dentro...
Isso tudo foi um gesto inesperado, uma atitude repentina demais... Como poderia sair de casa e ficar com outra, num momento em que ela estava esperando um novo ser em seu ventre? Como poderia largar seu próprio sangue, seu próprio fruto... Uma dor subiu no coração de Cristina, um aperto no peito lhe comoveu... havia suas lágrimas, como gotas da chuva, como a cachoeira que não desiste de cair... Refletindo sozinha:
Que coisa talvez eu tenha feito?
Qual a culpa minha nesta história?
Será que fui perversa de algum modo?
Fui amarga em algum momento?
Não demonstrei amor genuíno?
Fui crítica em excesso como o gotejar de uma casa?
Não, mas fui afável como o mel,
Como o néctar das abelhas...
Lavei tantas roupas dele...
Quantas vezes matei a sua fome...
O amor me preencheu sempre...
E eu sorria para o irracional do sentir...
Não há razão no amor...
Ele vem e depois vai embora...
Parece que dura pouco...
Como uma chama incandescente de uma fogueira,
As brasas vão se chamuscando...
Minha mãe bem me alertou que seu amor acabara com meu pai,
E que as mulheres é que ficam ressentidas!
São maltratadas, são escravizadas,
Mas eu não fui rejeitada jamais!
E tudo que fiz foi por amor!
Trabalhei no lar, fiz mil coisas,
Tudo em carinho e dedicação...
Não mereço ser tratada assim!
Realmente ele foi morar com a inglesa, e juntou-se com uma pessoa estrangeira, na ilha que fica ao lado... Pareciam felizes, mostravam-se satisfeitos... e ele não nutria nenhum remorso pela perda de um casamento de alguns anos, e não refletia dúvidas sobre um relacionamento de anos de duração, nem pensava direito no nenê que viria, nem se importava com a criança do seu sangue próprio... alguém que iria crescer sem seu pai, uma pessoa que não viveria nas ternuras de um agrado paterno...
Entretanto, um coração duro como tal não poderia viver feliz muito tempo, pois não existe absolutamente felicidade para caráter degradado... Não há paz para os maus (disse-me a voz do livro!) e que espaço haveria para alegria num ser insensível... Os defeitos de ambos foram caindo em terra, como se sucumbindo ao chão... Logo a mulher inglesa observou tamanhas fajutices, olhou para aquilo que não era mais perfeito como antes... Diziam que as moças inglesas eram mais exigentes, e isso estava em pleno acordo com Charlotte... D. Afonso fazia o que Cristina fazia com ele, demonstrou mais amor, e Charlotte se decepcionou, e mostrou menos amor!
Assim, depois de um ano juntos, separaram-se e não mostrou haver força nos amantes... Não era amor verdadeiro, nem propunha ser algo eterno... Era uma aventura de alguém que deixou seu coração vaguear... um romance oculto a princípio que virou em tragédia familiar... A família de Charlotte era crítica ao extremo, e exigia que se continuassem juntos, teriam de se casar oficialmente... mas D. Afonso já fora casado pela igreja, e isto era difícil... embora as igrejas eram diferentes, lá em Portugal a Católica, e na Grã Bretanha, o Anglicano... Ele se sentia mal se fizesse votos de novo... E Charlotte ficou irada... pela exigência de sua mãe, ela tinha uma difamação pelas redondezas, e isso custava caro para ela...
No fim, os três ficaram sem ninguém, como um amor verdadeiro, e Cristina ainda pedia para o retorno daquele que era seu amor sem fim, e lembrava de músicas que marcaram sua época, e quando escutava na praça, só punha a chorar, agora com sua filhinha no colo, e o rapaz nunca tinha sequer visto a filhinha! Que insensibilidade! Filhos não são produtos, são seres humanos, são sangue do nosso sangue, e merecem amor e carinho, atenção, e serem amados é o primeiro direito deles... Então, Cristina soube do desastre do seu ex-marido, e pediu seu retorno, não por questões financeiras, porque ela tinha tudo de bom agora e seus pais eram abastados, nem havia pensão alimentícia naqueles tempos!!! E era para reiniciar um novo casamento... mas é difícil não deixar cicatrizes... o rapaz não amava mais Cristina, amava Charlotte, que o abandonara também, merecidamente, e chorava por Charlotte... Ser rejeitado dói, é uma ferida aberta dura de cicatrizar realmente... Contudo, voltou para Portugal, cidade do Porto agora, e pela primeira vez viu sua filhinha, e nem mostrou muita consideração a princípio... Ela já tinha um ano e seis meses, era uma menininha linda, de olhos verdes, e loirinha, chamada de Estefani Cristine, e ele aceitou morar lá com Cristina, pois sabia como ela o amava, mas quando um ama demais, o outro ama de menos...
Charlotte mandou uma carta para ele (Daniel Afonso), e falou que estava grávida dele também, só agora percebeu, e ele poderia voltar, porque não queria um filho sem pai... mas disse que não o amava mais... mas estava disposta a viver com ele só para criar o filho que eles teriam... Ele ficou pensativo, e machucou ouvir que não era mesmo mais amado... e que só por causa do filho ou filha tinha que assumir um novo casamento... Olhou para Cristina, e ficou admirando-a ... compreendeu como ela sofreu, e caiu em si, e disse:
Cristina, um amor como o teu,
Sempre constante, mesmo eu tendo caído,
E ainda que eu escorregasse na vida...
Falhado com você depois de um tempo...
No começo era perfeito....
Depois arrefeceu em mim, também não sei que culpa tenho...
O coração é meio maluco...
Dizem que ele é traiçoeiro...
Já sabes como não te mereço...
E como fiz tanta tolice...
Nem pai eu me senti, nem me mostrei assim...
Mas depois que vi e revi os olhos da filhinha nossa,
Verdes como os meus, cabelos loiros como os meus...
Eu vi um reflexo de mim mesmo...
Olhei para um pedaço de mim...
E não sabes que chorei uma noite toda,
Lamentando ser tão insensível...
Acho que amaste tanto, deste tanto de si,
Que por isso, não consegui devolver carinho,
Parecia que eu não era capaz de retribuir,
Tens muitas qualidades...
Teu amor não pode ser esquecido...
Sabes bem da Charlotte, que ela tem um filho no ventre,
Que ela diz ser meu, e com certeza é,
Senão ela nem me buscaria...
Estou tão confuso, tão estonteado...
Estou vendo que não fui educado para o amor!
Deveria haver uma educação para se amar...
E o que faço agora?
Apreciarei tua opinião...
Respeitarei tua decisão,
E só abaixarei meu olhar, ao ser censurado!
Cristina, já sabendo da situação, e amando ainda seu amado, querendo seu casamento de volta, não lança críticas duras contra D. Afonso, mas diz como ele vagueou por aí, e decepcionou como marido, mas assim mesmo, ela o amava, e que a decisão só era dele, o que ela poderia dizer? Não seria ela que escolheria sua vida, suas diretrizes, e que fizesse o que o coração mandasse!
D. Afonso, entrou em contato com Charlotte, e disse, se não há amor, não há casamento, nem relacionamento, o filho ou filha ele disse que iria ver, e dar dele para sua prole... queria ver o filho, e dar muitos presentes, e visitar sempre que pudesse... mas ficaria com Cristina, sua primeira mulher, e aprenderia a amá-la novamente, como amava antes, porque quando recebe amor, é mais gostoso dar de volta, e estava começando a sentir o que havia perdido... que não era preciso ser como era antes, que só o carinho, a preocupação, a cumplicidade, tudo valia mais que falta de amor ainda, e que o amor de Cristina era merecedor de elogios! Sem amor, sem nada, nada! Não poderia voltar com Charlotte... que ela procurasse alguém que ela amasse de verdade, que ela amasse, mas não me amasse mais, porque eu me tornaria chato! E realmente fosse feliz com outro, que seria um amor de sua vida verdadeiro, pois sem amor, não há razão para nada...
D. Afonso começou amar sua filhinha, só depois que passou a conviver com ela, e como ela parecia com ele realmente... O amor de Cristina era tanto, ela temia tanto perdê-lo de novo, que o agradava a todo o momento... assim como fazia antes, e não guardou ressentimentos, pelo contrário, mostrava mais amor ainda... D. Afonso, por fim, um dia disse espontaneamente, sem perceber, como amava Cristina... Nem ele percebeu que disse isso em meio a muitas palavras, e ela escutou e gostou muito, e sentiu que o amor dela não era em vão... que estava reconquistando seu amado, com bondade, sem brigas, sem críticas, só com respeito e carinho verdadeiro... ela sempre o amou de verdade... não porque foi rejeitada, nem nada, mas porque amava mesmo, era de coração, poucos sentem isso por muito tempo e aceitam defeitos, mas ela era uma mulher valente, persistiu em ganhar o amor do seu querido... e diziam que ele não era lindo!!! Talvez só ela visse isso nele! Até Charlotte um dia bem anterior disse: como és feio!
Cristina guardava dentro de si ainda uma dor: Será que D. Afonso ainda sentia paixão por Charlotte ocultamente, bem lá dentro do coração? Especialmente quando nasceu o bebê de Charlotte e ele quis ver a filha, viajar para a Inglaterra... Cristina ficou desesperada! Muito desesperada! Ele iria viajar e talvez nem voltasse mais! Talvez a outra filha o conquiste, nem pela Charlotte, mas pela menininha que ele nem conhece ainda... nem o nome sabe, nem a aparência...
Ao chegar numa cidade pequena da Inglaterra, onde Charlotte morava, foi à casa dela, como combinado... olhou para a neném, tão lindinha também, crianças sempre são lindas! E começou a chorar tanto, tanto, que Charlotte deu um copo de água para ele.
Charlotte estava meio convalescente, e não estava disposta a brigar, e apenas queria que D. Afonso assumisse a paternidade, para o registro não ficar sem pai, porque eles não eram casados, e naquela época isso era horrível depois para a menina, então, queria que pelo menos assumisse a paternidade, por isso o chamou...
Naquele tempo não havia ainda muitos meios de saber por algum exame de quem era o filho, e não havia meios de constatar, mas a menina de olhos verdes também, não por isso, mas ele sabia que era dele mesmo... na verdade, nem obrigado a registrar a menina era... e foi pôr seu sobrenome na menina na igreja...
Naquele tempo era na igreja que se registrava... Perguntou se ela pôs um nome na menina, se ele poderia escolher... ela disse que sim, que ele poderia escolher o nome dela... Então, foi colocado o nome de Estefani Cristine II ...
Charlote não gostou, mas já tinha sido registrada... e D. Afonso foi embora para Portugal, com dor no coração, por causa de que pensou, que filhos são mais preciosos que qualquer amor do mundo! Era como se ele deixasse de ser um apaixonado pela Charlotte, por Cristina, e se apaixonasse em ser pai! Coisas mudavam! Tudo muda afinal! O mundo gira continuamente!
Quando chegou em seu lar, viu novamente Estéfani Cristine, e disse: te amo, meu amor! Sou teu papai, e quando ver você todos os dias, vou lembrar que uma semente minha, igual a você, ficou lá na Inglaterra... igual a você... mas outra pessoa, outra linda pessoa... mas amada tanto quanto você!
Esse sentimento paterno despertou em D. Afonso de um dia para o outro, ou talvez tenha sido aos poucos? Ele nunca soube o valor de ser pai, nunca se deu a prezar por isso, só por ver as crianças, ele se deu conta que o sexo produz gente, que não é só o prazer do momento, que nascem pessoas, que devem ser cuidadas com carinho... e só lastimava que isso era um lamento forte em si, por não poder viver junto com as duas filhinhas! Uma em Portugal, com ele, e outra longe, na Inglaterra...
Charlotte não era uma mãe excelente, era boa mãe sim, mãe, não totalmente, mas queria sair, divertir-se em danças, paquerar, e muitas vezes sua mãe era dura, e não ficava cuidando de sua filhinha... Charlotte queria namorar, mas sendo mãe solteira, era mal vista, e os rapazes desprezavam-na... Nenhum rapaz queria assumir e criar a filha de outrem... Era como se sua filha fosse um fardo agora, e ela foi percebendo aos poucos, apesar do sentimento natural de mãe, era jovem, e jovem nem sempre é madura... não pensa de forma adulta...
D. Afonso foi visitar sua filhinha na Inglaterra depois de algum tempo, e ver sua lindinha, e desta vez viajou com sua primeira filha, que já estava mais grandinha... Só Cristina não foi, porque não teria onde ficar lá, visto que era a casa de Charlotte... não havia hotel na cidade... e não era apropriado ela ir...
E poderia dar briga ou problema, então decidiram que ela ficaria esperando, e deixou D. Afonso levar o que ela mesma percebeu, que ele amava mais a menina do que ela! Tinha um pouco até de ciúmes da filha! E, ao mesmo tempo, achava isso bonito.
Ao chegar, Charlotte estava meio emburrada com D. Afonso. Falou que ele era culpado pela infelicidade dela! Que por causa da filha deles, ela não podia sair de casa, que não podia mais namorar, e que perdeu muita coisa com isso! Que fardo você me deixou! Nunca esqueça disso!
D. Afonso disse então: Dá a filhinha para mim, e eu cuidarei dela, e você poderá namorar, ser solteira de novo, sair para bailes, e ninguém vai cuidar da menininha aqui! Arriscou um pedido forte...
Charlotte pensou um pouco, e perguntou à sua mãe e ao seu pai o que achavam de deixar a filhinha ir para Portugal, e eles visitarem somente de vez em quando... Os pais não concordaram... de jeito algum... mãe é mãe, você tem que cuidar o resto da vida!
Quando os pais dela disseram essa expressão: o resto da vida! Ela ficou doida! O resto da vida assim! Vocês não cuidam dela, só eu, e vou viver sem diversão a vida inteira? E disse a D. Afonso:_Leve-a sim, mas cuide bem dela, e deixe-me visitá-la sempre que eu puder e quiser... tudo bem? Te dou a certidão de nascimento! Pode levar! Fale a ela que sou sua mãe, e que ela tem sangue inglês!
D. Afonso, feliz, diz: _Claro, sempre que quiser, pode dormir em minha casa por muitos dias, visitando sua filhinha, que eu sou mais mãe, por assim dizer, do que você!
D. Afonso, ficou preocupado com a opinião de Cristina, sua mulher. Se ela ajudaria cuidar de um neném de um ano de idade, sendo que sua filha mais velha já tinha mais idade, e teria que uma mulher como ela ajudar muito, e se sacrificar em criar uma criança que nem era sua... Mesmo assim, voltaram para Portugal, os três... Qual seria a reação de Cristina? Não fora consultada sobre a decisão de uma nova criança na casa!
Mas ao chegarem, ela ficou radiante, ela era mãe também, e entendeu sem que ele dissesse algo... percebeu porque ele falava tanto de sua outra filha, como se desse amor em dobro à primeira filha em compensação por estar longe da outra! Por isso, não precisava explicar nada... Era filha dele! O sentimento de mãe tocou Cristina, ao ver uma neném tão bela! Tinha um ano apenas, era até parecida com sua filha legítima, lembrava bastante sua filha quando mais novinha! Encantou-se!
Ele disse a Cristina: _Tudo bem?
_Sim! Como se fosse minha própria!
Com o tempo, Cristina ficou grávida de novo, e desta vez teve um menino... Puseram o nome dele de Charles, não por causa da Charlotte, que nem mãe dele era, mas para lembrar como a família havia se misturado! Coisa de gente de longe, que pensa em suas peculiaridades... Talvez para que quando Estéfani II estivesse maior soubesse a verdade e que sua mãe estava ali no olhar do novo irmãozinho! Talvez ele cuidasse com carinho de sua irmã, no lugar de Charlotte, um dia, quando precisasse...
Charlotte nunca visitou sua filhinha crescendo, desapareceu da vida deles... talvez temesse que sua filha quisesse voltar com ela, ou por que ela casou-se e o marido não deixava, ou mentiu nunca ter filha alguma... alguma coisa houve! Não se sabia a razão, nem D. Afonso mandou sequer uma carta... nem ela... e a mãe que Estéfani II conhecia era Cristina... Naturalmente, ela a chamava de mamãe... não lembrava de sua mãe de sangue... só viu Cristina como mãe, e ela cuidava dela do mesmo jeito que os outros, não era tratada de lado, como recebendo menos carinho...
D. Afonso, vendo as crianças suas crescendo, e sempre as amando como um pai amoroso, refletiu que o maior amor do mundo é o amor que uma mãe tem pelo seu filho ou filha! Isso porque ele nem se considerava como pai, e sim, como pãe!!! (Pai com mãe?) Geralmente os filhos têm mais medo de pedir algo ou desabafar algo com o pai, que é mais sisudo, mais bravo e carrancudo... pedem mais para as mães, que são mais meigas e cedem mais, e acontecia o contrário na casa de D. Afonso! As crianças tinham menos receio dele do que de Cristina, embora ela fosse boa também... Mas ele era o exagero de amor!
A vida passou, e tanto D. Afonso como Cristina envelheceram, e D. Afonso amou Cristina também o tempo todo depois de todos os problemas anteriores que tiveram, muitas vezes reafirmou seu amor... e reafirmou com sinceridade! E os três filhos os amavam tanto, que cuidavam deles, que precisavam de cuidados... Agora, eram eles, os pais, que precisavam de serem ajudados... Estéfani I e Estéfani II se davam super bem, e até Charles que era mais bravo por natureza, temperamento forte, diferente de todos, especialmente das moças, que eram amáveis e doces, quando via seu pai na cadeira, o abraçava carinhosamente... dizendo amá-lo muito... quem dá amor, recebe amor!
D. Afonso um dia chamou seus três filhos e se despediu deles, dizendo que não tinha mais forças.
Mas que tivessem uma vida correta, diferente da dele, e que estava com dor no braço esquerdo, e sabia que não ia longe, talvez outro dia já não pudesse ver mais ninguém...
Os filhos começaram a chorar tanto, tanto, e diziam: _Está mesmo com dor forte no braço esquerdo? _Sim! Meu pai morreu assim também, e depois que sentiu muita dor assim, no dia seguinte ele não acordou mais!
Estéfani II disse uma coisa: _Papai, perder o senhor é como perder a mãe e o pai no mesmo dia! O senhor foi minha mãe, embora minha mãe que nunca conheci seja importante porque me gerou, e minha mãe verdadeira, Cristina, porque me criou, o senhor nunca bateu em mim sequer um tapa, porque vinha sempre raciocinando, conversando, e sentia remorso se pensasse em bater, mesmo que eu merecesse... Embora sei que não dei trabalho, porque tive medo de que sendo filha diferente, fosse mandada embora, mas nunca disse isso, por isso eu temia que fosse embora, mesmo que esse medo fosse irracional... Agora vejo que eu que vou embora realmente, porque sem o senhor, não sou ninguém! Por favor, não vá embora! Nem o que dizer eu sei! O que será de nós?
Estéfani I disse: _Pai, não vou chorar mais, senão o senhor vai ficar mais triste ainda, mas o mesmo sentimento de minha irmã, é igual ao meu, te amo muito! Muito! Muito! E minha irmã não vai ficar jamais sem família, como ela disse, nunca vai embora, nem para a Inglaterra, nem para lugar algum, vai ajudar nossa família sempre... Não se preocupe com isso!
E Charles, olha para seu pai e diz: _O senhor não vai partir para lugar algum, irás viver sempre aqui no meu coração, e eu vou ter filhos e vou ser como uma pãe assim como o senhor, mesmo que todo mundo diga que eu sou bravo, é só por fora sou, por dentro sou doce como o senhor, aprendi a sensibilidade... Vou cuidar bem da mamãe, que nem pode vir aqui falar alguma coisa, por estar acamada também, e ser altruísta, assim como o senhor é, e cuidarei das minhas irmãs, porque embora os vizinhos tenham falado muito que o senhor foi mau com a mamãe, eu mesmo nunca vi isso, só vi mostrar amor e amor, só isso! Se foi mau, mudou demais, nunca vi algo assim em ti! Direito teve de mudar e ultrapassar teus próprios limites no amor... Sê forte, por isso, vou passar esta noite com o senhor, nem vou dormir, vou ficar segurando tua mão a noite toda! Verás que amanhã acordarás e olharás o sol e viverás bastante ainda! Deus não esquece do amor, ele é verdadeiro Amor! Não foi isso que o senhor nos ensinou? Ele passará a cuidar de ti aonde fores, e nunca abandonará o amor, o amor que deste, sempre desde criança, que sempre vi em teus olhos e tuas palavras, e gestos, e tudo! Nunca vai ser esquecido! Minha irmã, tão doce e meiga, disse nunca ter levado tapas do senhor, mas comigo o senhor precisou um pouco, mas depois corria para o quarto chorar! Eu via isso! Ou disfarçava um olhar lacrimejante! Mesmo que disfarçasse, eu sabia... Hoje serei eu que vou dar um tapa simbólico no senhor, e dizer que estás mentindo, nunca vais morrer, sempre vais viver... por favor, fica muito mais tempo, por favor...
Daniel Afonso de Oliveira e Bragança
Dia 16 de junho de 1838
Dia 09 de janeiro de 1907
PS... Diga uma coisa: é real esta história? Sim? Não? Mas amor é amor, e demonstrado de diversas formas, o amor de um homem para com uma mulher, e vice-versa! O amor de pai e de mãe é grande. A gente aprende a amar, e quando ama nem sempre fala, expressa, talvez só sinta por dentro... palavras poderiam ser insinceras, mas o sentimento é genuíno, o coração é que sente... afinal, porém, diga que ama seu pai, sua mãe, namorado ou namorada, seus filhos, irmãos, e quem mais entrar no seu coração... para fazer parte de seu viver! E acredite, as pessoas mudam, mudam! Abraços!
A primeira vez que se viram foi na frente de uma "igreja", perto de uma bela praça toda ornada de árvores... rodeada de plantas e repleta de pessoas, que vinham todos os finais de semana, e chegavam para encontrar-se num dia de domingo... foi a ocasião inicial dos seus encontros...
Ele havia perguntado por seu nome, e tinham dado sorrisos um para o outro... certamente gostaram à primeira vista, e tinham um interesse em comum tão cedo...
Teu nome, Cristina, um nome tão bonito...
Posso te chamar de um amor profundo?
Algo tão belo de se enunciar...
Não sou nenhum poeta, mas sou o rapaz romântico...
Que pretende roubar-te o coração...
Sequestrar para sempre o teu amor de mulher...
Sempre se encontravam naquele mesmo lugar, naquela praça em que havia a igreja em frente, mostravam seu ardor dos sentimentos tão calorosos, e sentiam-se alegres no calor dos seus abraços... Agora era um verdadeiro amor para ambos, e eles se enamoravam com as emoções de se conhecerem... tudo era maravilhoso, cada dia mostrava ser um tempo de prazer... Podiam exibir-se para todos como um novo e belo casal, podiam demonstrar para os amigos que não estavam mais sozinhos...
Os pais deles já aprovaram o namoro e tudo corria bem!
Como foi bom te conhecer...
Saber que existe uma pessoa tão amável para mim...
Que me trata como um príncipe...
Que me faz parecer um rei perto de ti...
Logo nossas vidas se unirão,
Teremos uma só existência...
Desejo dar-te um anel,
E em teus dedos colocar um sinal...
De que representa sentimento puro...
Algo forte por dentro de mim...
Eles namoraram por um certo tempo, e deixaram os dias correrem, como uma carroça veloz de um torneio de cavalos, como a Maria Fumaça parecia correr veloz... As coisas iam maravilhosamente bem, e tudo era como um sonho... Só havia flores por todos os mundos, e contentamentos cobriam-nos de alegrias... A cada encontro, agora já em suas casas, e em outros locais, era um dia de ansiedade, e como esperavam o próximo encontrar-se... era como satisfazer uma necessidade da alma, um querer intenso do coração... Só quem está apaixonado sabe o que isto significa para o coração, e sente a ansiedade de encontros novos e novos, sempre é novidade!
Cada vez mais me entusiasmo por ti,
Constantemente aumenta o que sinto...
Sou um homem privilegiado...
Tenho meus vinte e dois anos...
Mas já sou uma pessoa realizada...
Sou jovem como tu és,
Com teus dezenove aninhos...
És uma flor das orquídeas mais atraentes...
Como as pétalas das lindas rosas...
És como as pinturas clássicas e do barroco...
Semelhante às grandes obras de arte...
Não consigo mais viver longe de ti...
E não morar junto de ti me agoniza...
Vamos juntar nossos corações em harmonia...
Fazer o canto do pássaro ser um só...
Anseio o que todo rapaz anela...
Querer a mão da sua donzela...
Em matrimônio honrado por todos...
Casar-me contigo para viver feliz...
Para sempre...
Eternamente...
Como Cristina ficou feliz com este pedido, e era aquilo que ela tanto queria também... Já se conheciam bem, e seu namoro era muito bom... Não precisava mais conhecer o íntimo daquele moço, nem ficar questionando suas aventuras antigas... Ele era seu par perfeito, era o complemento ideal para ela... E ela dormia tão feliz em seu leito, sonhando com as felicidades mais deliradas...
Como sou feliz...
Sou a moça dos privilégios reais...
Pois tenho um amor sem fim...
Algo que durará para todo o sempre...
Quanto sou alegre com a vida...
Torno-me como a Eva que foi dada a Adão...
Possuo o valor de um sentimento nobre...
A nobreza de um ardor forte...
Sei como tanta gente sofre...
Mas eu sou o contrário...
Reconheço tantas coisas duras nesta existência...
Mas só enxergo um mar-de-rosas...
Vou entregar-me de vez a um amor bem sublime...
Irei amarrar-me nos grilhões das emoções...
Ambos eram muito apaixonados um pelo outro, e os dois tinham uma paixão de adolescente... Davam presentes um ao outro, e as dádivas eram frequentes, um perfume vindo da França, um doce que a mãe de um deles preparou, qualquer lembrancinha era bem-vinda, como um tesouro a ser guardado em sete chaves, num cofre de metal maciço... escreviam cartas, mesmo morando na mesma cidade!!!! Entregando pessoalmente as cartas, nem correio precisavam, com cavaleiros que levavam a outras cidades...
O amor de Cristina por ele era maravilhoso, nunca sequer olhava para outrem... e o sentir dela era fortíssimo como o ferro fundido, e jamais flertava com mais ninguém... As mulheres quando amam não traem seus amores, e quando sentem uma coisa intensa não fazem nada prejudicial... Outros rapazes tentavam dizer que ela era tão bonita!
Que o D. Afonso era namorador, não merecia seu amor!
Suas amigas diziam que marido é para escravidão, e mulher sofre muito, mas como era duro ficar sem um Adão!
Casaram-se finalmente, depois de terem feito todos os preparativos, e seu matrimônio foi muito lindo, depois que ajuntaram seus pertences numa vida apenas... numa família nova, uma que era feliz... Viviam muito bem, com risos verdadeiros em suas bocas, e toda manhã sorriam um para o outro... Passeavam ainda, e o romantismo não havia se extinguido... Falavam mil juras de amor, cobriam de carinho para jamais sentir o frio das agonias, nem sentir o amargo da ausência do doce dos sentimentos mais admiráveis...
Os anos se passaram, e ela jamais percebeu alguma mudança em seu marido... o tempo não revelou nenhum traço de aborrecimento... Ele não ficava cobrando nada dela, ela fazia todos os deveres de casa com carinho e prestimosidade... Não havia brigas entre eles, e davam-se tão bem... nunca ela iria imaginar uma traição, nem sonhar com uma deslealdade... Havia a segurança de um casamento feliz, não existiam motivos para desesperos... e ela estava agora grávida de alguns meses... estava gestante de uma filha de ambos (embora ainda ela não soubesse que seria uma filha ou filho)... o fruto de um amor adorável, um amor que se prometeu ser para o sempiterno...
Contudo, alguns homens (e às vezes algumas mulheres) esquecem-se rapidamente de tudo que deixaram fiança, e seus compromissos são deixados no escuro... Tudo de maravilhoso que se expressou é abandonado, como um desprezo do passado, como algo bom que durou, mas que acabou... Assim, num dia inesperado, num momento sem igual, apareceu ele contando sem jeito sobre o que pretendia fazer, e lastimando-se dizia para ela como se sentia:
Tu és boa, adoro tua pessoa...
És uma mulher e tanto.
Sabes como te aprecio...
Mas estou a encontrar-me com outra...
Uma senhorita de outro país...
Não uma portuguesa,
Mas uma que é inglesa,
Seu nome é Charlotte...
Este é seu nome...
Ela visitou aqui, nossa cidade,
E mostrou um interesse em mim...
Eu disse ser casado,
Mas ela insistiu,
E sendo tão linda, eu não resisti ao encanto...
Vejo nela algo tão novo,
Uma coisa diferente...
Não sei explicar como tudo aconteceu...
Nem posso dizer o que há comigo...
Mas tu és cheia de qualidades e me amas...
Saberás entender o meu abandono...
Compreenderás a minha aventura...
O coração é traiçoeiro...
Ele nos guia a desertos da vida...
O sentimento é um ser enganado...
Ele nos tortura por dentro...
Isso tudo foi um gesto inesperado, uma atitude repentina demais... Como poderia sair de casa e ficar com outra, num momento em que ela estava esperando um novo ser em seu ventre? Como poderia largar seu próprio sangue, seu próprio fruto... Uma dor subiu no coração de Cristina, um aperto no peito lhe comoveu... havia suas lágrimas, como gotas da chuva, como a cachoeira que não desiste de cair... Refletindo sozinha:
Que coisa talvez eu tenha feito?
Qual a culpa minha nesta história?
Será que fui perversa de algum modo?
Fui amarga em algum momento?
Não demonstrei amor genuíno?
Fui crítica em excesso como o gotejar de uma casa?
Não, mas fui afável como o mel,
Como o néctar das abelhas...
Lavei tantas roupas dele...
Quantas vezes matei a sua fome...
O amor me preencheu sempre...
E eu sorria para o irracional do sentir...
Não há razão no amor...
Ele vem e depois vai embora...
Parece que dura pouco...
Como uma chama incandescente de uma fogueira,
As brasas vão se chamuscando...
Minha mãe bem me alertou que seu amor acabara com meu pai,
E que as mulheres é que ficam ressentidas!
São maltratadas, são escravizadas,
Mas eu não fui rejeitada jamais!
E tudo que fiz foi por amor!
Trabalhei no lar, fiz mil coisas,
Tudo em carinho e dedicação...
Não mereço ser tratada assim!
Realmente ele foi morar com a inglesa, e juntou-se com uma pessoa estrangeira, na ilha que fica ao lado... Pareciam felizes, mostravam-se satisfeitos... e ele não nutria nenhum remorso pela perda de um casamento de alguns anos, e não refletia dúvidas sobre um relacionamento de anos de duração, nem pensava direito no nenê que viria, nem se importava com a criança do seu sangue próprio... alguém que iria crescer sem seu pai, uma pessoa que não viveria nas ternuras de um agrado paterno...
Entretanto, um coração duro como tal não poderia viver feliz muito tempo, pois não existe absolutamente felicidade para caráter degradado... Não há paz para os maus (disse-me a voz do livro!) e que espaço haveria para alegria num ser insensível... Os defeitos de ambos foram caindo em terra, como se sucumbindo ao chão... Logo a mulher inglesa observou tamanhas fajutices, olhou para aquilo que não era mais perfeito como antes... Diziam que as moças inglesas eram mais exigentes, e isso estava em pleno acordo com Charlotte... D. Afonso fazia o que Cristina fazia com ele, demonstrou mais amor, e Charlotte se decepcionou, e mostrou menos amor!
Assim, depois de um ano juntos, separaram-se e não mostrou haver força nos amantes... Não era amor verdadeiro, nem propunha ser algo eterno... Era uma aventura de alguém que deixou seu coração vaguear... um romance oculto a princípio que virou em tragédia familiar... A família de Charlotte era crítica ao extremo, e exigia que se continuassem juntos, teriam de se casar oficialmente... mas D. Afonso já fora casado pela igreja, e isto era difícil... embora as igrejas eram diferentes, lá em Portugal a Católica, e na Grã Bretanha, o Anglicano... Ele se sentia mal se fizesse votos de novo... E Charlotte ficou irada... pela exigência de sua mãe, ela tinha uma difamação pelas redondezas, e isso custava caro para ela...
No fim, os três ficaram sem ninguém, como um amor verdadeiro, e Cristina ainda pedia para o retorno daquele que era seu amor sem fim, e lembrava de músicas que marcaram sua época, e quando escutava na praça, só punha a chorar, agora com sua filhinha no colo, e o rapaz nunca tinha sequer visto a filhinha! Que insensibilidade! Filhos não são produtos, são seres humanos, são sangue do nosso sangue, e merecem amor e carinho, atenção, e serem amados é o primeiro direito deles... Então, Cristina soube do desastre do seu ex-marido, e pediu seu retorno, não por questões financeiras, porque ela tinha tudo de bom agora e seus pais eram abastados, nem havia pensão alimentícia naqueles tempos!!! E era para reiniciar um novo casamento... mas é difícil não deixar cicatrizes... o rapaz não amava mais Cristina, amava Charlotte, que o abandonara também, merecidamente, e chorava por Charlotte... Ser rejeitado dói, é uma ferida aberta dura de cicatrizar realmente... Contudo, voltou para Portugal, cidade do Porto agora, e pela primeira vez viu sua filhinha, e nem mostrou muita consideração a princípio... Ela já tinha um ano e seis meses, era uma menininha linda, de olhos verdes, e loirinha, chamada de Estefani Cristine, e ele aceitou morar lá com Cristina, pois sabia como ela o amava, mas quando um ama demais, o outro ama de menos...
Charlotte mandou uma carta para ele (Daniel Afonso), e falou que estava grávida dele também, só agora percebeu, e ele poderia voltar, porque não queria um filho sem pai... mas disse que não o amava mais... mas estava disposta a viver com ele só para criar o filho que eles teriam... Ele ficou pensativo, e machucou ouvir que não era mesmo mais amado... e que só por causa do filho ou filha tinha que assumir um novo casamento... Olhou para Cristina, e ficou admirando-a ... compreendeu como ela sofreu, e caiu em si, e disse:
Cristina, um amor como o teu,
Sempre constante, mesmo eu tendo caído,
E ainda que eu escorregasse na vida...
Falhado com você depois de um tempo...
No começo era perfeito....
Depois arrefeceu em mim, também não sei que culpa tenho...
O coração é meio maluco...
Dizem que ele é traiçoeiro...
Já sabes como não te mereço...
E como fiz tanta tolice...
Nem pai eu me senti, nem me mostrei assim...
Mas depois que vi e revi os olhos da filhinha nossa,
Verdes como os meus, cabelos loiros como os meus...
Eu vi um reflexo de mim mesmo...
Olhei para um pedaço de mim...
E não sabes que chorei uma noite toda,
Lamentando ser tão insensível...
Acho que amaste tanto, deste tanto de si,
Que por isso, não consegui devolver carinho,
Parecia que eu não era capaz de retribuir,
Tens muitas qualidades...
Teu amor não pode ser esquecido...
Sabes bem da Charlotte, que ela tem um filho no ventre,
Que ela diz ser meu, e com certeza é,
Senão ela nem me buscaria...
Estou tão confuso, tão estonteado...
Estou vendo que não fui educado para o amor!
Deveria haver uma educação para se amar...
E o que faço agora?
Apreciarei tua opinião...
Respeitarei tua decisão,
E só abaixarei meu olhar, ao ser censurado!
Cristina, já sabendo da situação, e amando ainda seu amado, querendo seu casamento de volta, não lança críticas duras contra D. Afonso, mas diz como ele vagueou por aí, e decepcionou como marido, mas assim mesmo, ela o amava, e que a decisão só era dele, o que ela poderia dizer? Não seria ela que escolheria sua vida, suas diretrizes, e que fizesse o que o coração mandasse!
D. Afonso, entrou em contato com Charlotte, e disse, se não há amor, não há casamento, nem relacionamento, o filho ou filha ele disse que iria ver, e dar dele para sua prole... queria ver o filho, e dar muitos presentes, e visitar sempre que pudesse... mas ficaria com Cristina, sua primeira mulher, e aprenderia a amá-la novamente, como amava antes, porque quando recebe amor, é mais gostoso dar de volta, e estava começando a sentir o que havia perdido... que não era preciso ser como era antes, que só o carinho, a preocupação, a cumplicidade, tudo valia mais que falta de amor ainda, e que o amor de Cristina era merecedor de elogios! Sem amor, sem nada, nada! Não poderia voltar com Charlotte... que ela procurasse alguém que ela amasse de verdade, que ela amasse, mas não me amasse mais, porque eu me tornaria chato! E realmente fosse feliz com outro, que seria um amor de sua vida verdadeiro, pois sem amor, não há razão para nada...
D. Afonso começou amar sua filhinha, só depois que passou a conviver com ela, e como ela parecia com ele realmente... O amor de Cristina era tanto, ela temia tanto perdê-lo de novo, que o agradava a todo o momento... assim como fazia antes, e não guardou ressentimentos, pelo contrário, mostrava mais amor ainda... D. Afonso, por fim, um dia disse espontaneamente, sem perceber, como amava Cristina... Nem ele percebeu que disse isso em meio a muitas palavras, e ela escutou e gostou muito, e sentiu que o amor dela não era em vão... que estava reconquistando seu amado, com bondade, sem brigas, sem críticas, só com respeito e carinho verdadeiro... ela sempre o amou de verdade... não porque foi rejeitada, nem nada, mas porque amava mesmo, era de coração, poucos sentem isso por muito tempo e aceitam defeitos, mas ela era uma mulher valente, persistiu em ganhar o amor do seu querido... e diziam que ele não era lindo!!! Talvez só ela visse isso nele! Até Charlotte um dia bem anterior disse: como és feio!
Cristina guardava dentro de si ainda uma dor: Será que D. Afonso ainda sentia paixão por Charlotte ocultamente, bem lá dentro do coração? Especialmente quando nasceu o bebê de Charlotte e ele quis ver a filha, viajar para a Inglaterra... Cristina ficou desesperada! Muito desesperada! Ele iria viajar e talvez nem voltasse mais! Talvez a outra filha o conquiste, nem pela Charlotte, mas pela menininha que ele nem conhece ainda... nem o nome sabe, nem a aparência...
Ao chegar numa cidade pequena da Inglaterra, onde Charlotte morava, foi à casa dela, como combinado... olhou para a neném, tão lindinha também, crianças sempre são lindas! E começou a chorar tanto, tanto, que Charlotte deu um copo de água para ele.
Charlotte estava meio convalescente, e não estava disposta a brigar, e apenas queria que D. Afonso assumisse a paternidade, para o registro não ficar sem pai, porque eles não eram casados, e naquela época isso era horrível depois para a menina, então, queria que pelo menos assumisse a paternidade, por isso o chamou...
Naquele tempo não havia ainda muitos meios de saber por algum exame de quem era o filho, e não havia meios de constatar, mas a menina de olhos verdes também, não por isso, mas ele sabia que era dele mesmo... na verdade, nem obrigado a registrar a menina era... e foi pôr seu sobrenome na menina na igreja...
Naquele tempo era na igreja que se registrava... Perguntou se ela pôs um nome na menina, se ele poderia escolher... ela disse que sim, que ele poderia escolher o nome dela... Então, foi colocado o nome de Estefani Cristine II ...
Charlote não gostou, mas já tinha sido registrada... e D. Afonso foi embora para Portugal, com dor no coração, por causa de que pensou, que filhos são mais preciosos que qualquer amor do mundo! Era como se ele deixasse de ser um apaixonado pela Charlotte, por Cristina, e se apaixonasse em ser pai! Coisas mudavam! Tudo muda afinal! O mundo gira continuamente!
Quando chegou em seu lar, viu novamente Estéfani Cristine, e disse: te amo, meu amor! Sou teu papai, e quando ver você todos os dias, vou lembrar que uma semente minha, igual a você, ficou lá na Inglaterra... igual a você... mas outra pessoa, outra linda pessoa... mas amada tanto quanto você!
Esse sentimento paterno despertou em D. Afonso de um dia para o outro, ou talvez tenha sido aos poucos? Ele nunca soube o valor de ser pai, nunca se deu a prezar por isso, só por ver as crianças, ele se deu conta que o sexo produz gente, que não é só o prazer do momento, que nascem pessoas, que devem ser cuidadas com carinho... e só lastimava que isso era um lamento forte em si, por não poder viver junto com as duas filhinhas! Uma em Portugal, com ele, e outra longe, na Inglaterra...
Charlotte não era uma mãe excelente, era boa mãe sim, mãe, não totalmente, mas queria sair, divertir-se em danças, paquerar, e muitas vezes sua mãe era dura, e não ficava cuidando de sua filhinha... Charlotte queria namorar, mas sendo mãe solteira, era mal vista, e os rapazes desprezavam-na... Nenhum rapaz queria assumir e criar a filha de outrem... Era como se sua filha fosse um fardo agora, e ela foi percebendo aos poucos, apesar do sentimento natural de mãe, era jovem, e jovem nem sempre é madura... não pensa de forma adulta...
D. Afonso foi visitar sua filhinha na Inglaterra depois de algum tempo, e ver sua lindinha, e desta vez viajou com sua primeira filha, que já estava mais grandinha... Só Cristina não foi, porque não teria onde ficar lá, visto que era a casa de Charlotte... não havia hotel na cidade... e não era apropriado ela ir...
E poderia dar briga ou problema, então decidiram que ela ficaria esperando, e deixou D. Afonso levar o que ela mesma percebeu, que ele amava mais a menina do que ela! Tinha um pouco até de ciúmes da filha! E, ao mesmo tempo, achava isso bonito.
Ao chegar, Charlotte estava meio emburrada com D. Afonso. Falou que ele era culpado pela infelicidade dela! Que por causa da filha deles, ela não podia sair de casa, que não podia mais namorar, e que perdeu muita coisa com isso! Que fardo você me deixou! Nunca esqueça disso!
D. Afonso disse então: Dá a filhinha para mim, e eu cuidarei dela, e você poderá namorar, ser solteira de novo, sair para bailes, e ninguém vai cuidar da menininha aqui! Arriscou um pedido forte...
Charlotte pensou um pouco, e perguntou à sua mãe e ao seu pai o que achavam de deixar a filhinha ir para Portugal, e eles visitarem somente de vez em quando... Os pais não concordaram... de jeito algum... mãe é mãe, você tem que cuidar o resto da vida!
Quando os pais dela disseram essa expressão: o resto da vida! Ela ficou doida! O resto da vida assim! Vocês não cuidam dela, só eu, e vou viver sem diversão a vida inteira? E disse a D. Afonso:_Leve-a sim, mas cuide bem dela, e deixe-me visitá-la sempre que eu puder e quiser... tudo bem? Te dou a certidão de nascimento! Pode levar! Fale a ela que sou sua mãe, e que ela tem sangue inglês!
D. Afonso, feliz, diz: _Claro, sempre que quiser, pode dormir em minha casa por muitos dias, visitando sua filhinha, que eu sou mais mãe, por assim dizer, do que você!
D. Afonso, ficou preocupado com a opinião de Cristina, sua mulher. Se ela ajudaria cuidar de um neném de um ano de idade, sendo que sua filha mais velha já tinha mais idade, e teria que uma mulher como ela ajudar muito, e se sacrificar em criar uma criança que nem era sua... Mesmo assim, voltaram para Portugal, os três... Qual seria a reação de Cristina? Não fora consultada sobre a decisão de uma nova criança na casa!
Mas ao chegarem, ela ficou radiante, ela era mãe também, e entendeu sem que ele dissesse algo... percebeu porque ele falava tanto de sua outra filha, como se desse amor em dobro à primeira filha em compensação por estar longe da outra! Por isso, não precisava explicar nada... Era filha dele! O sentimento de mãe tocou Cristina, ao ver uma neném tão bela! Tinha um ano apenas, era até parecida com sua filha legítima, lembrava bastante sua filha quando mais novinha! Encantou-se!
Ele disse a Cristina: _Tudo bem?
_Sim! Como se fosse minha própria!
Com o tempo, Cristina ficou grávida de novo, e desta vez teve um menino... Puseram o nome dele de Charles, não por causa da Charlotte, que nem mãe dele era, mas para lembrar como a família havia se misturado! Coisa de gente de longe, que pensa em suas peculiaridades... Talvez para que quando Estéfani II estivesse maior soubesse a verdade e que sua mãe estava ali no olhar do novo irmãozinho! Talvez ele cuidasse com carinho de sua irmã, no lugar de Charlotte, um dia, quando precisasse...
Charlotte nunca visitou sua filhinha crescendo, desapareceu da vida deles... talvez temesse que sua filha quisesse voltar com ela, ou por que ela casou-se e o marido não deixava, ou mentiu nunca ter filha alguma... alguma coisa houve! Não se sabia a razão, nem D. Afonso mandou sequer uma carta... nem ela... e a mãe que Estéfani II conhecia era Cristina... Naturalmente, ela a chamava de mamãe... não lembrava de sua mãe de sangue... só viu Cristina como mãe, e ela cuidava dela do mesmo jeito que os outros, não era tratada de lado, como recebendo menos carinho...
D. Afonso, vendo as crianças suas crescendo, e sempre as amando como um pai amoroso, refletiu que o maior amor do mundo é o amor que uma mãe tem pelo seu filho ou filha! Isso porque ele nem se considerava como pai, e sim, como pãe!!! (Pai com mãe?) Geralmente os filhos têm mais medo de pedir algo ou desabafar algo com o pai, que é mais sisudo, mais bravo e carrancudo... pedem mais para as mães, que são mais meigas e cedem mais, e acontecia o contrário na casa de D. Afonso! As crianças tinham menos receio dele do que de Cristina, embora ela fosse boa também... Mas ele era o exagero de amor!
A vida passou, e tanto D. Afonso como Cristina envelheceram, e D. Afonso amou Cristina também o tempo todo depois de todos os problemas anteriores que tiveram, muitas vezes reafirmou seu amor... e reafirmou com sinceridade! E os três filhos os amavam tanto, que cuidavam deles, que precisavam de cuidados... Agora, eram eles, os pais, que precisavam de serem ajudados... Estéfani I e Estéfani II se davam super bem, e até Charles que era mais bravo por natureza, temperamento forte, diferente de todos, especialmente das moças, que eram amáveis e doces, quando via seu pai na cadeira, o abraçava carinhosamente... dizendo amá-lo muito... quem dá amor, recebe amor!
D. Afonso um dia chamou seus três filhos e se despediu deles, dizendo que não tinha mais forças.
Mas que tivessem uma vida correta, diferente da dele, e que estava com dor no braço esquerdo, e sabia que não ia longe, talvez outro dia já não pudesse ver mais ninguém...
Os filhos começaram a chorar tanto, tanto, e diziam: _Está mesmo com dor forte no braço esquerdo? _Sim! Meu pai morreu assim também, e depois que sentiu muita dor assim, no dia seguinte ele não acordou mais!
Estéfani II disse uma coisa: _Papai, perder o senhor é como perder a mãe e o pai no mesmo dia! O senhor foi minha mãe, embora minha mãe que nunca conheci seja importante porque me gerou, e minha mãe verdadeira, Cristina, porque me criou, o senhor nunca bateu em mim sequer um tapa, porque vinha sempre raciocinando, conversando, e sentia remorso se pensasse em bater, mesmo que eu merecesse... Embora sei que não dei trabalho, porque tive medo de que sendo filha diferente, fosse mandada embora, mas nunca disse isso, por isso eu temia que fosse embora, mesmo que esse medo fosse irracional... Agora vejo que eu que vou embora realmente, porque sem o senhor, não sou ninguém! Por favor, não vá embora! Nem o que dizer eu sei! O que será de nós?
Estéfani I disse: _Pai, não vou chorar mais, senão o senhor vai ficar mais triste ainda, mas o mesmo sentimento de minha irmã, é igual ao meu, te amo muito! Muito! Muito! E minha irmã não vai ficar jamais sem família, como ela disse, nunca vai embora, nem para a Inglaterra, nem para lugar algum, vai ajudar nossa família sempre... Não se preocupe com isso!
E Charles, olha para seu pai e diz: _O senhor não vai partir para lugar algum, irás viver sempre aqui no meu coração, e eu vou ter filhos e vou ser como uma pãe assim como o senhor, mesmo que todo mundo diga que eu sou bravo, é só por fora sou, por dentro sou doce como o senhor, aprendi a sensibilidade... Vou cuidar bem da mamãe, que nem pode vir aqui falar alguma coisa, por estar acamada também, e ser altruísta, assim como o senhor é, e cuidarei das minhas irmãs, porque embora os vizinhos tenham falado muito que o senhor foi mau com a mamãe, eu mesmo nunca vi isso, só vi mostrar amor e amor, só isso! Se foi mau, mudou demais, nunca vi algo assim em ti! Direito teve de mudar e ultrapassar teus próprios limites no amor... Sê forte, por isso, vou passar esta noite com o senhor, nem vou dormir, vou ficar segurando tua mão a noite toda! Verás que amanhã acordarás e olharás o sol e viverás bastante ainda! Deus não esquece do amor, ele é verdadeiro Amor! Não foi isso que o senhor nos ensinou? Ele passará a cuidar de ti aonde fores, e nunca abandonará o amor, o amor que deste, sempre desde criança, que sempre vi em teus olhos e tuas palavras, e gestos, e tudo! Nunca vai ser esquecido! Minha irmã, tão doce e meiga, disse nunca ter levado tapas do senhor, mas comigo o senhor precisou um pouco, mas depois corria para o quarto chorar! Eu via isso! Ou disfarçava um olhar lacrimejante! Mesmo que disfarçasse, eu sabia... Hoje serei eu que vou dar um tapa simbólico no senhor, e dizer que estás mentindo, nunca vais morrer, sempre vais viver... por favor, fica muito mais tempo, por favor...
Daniel Afonso de Oliveira e Bragança
Dia 16 de junho de 1838
Dia 09 de janeiro de 1907
PS... Diga uma coisa: é real esta história? Sim? Não? Mas amor é amor, e demonstrado de diversas formas, o amor de um homem para com uma mulher, e vice-versa! O amor de pai e de mãe é grande. A gente aprende a amar, e quando ama nem sempre fala, expressa, talvez só sinta por dentro... palavras poderiam ser insinceras, mas o sentimento é genuíno, o coração é que sente... afinal, porém, diga que ama seu pai, sua mãe, namorado ou namorada, seus filhos, irmãos, e quem mais entrar no seu coração... para fazer parte de seu viver! E acredite, as pessoas mudam, mudam! Abraços!