Morte lenta

Como poderia ser rápido se eu queria tudo. Tudo é completude. É cósmico. É, como diriam os orientais, tântrico. A sonoridade das palavras fazem os corpos se abrirem e os pelos apontarem para o céu, quase num pedido profano pela benção dos deuses ou pelo perdão talvez. As palavras vão ganhando a cor das coisas vermelhas, róseas, rubras, carmim. Palavras que deliram e saem numa profusão quase desmedida e cheia de sabores, cheiros, sons, veludos e lonas. Poros abertos que chamejam e cospem no ar um cheiro de teor ímpar na cadeia dos aromas... é doce e salgado lágrima e suave sândalo e alegre lírio e macio pêssego e azedo umbu e arenoso sapoti, é um cheiro entre os cheiros, é o cheiro. Hálito quente que escorre mole pelo corpo tenso e solto, molhado hálito que condensa em bolhas de cristal nas cavidades do corpo nu. Hálito que compõe a identidade maior dos rumores e sussurros delirantes, rosto-boca boca-rosto, bocas procuradas e não achadas a propósito da busca da busca da buscaaaah... pernas cruzadas acumulando suores nas cochas quentes e costas suadas a escorrer ou umedecer as palmas das mãos, que buscam espalmadas, um lugar que seja mais e mais querido pelo outro. As palavras calam e se transformam em murmúrios entendidos como prece... que não se apresse. Um pescoço campo vasto sem limite e sem pudor esguio e quente, suores e tremores temperatura que salta em convulsão molhando o corpo febril e deixando a alma cozinhada na pressão do outro que pulsa. A mão descobre os esconderijos – rijos - e cavidades – cavas. Vibrações e convulsões. A boca acha o canto. A boca acha, acha, acha... um beijo se faz maior, um toque se faz maior e nesse momento o mundo não tem a mesma proporção de uma caixinha de chicletes. Os corpos se exaurem numa exploração sagaz e ladra, o ócio, o suor que esfria, lençóis malhados de prazer, os corpos mortos de se darem!

adeilsonsousa
Enviado por adeilsonsousa em 25/03/2010
Código do texto: T2159431
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