meu amor que não é meu - II
Quando desci do carro em frente ao Rapinas bar, senti que não deveria fazer aquilo. Aquela escolha poderia implicar em mais 4 anos sem vê-lo.
Fingi uma dor de cabeça e pedi a um dos rapazes que me levasse de volta à casa de minha avó. Gentilmente ele me fez esse favor, e quando desci ainda me desejou melhoras. Realmente ter amigos é uma riqueza.
Desci do carro sob os olhares de todos que estavam na festa na casa de meus avós. Caminhei até meus pais e justifiquei que havia voltado porque estava com dor de cabeça. Apesar da suposta dor de cabeça, fiquei no terraço observando a festa acontecendo.
Ele se aproximou de mim, sem que eu pudesse vê-lo, mas notei os olhares de todos de repente se voltarem para nós.
- porque você voltou?
- você sabe por que eu voltei.
-se voltaria mesmo, por que foi embora?
-eu sinto que não deveria ter voltado. Voltei por sua causa. Mas do que vai adiantar?
- estamos aqui não estamos? Juntos outra vez?
Respirei fundo, nossos corpos agiam como imãs, querendo se aproximar, e nossas consciências não permitiam isso por um motivo:
- você sabe que não podemos... Somos primos.
-então é isso? É por isso que você me evitou, por isso que você foi embora? Porque somos primos? Eu não ligo para o fato de sermos primos...
- nossa família liga.
De repente sob os olhares de todos na festa, ele me abraçou e me deu um beijo. Então eu entendi: não éramos mais crianças, não precisávamos da permissão da nossa família para nada. Nada mais de beijinhos roubados no portão do jardim.
Ele me olhou e nós não ligávamos para as caras atônitas dos nossos familiares.
- eu trouxe a minha irmã na moto.
- e daí? – perguntei com interesse.
- tem dois capacetes...
Sorri pra ele, entendendo logo. Saímos do jardim de mãos dadas, subimos na moto e fomos embora. Para longe da festa, para longe dos rostos atônitos de nossos pais, para longe das críticas de todos. Fomos embora sorrindo.