meu amor que não é meu

Ela desceu do carro do pai, não era um carro de luxo, mas quando ela desceu do carro todos olharam para ver quem era. Logo reconheceram, era uma festa de família, ela era uma das netas mais jovens. Desceu do carro e foi direto para a avó, deu-lhe um beijo no rosto, falou qualquer coisa e entrou na casa. estavam todos no jardim, tomei um gole da minha vodka com tônica, não pude resistir e fui atrás dela.

Ela estava diferente, muito diferente. Da ultima vez que nos vimos ela era uma meninota adolescente. Ela ainda era jovem, mas era quase adulta. Eu sabia que ela se dera muito bem na vida, que ela agora frequentava os lugares mais caros, dentro dos carros mais caros com as pessoas mais caras. E ela merecia. Falava três línguas diferentes, estudou muito e tinha, antes dos vinte anos, encontrado o sucesso.

Encontrei-a na cozinha preparando alguma bebida. Uva, sprite, leite condensado e dois pinguinhos de vodka. Virou de frente para mim. Usava uma calça de grife, um sapato com um salto alto muito fino, uma blusa cara. Não era mais ela. Ela que corria descalça, os cabelos ao vento.

- Tudo bom? Meu deus! Quanto tempo!- ela me cumprimentou com um aperto de mão delicado.

- Muito tempo mesmo, quatro anos?

- Acho que sim!- silencio- Como você está?

- Estou bem, trabalhando com o meu pai. E você?

- terminando a faculdade. Quero dizer, "terminando" não. Falta algum tempo. E trabalhando também. Numa agencia de turismo.

Eu sabia a agencia mais elegante. Que só trabalhava com vôos executivos.

- O que te fez vir passar o natal com a família?

- Não vou ficar muito tempo. Meus amigos vêm me buscar, vou à outra festa.

- Na casa de alguém?

- Não... No Rapinas.

O Rapinas bar era simplesmente o bar mais cool da cidade, frequentado por uma pequena parcela da população, e a festa a qual ela iria era o Natal Rapinas, uma festa realizada todos os anos, só para convidados.

- Legal! - eu disse com pouca convicção.

- Você está noivo?- ela perguntou encarando com interesse a aliança que eu ganhara há algum tempo de uma ex-namorada e sempre usava.

- Não. Não estou não.

- Bom, eu vou ver meus pais. Já é quase meia-noite, daqui à pouco meus amigos vem. Foi bom te ver.

Dei um gole na vodka. Não era mais ela. Fiquei ali um tempo lembrando de quando a gente se paquerava na adolescência. Todo mundo notava que eu gostava dela. E ela também gostava de mim. Eu tinha que fazer alguma coisa, ela não podia ficar no passado. Lembrei do beijo roubado no portão do jardim, foi a última vez que a vi. Desde então ficamos quatro anos sem sequer nos ver.

Me senti um idiota. Voltei para a mesa dos meus pais. Minha irmã havia notado. Ela começou a falar que eu não devia desistir que meus olhos b rilhavam e esse tipo de coisa. Em reposta esvaziei a taça de vodka com tônica.

Meia-noite e quinze, dois carros de luxo pararam na frente da residência, ela cumprimentou a todos, e veio até mim. Fiquei de pé e apertei a mão dela. Olhei bem fundo nos olhos, ela sentia o mesmo que eu, talvez até mais forte. Mas ela já não era minha.

Se talvez não tivéssemos ficado tanto tempo longe um do outro... Se talvez ela continuasse a mesma... Se talvez qualquer coisa...

Ela se afastou seguindo para os carros, alguns jovens bem vestidos desceram e a cumprimentaram, algumas moças lindas também falaram com ela. Ela entrou em um dos carros, e eu peguei outra taça de vodka. Sabendo que só o que teria seria a lembrança de um único beijo. E só.

CONTINUA

Karine Maria Lima
Enviado por Karine Maria Lima em 06/03/2010
Reeditado em 11/03/2010
Código do texto: T2124034
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