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A MULHER SEM CORAÇÃO...
Todos perceberam a drástica mudança no comportamento e no humor daquela mulher. Havia muitos dias que se fechara para as conversas que tanto amava. Antes atenta, agora é vista assim, dispersiva, divagando introspectivamente.
Ela que possuía riso fácil e que expressava energia em gestos elétricos do corpo em pulsante e contagiante alegria que trazia em si, encontrava-se naquele marasmo de causar compaixão.
Quem a encontrava nos últimos dias precisava falar-lhe duas ou três vezes para obter um fiapo da sua atenção. Distraída como que fora de órbita. Olhar fixo em algum ponto que lhe era precioso à procura de algo igualmente caro.
Sempre que a via, causava-me comoção. Tudo nela estava mudado. O jeito. As vestes. A aura. Quisera entender o motivo de tamanha transformação. Para onde teriam ido os sorrisos constantes. Os olhares brilhantes e alegres de mil diamantes. A fala adocicada e melodiosa. A empolgação de tantas andorinhas que fazia de um simples fato a mais alucinante das histórias encantadas?
Não queria parecer-lhe indelicada ou ser vista como uma curiosa qualquer, mas eu precisava descobrir a razão do silêncio forçado, do sorriso desfeito, dos sonhos interrompidos e da boca emudecida que tomaram conta da sua vida.
Maior do que minhas interrogações era o desejo em lhe ajudar. Foi o que me moveu aproximar-me da mulher. Um tanto sem jeito e um leve tremor na fala, dei quase uma inaudível “boa tarde”. Para minha admiração ela me olhou sem qualquer expressão de fúria ou desprezo. Havia sim em sua face a mesma expressão de insegurança e dúvida que eu tinha naquela hora.
Ambas estávamos receosas com a atitude da outra. Eu não sabia o que perguntar. Ela, o que responder. Depois de grande silêncio que me congelou a alma, a mulher outra vez me fitou. Desta vez mais pausadamente como que analisando em meus olhos as perguntas que a boca não ousou fazer.
Balançando a cabeça afirmativamente, sinalizando consentimento e aceitação em satisfazer minhas questões, finalmente falou:
- Quando se foi no adeus comprido, daqueles que sabemos sem chance de ver outra vez, ele levou de mim meu sorriso, meu canto e a claridade dos meus dias. Descolori. Emudeci. Já quase não existo... Era o que esperava entender, não era minha jovem?
A voz ainda era doce, embora a amargura sufocasse qualquer vestígio de contentamento. É! Ela estava certa. Em poucos minutos, sem qualquer pergunta, obtive todas as respostas que sanaram minhas inquietações.
Eu havia desvendado o mistério que assombrava a triste mulher. Pude perceber com minha intuição feminina e, talvez, ela sequer tenha desconfiado o motivo de se encontrar naquela solidão sem esperanças. É que mais do que risos, brilhos e sonhos, o homem amado havia levado junto para onde partiu, o coração daquela mulher, deixando-a com o vazio na alma...
A MULHER SEM CORAÇÃO...
Todos perceberam a drástica mudança no comportamento e no humor daquela mulher. Havia muitos dias que se fechara para as conversas que tanto amava. Antes atenta, agora é vista assim, dispersiva, divagando introspectivamente.
Ela que possuía riso fácil e que expressava energia em gestos elétricos do corpo em pulsante e contagiante alegria que trazia em si, encontrava-se naquele marasmo de causar compaixão.
Quem a encontrava nos últimos dias precisava falar-lhe duas ou três vezes para obter um fiapo da sua atenção. Distraída como que fora de órbita. Olhar fixo em algum ponto que lhe era precioso à procura de algo igualmente caro.
Sempre que a via, causava-me comoção. Tudo nela estava mudado. O jeito. As vestes. A aura. Quisera entender o motivo de tamanha transformação. Para onde teriam ido os sorrisos constantes. Os olhares brilhantes e alegres de mil diamantes. A fala adocicada e melodiosa. A empolgação de tantas andorinhas que fazia de um simples fato a mais alucinante das histórias encantadas?
Não queria parecer-lhe indelicada ou ser vista como uma curiosa qualquer, mas eu precisava descobrir a razão do silêncio forçado, do sorriso desfeito, dos sonhos interrompidos e da boca emudecida que tomaram conta da sua vida.
Maior do que minhas interrogações era o desejo em lhe ajudar. Foi o que me moveu aproximar-me da mulher. Um tanto sem jeito e um leve tremor na fala, dei quase uma inaudível “boa tarde”. Para minha admiração ela me olhou sem qualquer expressão de fúria ou desprezo. Havia sim em sua face a mesma expressão de insegurança e dúvida que eu tinha naquela hora.
Ambas estávamos receosas com a atitude da outra. Eu não sabia o que perguntar. Ela, o que responder. Depois de grande silêncio que me congelou a alma, a mulher outra vez me fitou. Desta vez mais pausadamente como que analisando em meus olhos as perguntas que a boca não ousou fazer.
Balançando a cabeça afirmativamente, sinalizando consentimento e aceitação em satisfazer minhas questões, finalmente falou:
- Quando se foi no adeus comprido, daqueles que sabemos sem chance de ver outra vez, ele levou de mim meu sorriso, meu canto e a claridade dos meus dias. Descolori. Emudeci. Já quase não existo... Era o que esperava entender, não era minha jovem?
A voz ainda era doce, embora a amargura sufocasse qualquer vestígio de contentamento. É! Ela estava certa. Em poucos minutos, sem qualquer pergunta, obtive todas as respostas que sanaram minhas inquietações.
Eu havia desvendado o mistério que assombrava a triste mulher. Pude perceber com minha intuição feminina e, talvez, ela sequer tenha desconfiado o motivo de se encontrar naquela solidão sem esperanças. É que mais do que risos, brilhos e sonhos, o homem amado havia levado junto para onde partiu, o coração daquela mulher, deixando-a com o vazio na alma...