Pai... Perdoa-lhes!...

Pai... Perdoa-lhes!...

Rio 39 graus. A Favela da Rocinha é o palco. A desorganização de seus barracos é um paradoxo à espécie de criminosos que ali se escondem chamado pela mídia de - crime organizado. Foi nessa aglomerada favela que Tiago e Luana se conheceram num baile “punk”. Uma amiga os apresentou.

─ Luana, quero lhe apresentar o Tiago! – disse Mara, puxando o amigo pela mão até a jovem.

─ Muito prazer, Luana! Eu já a vi, muitas vezes, na feira do Mercado Municipal! – comentou Tiago.

Luana era muito bonita. Pode se dizer que naquele dia ela parecia uma atriz da Globo. Tipo que o brasileiro gosta. Seios fartos, bunda empinada, lindo rosto.

─ É mesmo! Tenho visto você com uma loirinha! Quem é ela? – comentou Luana, demonstrando simpatia pelo novo amigo.

─ “Ficamos” algumas vezes, é verdade, mas tudo não passou de algumas semanas! – exclamou o rapaz. E caíram no “pancadão” , gingaram, beberam, conversaram. Enquanto os grupinhos quase quebravam o salão com suas pernadas.

Ambos são afro-descendentes e filhos de feirantes. E não era difícil para os dois sempre se encontrarem no mercado municipal. Todas as manhãs eles se viam lá. Tiago não pôde estudar. O trabalho do pai não podia ficar sem seus ajudantes, Tiago e um casal de pequenos irmãos.

Luana terminou o segundo grau e ajudava a mãe na feira. O pai dela havia morrido há dois meses. Tinha sido vítima de confronto de traficantes. Tiago fez testes no Flamengo, mas não conseguiu ser jogador de futebol.

Era moda naquela favela, jovens se casarem muito cedo e geralmente as meninas já estarem grávidas. De nada adiantava os programas de saúde, as campanhas de anticoncepcionais, a camisinha, nada. Era síndrome de a meninada ser mãe. Nem que os avós tivessem que cuidar da criança e com elas gastassem os seus míseros ganhos de aposentadoria. E Luana não fugiu da regra.

Casaram-se às pressas num cartório próximo da Rocinha. Mara – a responsável pelo namoro – E o Neto, seu namorado foram os padrinhos. E foram morar no barraco da mãe de Luana. Senhora muito boa, que os ajudou muito. Logo nasceu uma bela menina. Muito saudável. Talvez pelas frutas e verduras que não faltavam para a sua mãe. Não demorou muito e eles construíram o seu barraco. Ficava um pouco longe da casa da mãe. Esse casal tinha tudo para viver feliz. Não foram mais a bailes. Agora era a filha Sara que dançava muito. Era uma bela garotinha. Todos gostavam dela, principalmente, quando atingiu três anos de idade.

─ Essa menina vai ser cantora! – comentava a avó-coruja muito orgulhosa!.

─ Se continuar dançando assim ela vai ser uma grande atriz! – acrescentava a tia de Sara, irmã de Luana.

Então esse casal e a pequena Sara viveram dias felizes. Sem motivo e sem explicações, Tiago começa a beber e a freqüentar boates do Rio de Janeiro. Ele não gostava de alguns vizinhos que encaravam Luana com outros olhos. Talvez este seja o motivo para a sua mudança. Luana, menina nova ainda, adorava se vestir sensualmente, mini saias, shorts curtíssimos e escandalosos decotes; Aquilo era a gota d’água para o seu marido. Além do mais agora sua mulher já começava a causar intrigas com as vizinhas.

─ Brito!... Brito! Nunca viu uma mulher de biquíni? – Tereza beliscava seu marido perguntando. Essa vizinha não gostava quando Luana conversava com o Brito. E ela sempre subia a ladeira no maior papo com o Brito. Negão de quase dois metros de altura. Ele fingia ser amigo de Tiago para poder ficar perto de Luana. Brito acabara de comprar um fusca e costumava ir ao Mercado onde a Luana ajudava sua mãe. Até que depois de muitas caronas ambos se apaixonaram.

─ Os bebuns amigos de Tiago, já estavam desconfiados que a mulher de Tiago tinha algum caso com Brito. No boteco quando eles insinuavam, Brito ficava bravo e jurava que não passava de amizade.

Passaram-se os dias e depois de muitas brigas, Tiago resolve se mudar daquela favela. Luana não queria.

─ Vamos para perto de sua mãe, Luana! Ela precisa de nós!

Enfim o rapaz conseguiu convencer a esposa e foram. Passado uns dias Luana percebe que está grávida. Depois da primeira filha, que veio muito depressa, nunca mais o casal transou sem preservativos. Tiago se revolta.

─ Esse filho não é meu, Luana!

─ Claro que é Tiago! Você vive com a cara cheia e nem percebe o que faz!

Luana conta a história inteirinha para a mãe que lhe recomenda um aborto antes que seja tarde demais. E havia uma senhora que era mestre na favela. Em matar dentro das jovens a natureza.

Marcada a data correram para lá mãe e filha. Elas tinham pressa, para levar avante a macabra idéia. Depois de preparar um fantasmagórico coquetel a mulher faz com que Luana tome aquela bebida. Poucos minutos depois Luana passa mal e é levada, às pressas, pela mãe a um pronto socorro. Mas infelizmente já chegou sem vida. Foi o fim de uma história que teve um lindo começo. A mulher que praticou o aborto foi imediatamente presa e levada para a cadeia, depois de denúncia do pronto socorro.

Como dizia o poeta: “Eu vos saúdo namorada que tem a liberdade de matar dentro de si a própria natureza!”

Copyright by Theo Padilha – 19 de outubro de 2009.

Theo Padilha
Enviado por Theo Padilha em 19/10/2009
Reeditado em 28/10/2009
Código do texto: T1874556
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