O MÉDICO...

Eram 15 horas. Um calor terrível pairava naquela rua movimentada do bairro do Braz, em São Paulo. Déia* havia feito algumas compras e já não conseguia carregar até o estacionamento aquela montanha de sacolas e pacotes. Ao pisar na calçada um pacote caiu. E Antonio um rapaz muito bem vestido apressou-se em pegar o embrulho para Déia, que era uma bela jovem. Morena, alta, corpo de modelo, olhos castanhos, e acima de tudo, alegre. Apesar dela andar meio triste por ter rompido um noivado recentemente.

─ Oh! Muito obrigada! Eu preciso parar com essa mania de adquirir tudo que vejo!

─ Por nada, senhorita! Essas ruas andam muito cheia nessa época de festas natalinas, não é?

─ É verdade!

─ Você mora aqui?

─ Moro sim!

─ Meu nome é Déia e o seu?

─ Chamo–me Antonio. Antonio Figueroa. E o meu prazer é circular pelo meio dessa gente. Adoro passear despercebido! – comentou o jovem.

─ Por que despercebido? Você é algum jogador de futebol? Ator?

─ Nada disso, sou médico no Hospital das Clínicas e muita gente me conhece!

Antonio ajudou Déia com os pacotes e foram até o carro dela que estava estacionado há algumas quadras dali.

─ Você quer uma carona, Doutor?

─ Muito obrigado, prefiro caminhar, faz bem para a saúde!

Apesar de elegante, Antonio apresentava uma palidez, que Déia estranhou mas achou que era excesso de trabalho no hospital. Afinal médicos também se estressam.

─ Achei você muito linda! Gostaria de vê-la novamente, mas sem os pacotes! - Antonio disse sorrindo.

─ Eu também gostei de você! Pode me ligar. Sou bancária, banco Itaú, da Rua Dr. Arnaldo - respondeu Déia, passando o número do celular. Ela ficou encantada com o rapaz. Que já apresentava alguns cabelos brancos.

Já no primeiro sábado, pela manhã, Déia recebeu um telefonema.

─ Olá, Déia! Lembra-se de mim? Sou o Antonio!

─ Claro Doutor! - A jovem ficou feliz. Pois era aquilo que mais esperava.

─ Vamos dispensar as formalidades, chame-me de Antonio!

─ Pois não, Antonio!

─ Que tal sairmos para um jantar?

─ Aonde?

─ No restaurante “Flor de Lótus”, aquele de comida chinesa da Avenida Paulista!

─ Perfeito! Eu estarei te esperando lá às oito, OK?

Déia passou toda a tarde pensando no novo namorado. Mesmo tendo atendido dois telefonemas do seu ex querendo reconciliação. Ela precisava sair, respirar novos ares. Pois tinha chorado muito ultimamente.

Às oito em ponto Déia chegou no restaurante que era um dos mais badalados daquela avenida. Era o ponto de encontro da nata paulistana. Correu os olhos pelas mesas e achou o seu médico tomando um drinque num canto do imenso salão.

─ Boa noite, Antonio!

─ Boa noite, Déia! Que bom que você veio!

Logo veio o garçom que apresentou o cardápio. Ambos escolheram a comida e mais conversaram e beberam do que comeram. Falaram muito dos seus afazeres. Do seu cotidiano. E viram que estavam gostando um do outro. Uma hora depois Antonio paga a conta e os dois vão para o estacionamento. Déia tinha vindo de táxi.

─ Que tal terminarmos nossa noite no meu apartamento! – propôs Antonio.

─ Não, Antonio, nós mal nos conhecemos! Credo! Como os homens são todos iguais! – respondeu Déia com um arzinho de que havia gostado da idéia.

No caminho da casa de Déia, trocaram beijos apaixonantes e Antonio resolve contar para a moça um segredo.

─ Sabe... Déia. Eu... Eu menti para você... Cometi uma imprudência no hospital. Fui apontado como culpado num caso clínico, em que tirei a vida de um menino. Os pais me processaram, fui declarado culpado no júri popular. Peguei 15 anos de prisão domiciliar. Fugi e ando fugido da lei atualmente. Por isso não posso deixar que me reconheçam. Eu era barbudo. Meio gordo. Trabalhava muito.

─ E agora Antonio? Você vai passar a vida toda fugindo? E sua família o que acha? Será que eles não têm saudades de você?

─ Estive pensando nisso. E por isso lhe contei. Meus pais moram no interior. Tenho mais irmãos e irmãs. Preciso solucionar este caso. Acho que vou me entregar à polícia! - comentou Antonio com lágrimas nos olhos.

Depois daquilo os dois se encontraram muitas vezes. Viveram momentos felizes. Certo dia Déia aproveitando o repouso de almoço vai até uma banca de jornais comprar uma revista e começa olhar as notícias dos jornais. Quase cai de costas quando vê na primeira página do Estadão. Uma grande foto do seu Antonio e a manchete. “MÉDICO FUGITIVO PULA PA RA A MORTE DO DÉCIMO ANDAR!” E assim termina mais uma história de amor .

Copyright by Theo Padilha – JT 14 de outubro de 2009.

Theo Padilha
Enviado por Theo Padilha em 14/10/2009
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