Tarde Dourada

Parecia uma daquelas tardes de novembro - tão abençoadas e regadas de amor proibido! -; a única diferença era que tais tardes nunca foram tão douradas, apesar dos cabelos d'ouro que ele tinha o privilégio de afagar. Talvez essa tenha sido dourada assim a fim de coroar os breves acontecimentos das tardes de novembro de outrora, e para marcar o nascimento de uma sucessão de novas, regadas de maior felicidade e tranquilidade.

Ou só saudade.

Um beijo longo e carinhoso assinalava a tarde dourada e seu sol preguiçoso. Um reencontro saudoso, há muito ansiado. O mundo poderia ter parado enquanto somente os lábios daqueles jovens mexiam-se em quase perfeita harmonia um no outro. A mão de um segurava o outro pela cintura, e a outra pousava-lhe gentilmente nos cabelos que havia sido d'ouro um dia; o outro tinha as mãos pousadas no peito maciço do jovem que era mais alto.

Não tinham pressa alguma. O tempo lhes pertencia naquele breve momento, e nada parecia importar: só havia eles naquela rua movimentada em hora de pico. Lentamente, seus lábios separaram-se e com um sorriso eles se entreolharam: nada de palavras, pois não havia necessidade delas no momento. Os olhos verdes de um refletiam a luz dourada da tarde, seu sorriso era sincero, com aquele aparelho nos dentes; as mãos uniram-se; e figurava um sorriso gentil no rosto do outro e brilhantes estavam seus olhos caramelos pelo sol.

Mão direita com esquerda, seguiram pela calçada - o mais alto pelo lado da rua, zelosamente a proteger o outro - e dobraram a esquina da loja de aluguel de carros. Vamos almoçar?, perguntou o mais alto, Tem um restaurante vegetariano aqui perto, continuou, Não tenho dinheiro, Você será meu convidado. E os olhos verdes sorriram. Então vamos?, Vamos...

Nesse momento seu telefone celular tocou: teria de ir. Nada de restaurante vegetariano naquele dia. Eu te levo até sua casa então, Não é longe daqui, Eu sei, Olha, eu queria ir mesmo..., Eu sei, entendo, De verdade, Eu entendo.

Envolveu a cintura do mais baixo com certa força, sem querer deixá-lo ir, e seguiram envolvidos pelo ouro derramado nas ruas. Despediram-se com um abraço e um leve beijo, Fique bem, disse o mais alto, Você também, sorriu o mais baixo, Eu te ligo, continuou, enquanto entrava pela portaria do prédio; foi o mais alto quem sorriu, Até sempre.

Caio Pereira
Enviado por Caio Pereira em 09/10/2009
Código do texto: T1857596
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