Solidão na Ilha de Ventos Murmurantes... Capítulo II
Desceu a trilha bem devagar observando, sob o luar, as tochas espalhadas pela areia e foi aos poucos caminhando pela água. Sentia os cabelos esvoaçando com aquele vento leve que parecia brincar com eles espalhando-os livremente. Prende-os no alto da cabeça e senta-se ali mesmo na areia, a claridade das tochas davam um ar romântico e ao mesmo tempo nostálgico ao lugar. Demorara tanto tempo para chegar ali, para ir conhecer aquela ilha, agora sentia-se livre e tranqüila.
Era como se vivesse até então em uma busca silenciosa, algo que estava tão longe e ao mesmo tempo próximo de suas mãos. Mas nunca conseguia tocar realmente. Sempre pensara nisso. Mas nunca como agora, queria entender os motivos que a faziam ir tão longe buscar por resposta que sabia encontrar dentro de si mesma.
Se alguém lhe perguntasse naquele momento sobre o assunto, ela com certeza responderia que algo tinha a aprender ali. Seu coração a avisava de que em breve entenderia o que tão intimamente ocultava.
O que importava para ela naquele momento era que estava feliz, relaxada, sem preocupar-se com o que faria ou em dar respostas que ainda não tinha. Pela primeira vez em semanas de viagem, se deu conta de que não entrara em contato com seu noivo, tampouco pensara nele. Ele a compreendia, sabia que era muito importante aquele afastamento. Mas agora ela tinha certeza de que ao voltar não seria mais para ele, seria para levar uma vida mais feliz. Quem sabe encontrar o amor verdadeiro, aquele que sempre desejara e sentia não ser por ele.
Agradecia sinceramente por ter o carinho daquele a quem dedicara seus dias, mas sabia que não o amava como deveria. Não mentira para ele, não! Nunca fizera isto. E quando decidiu viajar, ele foi o primeiro a lhe apoiar, a dar incentivo para se encontrar.
Parecia ser-lhe uma eterna procura de sentimentos e verdades sobre si mesma. As respostas estavam ali, só faltava conseguir encontrá-las. Ela o faria!
Aos poucos foi entregando os pensamentos ao ritmado movimento das ondas quebrando na areia da praia. Olhava o vai e vem da água e relaxava como num transe. Este efeito sempre lhe acontecia, desde pequena sabia que havia uma grande influência sobre si mesma.
Aos poucos uma imagem começa a se formar em sua frente, uma visão? Sim, parecia ser alguma forma de lembrança, porem, um lugar nunca visto antes por ela.
Notava que alguém lhe chamava por um nome desconhecido. Sabia que o conhecia, mas não entendia como.
Levantou-se, aproximou-se ainda mais da água sem perder o foco daquela imagem. Ele continuava ali, sorrindo e chamando-a. Foi mais forte que a vontade, seguiu este chamado e estendeu-lhe a mão de volta.
Deixou-se ser transportada para um lindo lugar, uma colina. Ali, ele delicadamente lhe indica um lugar sobre as pedras para sentar-se e como se fosse um passe de mágica, à sua frente se abre uma imagem. Tem consciência de sua distância entre os acontecimentos, nota adiante, um círculo de pedras, é noite e algo está para acontecer. Relâmpagos rasgam o céu à sua frente, vê que um ritual acontecera ali. Sente o coração apertado e olha para os lados buscando-o, mas nem sabe como chamá-lo. Ele havia desaparecido. Assustada, não tem forças para se levantar e voltar para a praia onde estava minutos antes.
Cada vez mais o céu parece querer desabar entre raios e trovões, a cada momento sente o coração disparar dentro do peito. Ao longe, vê que ele estava ali o tempo todo e chora, percebe então, que sempre fora ele. Sempre fora ele a estar em seu coração e nem sabia como. Vê que uma luz emana dele, pressente que algo mais irá acontecer e teme descobrir mais alguma coisa naquele momento.
Chora, chora livremente deixando sua alma ser lavada por lágrimas há tanto tempo guardadas, sufocadas. Tenta levantar-se e seguir em sua direção, mas ele a impede. Faz com que fique ali mesmo. Está na hora de libertar seu coração, de deixá-la livre para seguir outro caminho, distante dele.
As imagens que passam a sua frente são de uma outra época, talvez da idade média, não sabe bem como definir. Procura entender o que está acontecendo. O que estaria fazendo ali? Já tinha descoberto que ele era seu grande amor, agora precisava saber o motivo de não terem ficado juntos...
Ouve um ruído saindo pela trilha que descia até a areia, era um casal que viera passear e aproveitar aquele lindo luar. Desperta do seu transe, ainda confusa, resolve voltar para o hotel. Amanhã será um novo dia e fará o que puder para descobrir o que estava lhe acontecendo....
Continua...