Solidão na Ilha dos Ventos Murmurantes - Capítulo I
Aos poucos podia ver o porto ficando para traz, o navio ia se afastando lentamente, restando apenas uma saudade contida, disfarçada em meio a um sorriso. Ainda podia notar que ele ficara ali, parado, sem demonstrar um só movimento, parecia não querer acreditar que ela estava partindo à busca de um novo sentido na vida e ao mesmo tempo, deixando-o sozinho.
Não era fácil para ela viver presa a um lugar, sua liberdade era como uma jóia rara, como um pássaro que não podia viver preso a uma gaiola. Não! Ela necessitava de alegria, do riso, da aventura e fantasia, uma vida que ele não compreendia.
Quando decidira ir para Ilha de Elba na bela Toscana, ainda não sabia ao certo o que realmente procurava, mas já que havia decidido, iria sem qualquer receio.
Ele sabia que, se ela retornasse, seria tudo diferente, lia em seus olhos que nada voltaria a ser como antes. Há muito já não sentiam o mesmo amor do começo daquele noivado, há muito não se sentiam cúmplices de uma vida a dois. A amizade que os unia era intensa, o afeto sempre existira entre eles e, quando ela lhe comunicou sua decisão, ele sabia que aquele momento seria decisivo para ambos. Mas mesmo lutando contra a própria vontade, não a prenderia ao lado dele.
A conhecia muito bem para saber que não deveria fazer isto.
Após alguns dias de viagem naquele imenso mar azul, onde por longas horas da noite apreciava a beleza de um céu coberto de estrelas, chega à paradisíaca ilha de Elba. Mal podia esperar para se instalar no hotel e sair para caminhar naquelas areias mornas. Estava exultante, seu maior desejo se realizava naquele momento. Iria aproveitar cada minuto ali.
Tinha tanto a pensar, a decidir sobre a própria vida, que resolvera ir para aquela ilha por mero acaso, dias antes um pequeno folheto de propaganda turística havia lhe caído às mãos sem que ela sequer tivesse pensado em uma viagem.
Refletia sobre isto quando se perguntou: Seria mesmo mero acaso ou seria coisa do destino? O que realmente deveria descobrir ali naquele local para ter vindo de tão longe deixando tudo para trás? Seja lá o que fosse, iria descobrir, afinal já estava ali. Pensaria nisto depois.
O fato de ter ido parar naquela ilha lhe tranqüilizava. O ar leve, a vegetação, a paz era tudo o que precisava no momento.
Sentia toda energia daquele lugar tocar-lhe profundamente o ser. Sua paisagem era belíssima, as encostas eram enigmas a chamar-lhe a atenção à aventura que buscava. Com certeza iria até ela...
Um ar puro, com clima deliciosamente ameno e convidativo a passeios.
Estava decidindo ainda o que fazer primeiro enquanto caminhava pela praia, já era fim do dia e notara que o pôr do sol dava inicio a mais um espetáculo cheio de cores fortes. Uma beleza incrível, nunca tivera a oportunidade de apreciá-lo daquela maneira, sabia que para cada pessoa era um acontecimento diferente. Mas para ela, naquele momento, aquela paz e imagem refletida nas águas e as cores vistas naquela imensidão, eram a tradução da mais perfeita imagem existente já presenciada.
A cor vermelho-alaranjada com ainda um resquício de azul do céu dando lugar a escuridão da noite que se fazia presente. Era mesmo um encanto, algo a ser apreciado com carinho.
De volta ao hotel, toma um delicioso e revigorante banho, decide que não irá jantar no quarto, desce até o restaurante e escolhe uma mesa próxima a uma das imensas janelas, dali ela poderia apreciar toda a vista que tinha dos campos que circundavam a região. Era magnífico, um lugar encantador.
Ela podia ver a estradinha que ficava logo abaixo, levando à pequena cidade e alguns penhascos não muito longe dali.
Nunca imaginara estar assim, tão livre, tão encantada e sentindo algo tão novo. Um sentimento que a deixaria em estado de magia por muito tempo.
A noite já chegara, estava uma brisa leve, convidativa a um passeio noturno. Ela adorava esta paz existente, os murmúrios das árvores, das ondas quebrando nas rochas da praia deixavam-na inebriada.
Continua...