Violeta II

ABRIL: CHUVA DE CONFUSÕES

JHON E EU NOS VÍAMOS ALGUMAS VEZES POR SEMANA e eu sentia saudade quase sempre e ele também sentia, mas eu não tinha mais certeza de nada, e a escola estava muito puxada. Eu precisava de mais concentração.

Poul e eu – alguns dias depois da carona – voltamos a nos esbarrar.

Numa bela manhã eu estava super, hiper, mega feliz regando as minhas rosas, mas algo estragou minha felicidade, quando vi do que se tratava... Eu berrei! Minhas rosas amassadas por uma bola. Isso me deixou tão irritada que prontamente pensei que tivesse sido Poul e berrei mais ainda:

- Minhas rosinhas, você acabou com elas, Poul, vou te matar!

Para minha surpresa era Melissa quem jogava a bola. A molequinha de 12 anos me observava assustada pela grade que havia em cima do grande muro.

- Ai Melissa, desculpa. Não sei se consigo jogar a bola por cima das grades, é um pouco alto...

Foi então que apareceu Poul.

- Não se preocupe Viol - a expressão me deu um arrepio – Vou ai pegar a bola.

Eu fui correndo abrir o portão, nem notei que estava alegre por “recebê-lo” em minha casa. Acabei esquecendo completamente a bola no pátio.

- Oi... T-tudo bem? – gaguejei baixinho.

- Sim, melhor agora!

Ele de fato sabia me deixar envergonhada, eu não me lembrava nem quem eu era, imagina lembrar da existência da bola então...

- Onde está a bola Viol?

- Viol?

- Sim! Seu apelido, certo?!

- Ah sim, ah, a bola... Havia me esquecido!

Fomos até o pátio buscar, ele sabia bem o caminho. Fui olhando para o chão, mas sem querer meus olhos ficaram paralisados olhando Poul, sem que ele percebesse inicialmente. Eu reparava em cada detalhe de seu rosto.

Sua boca muito vermelhinha sorria.

Foi quando notei que ele também me olhava. Então, pela terceira vez, meus olhos e os olhos dele se encontraram. Eu estava tão acostumada a ficar nervosa com isso, o jeito que ele olhava, me deixava tão feliz e tão confusa.

- Que tal um sorvete hoje à noite?

- Acho melhor não Poul, tem alguém que pode não gostar muito...

- Ah – falou ele desanimado. – Quando quiser me avise, eu realmente quero poder ter pelo menos uma tarde com você...

- Err... Sua irmã.. A bola...

Ele mordeu o lábio inferior e olhou pra baixo. Eu estava com aquela respiração abafada, quente, nervosa.

- Vou indo então... Desculpa qualquer coisa, Violet!

Levei-o até a porta, ele sorriu. Eu mal consegui olhar em seus olhos. Enquanto entrava senti aquele calor em minha pele, ele certamente estava me observando.

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BARULHO NA JANELA

EU ESTAVA NO MEU QUARTO, lendo um livro, então do nada o soltei de minhas mãos, levantei, meu corpo não me obedeceu – eu queria voltar a ler, – mas acabei parando em frente à janela. Então foi a primeira vez que reparei que conseguia vê-lo em seu quarto. Poul deve ter sentido o calor do meu olhar e me olhou também, eu quis me abaixar, mas meu corpo não me obedecia. Lembrei-me então da carona de duas semanas atrás. Depois de dar um sorriso consegui então sair, fui até a cozinha beber um copo de leite.

Passei pelo telefone, digitei o número de Jhon. Esperei alguns segundos e então ele atendeu.

- Oi minha garota!

- Er... Tudo bem com você?

- Sim, claro que sim, e você?

- Quero te dizer algo – Senti as palavras escapando da minha boca - Eu preciso dizer.

- Fale Violet!

- Eu te adoro muito – não era o que eu queria falar, – muito mesmo!

- Viol, eu também te adoro muito, você me assustou, sua tonta!

- Uma tonta que te adora, não se esqueça!

- Ah minha garota, somos dois tontos.

- Preciso desligar, algo hoje?

- Sabe o que é... É que eu nem estou na cidade Viol.

- Tudo bem anjo, tchau, te adoro!

Me senti tão bem em saber que ele não estaria aqui essa noite, sabia que era errado pensar assim, mas afinal de contas, que mal tem em tomar um sorvete com o meu vizinho?

Sentei em minha cama, como fazer para ver Poul?

Escutei algo em minha janela, um barulho. Quando olhei pelo vidro levei um susto. Poul batia com a mão no meu vidro e eu era obrigada a ler seus lábios.

- Posso entrar?

Abri a janela, ele segurou em minha cintura e me deu um beijo no rosto. Ele, como sempre, estava lindo e o seu cheiro maravilhoso se espalhou pelo quarto.

- Vim te buscar pra sair comigo. – Disse enquanto se jogava em meu sofá e fazia uma cara desafiadora.

- Como assim? Eu não vou sair com você!

- Tudo bem – disse ele, me olhando com um olhar esnobe e depois virando as costas – mas não vá bater em minha janela, mocinha!

- Espere! – Eu estava com muita vontade de sair. – Tudo bem, eu deixo você sair comigo! – Ele riu.

Ele chegou pertinho de mim, segurou algumas mechas dos meus cabelos loiros em suas mãos, olhou para mim como um bebê e então fui surpreendida com mais um beijo em meu rosto. Ele parecia um menininho sapeca roubando beijinhos das meninas.

- Você é linda, ainda mais espiando os outros pela janela.

Ele tinha visto, claro que sim, que vergonha! Mas me fiz de desentendida e empinei o nariz.

- Eu não estava espiando, perda de tempo.

- Eu vi que não... Você gosta de perder tempo pelo visto. – Perder tempo com ele, eu adorava. - Sua janela é tão fácil de subir...

- Eu... Eu não vou discutir com você! Como você conseguiu?

Ele não me disse nenhuma palavra, apenas me levou até a minha janela, me mostrou um telhado que levava da minha janela até a dele.

- Não me lembro deste telhado!

- Você tem sono pesado, ontem fizeram bastante barulho pra construir. É a minha garagem, minha mãe quer ter certeza que pode me deixar sem carro em algumas ocasiões...

- Entendi muito bem isso! – Eu ri baixinho. – Afinal, você é meio temperamental!

- Nossa, dá pra notar assim tão fácil? – foi irônico.

Eu ri um pouco, olhei pra ele e acho que se passaram alguns minutos, e nós estávamos nos olhando, eu me perdia em seu olhar, eu não sabia identificar nenhum defeito nele, me senti tão feliz, sentia vontade de me jogar aos seus braços e ficar abraçada por muito tempo nele, mas existia algo que impedia. Jhon – me ligava!

- Fale Jhon!

- Oi... Desculpe, amanhã não vou poder sair com você, minha garota. Meu pai quer ficar aqui para ver umas terras que quer comprar... Ele quer muito que eu fique... Mas você sabe que por mim eu estaria já com você...

- Calma Jhon, eu te entendo, tudo bem, marcamos algo pra próxima semana! - falei com uma voz aparentemente desanimada.

Enquanto isso Poul mexia em meus cabelos e me olhava misteriosamente, dando risadinhas baixíssimas para que Jhon não escutasse. Eu senti calafrios quando ele me olhava e quando ele soprava meus cabelos, às vezes segurava em meu ombro ou em minha cintura, eu tentava me controlar, falar normalmente com Jhon, afinal, eu não estava fazendo nada de errado – pelo menos até agora – e tampouco pretendia fazer algo errado.

Quando desliguei o celular falei com entusiasmo:

- Quero ir a algum lugar que possamos conversar, quero passar pelo menos algumas horas com você!

-Por mim eu ficava com você sempre, pulava essa janela toda noite...

- Eu... Eu preciso me arrumar. – meu sangue corria com mais velocidade, senti minhas pernas tremendo, senti meu coração saindo pela boca, um frio na minha barriga...

- Er... – fez uma pausa – Te pego às 7 horas, você quer ir pela janela ou quer que eu bata na sua porta? – deu uma risadinha mostrando um pouco dos dentes.

Quando ele saiu pela janela eu fiquei pensando se era correto sair com ele, eu me sentia tão bem... Eu queria tanto poder abraçá-lo, poder saber sobre a vida dele, eu precisava ser realista comigo mesma! Eu estava completamente confusa, não sabia mais o que realmente sentia por Jhon. Por alguns minutos fiquei deitada em minha cama, com milhares de perguntas passando em minha cabeça, a que mais aparecia era: “Por que é que eu não paro de pensar?”. Olhei o relógio, eram 06h30min, eu precisava me ajeitar.

A campainha tocou, eu estava sozinha em casa, então não havia o problema de minha mãe acabar pensando algo errado sobre mim e Poul.

Parei diante do espelho, estava basicamente básica – como sempre. Dei um sorriso forçado que aprendi com a minha mãe, ela nunca foi falsa, apenas tinham certas horas que ela simplesmente tinha que sorrir, mas não tinha muita vontade, e eu entendia isso.

A campainha! Respirei fundo e abri a porta.

- Você... – travou ao falar – Já falei que você é linda?

- Ah, deixe de ser bobo Poul. Vamos aonde?

- Pensei em te levar em um lugar, que você deve conhecer, afinal mora a mais tempo aqui do que eu, mas mesmo assim... Depois do sorvete vamos lá!

- Te deixo me levar nesse lugar, mas aonde é? SORVETE!

Ele nunca respondia minhas perguntas. Entramos no carro, ele olhou para mim e fez um gesto de “coloque o cinto! ’. Ele vestia uma calça jeans escura e uma camiseta colada ao seu corpo, aos braços, deixando-o mais forte, a camiseta era azul, ele combinava muito com azul. Ou seja: ele estava incrivelmente lindo, mesmo que usasse trapos ele estaria lindo.

- Preciso te dizer algo Viol! – olhou-me firmemente

- Estou escutando Poul! – fiquei um pouco nervosa

- Eu simplesmente... Adoro o sorvete daqui! – e ficou rindo da minha cara de tonta! Dei um soquinho nele e sorri.

Enquanto tomávamos sorvete Poul me olhava, então decidi encará-lo, desta vez consegui. Então Poul inclinou-se para mim, senti meu coração disparar, para minha surpresa ele passou o dedo no meu nariz e me sujou com sorvete, que lindo! Eu queria matá-lo – mesmo que não conseguisse – pois ele ria muito de mim, e eu mesmo assim gostava de estar com ele.

Ao sairmos da sorveteria Poul gentilmente abriu a porta do carro, quando se sentou ligou o motor. Enquanto dirigia olhava para mim, e eu olhava para a estrada, como se eu estivesse dirigindo. Foi quando vi que estávamos indo em direção as montanhas, que realmente eram lindas, mas fazia muito frio a essa hora. Poul suspirou.

- Sou um babaca!

- Você não é um babaca, eu sei disso!

- Você nota a maneira que eu reajo a problemas? Pego meu carro e sumo por dias, sou um tolo.

- Não fale assim Poul, você é quase um garoto perfeito – disse isso e depois me arrependi.

- Não diga o que não sabe Violet, você que é uma garota perfeita! – então seus olhos praticamente entraram nos meus, senti que ele podia ver que eu estava apaixonada por ele, ele notou que eu queria muito estar com ele – Eu não mereço nem estar perto de você!

Tive vontade de chorar, mas isso acabaria com nosso inicio de amizade. Tentei mudar de assunto. Estávamos chegando. Ele estacionou, abriu minha porta e segurou em minha mão. Ele estava tão quente, seu sangue fervia, escutei seu coração bater tão rápido, eu queria me envolver em seus braços fortes, não pelo frio que eu sentia, mas sim para senti-lo perto de mim.

Sentamos em um baquinho, ele ficou mais próximo de mim.

- Eu esperava um interrogatório...

- Eu tinha até esquecido... Mas... Por que vocês se mudaram?

- Nos queríamos expandir os negócios, trazer as lojas pra capital, mas pra isso o meu pai tem que estar cuidando da loja maior, que no caso é a que abriu aqui.

- Isso é bom.

-Expandir as lojas? Também acho.

- Isso também, mas não é só isso. Eu estou falando de você morar aqui, eu gosto disso!

Então seus olhos sorriram, sua boca sorriu também, ele me abraçou, seu corpo estava tão quente em comparação com o meu. Eu me senti protegida, queria ficar ali para sempre. Ele cheirou os meus cabelos e passou a os dedos entre os meus fios lisos, fazendo com que eu ficasse com o rosto um pouco quente.

- E eu gosto de você, Violet!

Ao dizer isso, ele me olhou seriamente, fiquei simplesmente paralisada, com um sorriso nos lábios. Eu estava feliz, com ele eu sempre estava feliz. Então eu o abracei com muita vontade, mas desta vez tinha vontade de beijá-lo, sentir os lábios dele nos meus. Senti que eu não tinha mais poder sobre o meu corpo, sobre a minha mente.

- E eu...

Fiz com que ele paralisasse também!

- Eu também gosto de você.

Meu coração quase saia pela boca. Abaixei minha cabeça, sentia o calor do seu olhar diretamente em mim.

Foi então que ele colocou a mão em meu queixo e levantou minha cabeça. Olhou dentro dos meus olhos, eu estava assustada e tinham lágrimas em meus olhos, reparei um pouco mais nele, os olhos brilhavam como pedras preciosas.

Então repousei minhas mãos em seus cabelos, senti seus lábios encontrando os meus, sua boca estava quente e era macia. Pensei em pará-lo, mas tinha quase certeza de que quem havia começado era eu. Ele era tão perfeito, a maneira que ele pressionava minhas costas, a maneira que ele me abraçava, a maneira que ele me olhava... Ele e as manias dele, eu estava apaixonada.

- Eu... Te quero tanto, eu sei que você... Eu sei que estou parecendo louco, mas você... É tudo.

Senti raiva de mim mesma, mas eu estava alegre demais para querer me jogar da montanha. Mesmo que Poul notasse Jhon comigo, ele não se importava, ele apenas me queria, me queria muito, e eu queria ele também, quem sabe com mais intensidade ainda.

- Poul, você sabe que eu...

- Sim, eu sei, mas eu não me importo – deu certeza ao pensamento -, eu simplesmente gosto de você e eu simplesmente não consigo deixar de pensar em você, desde o primeiro dia em que te vi.

- Eu devia me importar, eu devia sim, mas... Não consigo. Você me deixa tão feliz, você é tão maravilhoso.

Quando entramos no carro senti que ele queria falar algo, mas demorou a falar. Eu queria ouvi-lo, a sua voz era tão doce, tão linda.

- Eu não quero estragar tudo. Se você se sente melhor assim, eu respeito.

- Você não vai estragar nada, eu só preciso pensar...

- Tudo bem, eu te entendo, eu acho que entendo. Mas eu preciso te dizer que não queria te dividir. Há tempos eu penso em uma maneira de ter você só pra mim, mas eu sei que por enquanto não é assim.

- A se você soubesse o que eu já pensei...

- Ao meu respeito?

- Sim, ao seu respeito.

Ele então parou o carro, já estávamos na frente da minha casa. Eu me inclinei, passei as mãos em seu rosto, em sua boca, contornei seus traços, seus lindos traços e o beijei. Não me senti culpada, eu queria isso muito, mesmo que meu coração ameaçasse sair pela boca.

- Você vale à pena Poul, não vou me arrepender de nada, desde que eu esteja com você.

Sai do carro passando as mãos em meus lábios, sem pensar no lado ruim, mas eu sabia que estava me complicando. Eu estava completamente louca por Poul. Isso era tão bom, mas podia tornar-se algo ruim, em um piscar de olhos. Senti o calor do seu olhar, novamente.

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SURPRESA

No dia seguinte, enquanto eu estava deitada lendo, aconteceu novamente: ele bateu na janela!

Seus olhos brilhavam, ele sentia uma euforia em estar comigo novamente, e eu também, meu sorriso aparecia com facilidade. Ele me abraçou, olhou para mim com aqueles olhos castanhos, tão expressivos, suspirou e sorriu levemente.

- Eu pensei em te chamar para dar uma volta...

- Ah... Prefiro ficar por aqui mesmo, se importa? – Falei com preocupação.

- O nome da preocupação é Jhon? – Falou com um pouco de ciúme – Aqui não tem perigo?

-Eu acho que ele chega hoje! Qualquer coisa você pula a janela. – Ri baixinho.

Fui surpreendida, Poul me empurrou em uma de minhas paredes e colou seu corpo ao meu, dando-me um longo beijo, sem que eu pudesse sair de seus braços. Soltou-me delicadamente, mas eu me agarrei a ele, ele me deu um beijo no rosto e sentou no meu sofá cor-de-rosa.

- Você tem que idade mesmo Poul?

- Tenho dois a mais que você. - Riu da minha cara de espanto.

- 18? – aumentei automaticamente minha idade.

- 17 sua tonta, eu sei sua idade, sua bebezinha!

Eu me sentia uma bebezinha nos seus braços, isso era realidade, mas notava nos olhos dele a mesma ingenuidade que existia em meu olhar.

- Estive pensando no que estamos fazendo. – Respirou profundamente – Não é um erro!

- Não, não é um erro. É algo que não sei como explicar, eu sinto e não posso fingir que não sinto.

- Não acho que seja algo de agora.

- Já havia reparado no dia em que você chegou...

- Não falo sobre esse pequeno tempo, falo sobre... – Segurou em minhas mãos – Falo sobre outras vidas, eu já sonhava com você antes, a muito tempo.

Fiquei pasma, por que eu também já tinha sonhado com um garoto muito parecido, ou melhor, idêntico.

- Eu também já sonhei com você.

Ele sorriu, beijou-me como quem beija uma rosa.

- Eu preciso ir, sonhe com os anjos, minha bela.

- Sonharei com você, meu anjo.

Assim que ele saiu pela janela, meu celular vibrou. Jhon fazia a 12ª ligação.

- Oi Jhoooon...

- Violet, por que você não atendeu?

- Eu estava no banho. - Menti.

- Você ficou quase três horas no banho?

- Não exagere, duas horas no máximo!

Falamos sobre coisas idiotas demais, meu coração não pulsava tão rápido quando eu falava com Jhon. Fiquei pensando em Poul, me faltou o ar.

- O que houve Viol?

- Violet, por favor. – Havia decidido que Viol seria apenas para Poul – Estou sem ar, apenas isso.

- Falei algo?

Ele realmente achava que era por culpa dele, mas eu tinha quase certeza de que não era. Eu realmente não sabia mais o que dizer. Pensei em qualquer desculpa e desliguei.

Os dias passavam-se e em todas as noites, depois da aula, Poul ia a meu quarto, falávamos sobre estrelas, pensávamos e escutávamos músicas, nos beijávamos e dizíamos o quanto nos gostavamos, meu coração quase sempre fingia querer sair pela boca. Ele ia para casa e no outro dia eu sentia saudades, até a noite chegar.

Jhon e eu já não nos víamos muito e tornava-se algo mais amigável, pelo menos para mim. Jhon era um grande efusivo, dizia me amar. Eu gostava dele, mas amar? Não! Ou seja, estava quase tudo indo bem, e eu quase não pensava estar fazendo a coisa supostamente errada. Eu não achava que era errado, antes de amar Jhon eu já estava amando Poul, e eu nem amava Jhon.

Mas um dia algo que não estava em meus planos aconteceu. Poul foi até minha janela, entrou, me beijou, acariciou meus cabelos e nos deitamos abraçados em meu sofá cor-de-rosa. Conversamos sobre sonhos.

Alguém bateu na porta.

- Pode ficar. Se for a mamãe eu digo que você entrou antes que ela chegasse.

- Tudo bem, mas...

Abri a porta, para meu espanto não era ninguém que eu pudesse mentir descaradamente. Jhon me olhava com fúria. Entrou em meu quarto. Eu fiquei assustada. Olhei para Poul, ele não estava mais ali. Fiquei surpresa, não sabia desses dons de velocidade de Poul.

- Tudo bem Jhon? – Minha cara não foi convincente.

- Claro que não, tinha alguém aqui dentro com você!

- Sim, há algumas horas Lucy estava aqui, como você sabe?

- Era um garoto, pare de se fazer!

Meu coração batia rápido demais, eu não pude me segurar.

- Escuta aqui, você por um acaso é meu marido? Nem meu namorado você é, não tem o direito de entrar em meu quarto dessa maneira. Você anda espionando a minha casa dia e noite, é isso? – Levantei mais ainda a voz - Você é um babaca, um idiota, eu gostaria, com toda a sinceridade, que você saísse daqui imediatamente e não voltasse mais.

Ele simplesmente saiu, batendo a porta. Não quero um tipo desses comigo. Eu havia me decidido a assumir Poul, apenas Poul. Quando ele entrou novamente pela janela, eu não sabia identificar sua expressão.

- Quase entrei aqui, esse cara é um imbecil!

- Jhon me irrita, mas acho que fui muito dura, tenho que ligar para ele...

- Como assim Violet? Vocês terminaram, você não vai voltar com ele!

- Eu preciso falar com ele, estou me sentindo tão mal com isso tudo, falei muitas coisas para ele, ele deve estar magoado, preciso ser sincera com ele.

- Eu já sei onde isso termina, um beijo e não se sabe mais em que...

- Não fale assim de mim, você não sabe o que se passa pela minha cabeça, não tente entender.

- Não quero mais entender também, isso é idiota demais, - berrou - tudo isso. Você é confusa demais. – Falou com os olhos úmidos.

- Eu... Eu... Eu não posso ficar sem você Poul. – As minhas inimigas lagrimas rolaram.

- Pense bem nisso, se é sem mim ou se é sem ele que você não pode viver.

Não consegui falar absolutamente nada enquanto ele saia pela janela. Meu coração por alguns instantes parou, chorei descontroladamente. Minha alma queria sair de meu corpo, eu sentia isso. Deitei e dormi.

Acordei com o barulho de pneus cantando, olhei pela janela, o carro vermelho saia disparadamente. Dentro dele uma mala e um idiota. Ele havia partido, fugindo dos problemas, um babaca, como ele mesmo se autodenominava.

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EU ERREI, MAS FOI DIFÍCIL!

EU NÃO ACREDITO QUE TENHA FEITO ISSO, MAS EU REALMENTE FIZ, UM ATO IMPENSÁVEL. No momento que eu escutei Violet dizendo estar mal pelo idiota do Jhon... Eu não me controlei! Qualquer um - até com estomago forte - não iria suportar o que eu suportei. Então, ela tem que pensar.

O que eu mais queria nesse segundo era não precisar escrever sobre Violet, e se caso escrevesse poder dizer que não significa absolutamente nada pra mim, mas é, não é isso que acontece! Violet é aquela pessoa que eu não posso mais deixar.

E então sentado aqui nesse banco de hotel estou eu. Burro! Burro não, um babaca! Mas eu quero que ela pense, se ela me ama ou não.

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ÚLTIMOS DIAS DE ABRIL

EU NÃO CONSEGUIA PENSAR EM MUITAS COISAS, estava realmente apaixonada por Poul, tinha muita pena de Jhon, mas não o amava.

Os últimos dias do quarto mês não foram nada bons. Eu precisava respirar ar limpo, precisava caminhar e fazer algo para esquecer tudo que eu não queria esquecer.

O celular dele estava desligado.

Marquei um dia de piscina em minha casa, com as minhas amigas. Lucy chegou com Susan e Bia, o restante estava viajando. Nós sentamos a beira da piscina, apesar dos dias anteriores frios o dia estava quente, muito quente.

- Garotas, eu terminei com o Caio ontem. – disse euforicamente Lucy.

- Ah, por quê? – Perguntou Susan euforicamente.

- Ah gente, ele é lindo demais, não consegui cuidar direito.

Nós rimos muito naquela tarde, eu realmente nem lembrava dele naquele instante. Algumas horas depois as minhas amigas foram embora. Eu fui tomar um banho, precisava de água quente percorrendo o meu corpo cansado e também precisava de uma bela dose de whisky.

Bebi várias doses e adormeci.

Sonhei com Poul, eu o amava, e ele não sabia disso ainda!

Os últimos dias de abril foram péssimos, ele não voltava nunca, e isso me doía muito. Todo dia eu olhava pela janela, e a garagem permanecia fechada. Eu precisava muito de seus carinhos, de seus abraços. Sem ele eu não vivia, isso era fato. Por mais que eu tentasse, as imagens dele não saiam de minha cabeça, seus olhos marcantes, seus braços fortes, seu corpo inteiramente lindo, e o mais precioso: a sua alma, que me completava.

Aura Ksna
Enviado por Aura Ksna em 15/09/2009
Código do texto: T1812493
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