A FUGA...
A FUGA...
Como diria Drummond:
Cidadezinha qualquer
"Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus. "
O pacato ambiente de Joaquim Távora nos ano 60 era quase uma rotina. A única coisa que veio quebrar o remanso foi o fato que aconteceu naquele abafado sábado de sol. Na praça da Matriz havia um punhado de gente aguardando o casamento. A Família da noiva era muito conhecida naquele pedaço de chão. A maioria das pessoas tinha vindo do bairro onde os noivos moravam. E todo mundo estava feliz. Sorridente. Algumas crianças se lambuzavam com sorvete. A união de Mirna e Cleber estava marcada para as l7 horas e ainda faltava meia hora para que subissem ao altar. Os homens correram para o bar que havia logo ali, para molhar a guela. E Cleber também tinha sido “convidado” propositalmente por alguns padrinhos malandros.
─ Vamos lá Cleber, no bar do Bonamigo tomar uma cerveja! – disse o padrinho.
─ Mas já está quase na hora, gente. Eu estou tão nervoso! – respondeu.
─ Nervoso nada, você vai entrar na igreja em branco? Sem tomar nada! – disse outro amigo.
Então foram todos para o boteco. Um quebra gelo do tamanho grande de conhaque, uma cerveja, e outra e outra, e outro quebra gelo.
─ “Não sei por que, mas acho que não tenho coragem de ir desse jeito para o casório!” – pensou o pobre noivo.
Naquela instante veio chamá-lo, primeiro uma criança, ele não deu bola. Depois um tio, Cleber não queria mais se casar. Todos lhe disseram para ir se não ficaria muito feio para os familiares.
─ Credo filho, que papelão! – chegou o pai dizendo.
─ Ah! Pai! Deixa isso pra lá! Eu ainda não estou pronto. Diga pra ela que vou dar umas voltas!
Mirna, a noiva, chegou até pensar que aquilo era uma brincadeira do Pascolato, um senhor muito brincalhão, lá da roça. Foi o maior mico. O povo todo revoltado na praça. O padre chegou até se esconder para não servir de mediador no caso.
Finalmente chegou a hora marcada. A noiva chorando muito, correu para o carro que a trouxe e pediu para o taxista levá-la para casa. Até hoje o causo é comentado lá no sítio. Dias depois eles se casaram, mas não viveram muito bem. Fizeram a separação depois do segundo filho. Mirna agora mora com outro e Cleber também arranjou outra mulher.
“A vida é a arte do encontro... Muito embora hajam tantos desencontros pela vida.” (Vinícius)
Copyright by Theo Padilha 15 de setembro de 2009