Guardião Silencioso

Ipanema. Noite. Luzes riscavam animadamente os ares, inundando o ambiente fechado com padrões psicodélicos, enquanto outras, piscando junto ao ritmo da música eletrônica, provocavam um frenesi dançante em qualquer que estivesse presente. Balada... Adrenalina correndo junto ao sangue, arrepiando todos os pêlos do corpo. Centenas de corações pulsando no mesmo ritmo alucinante, alimentando um instinto inato... O de dançar até que os tendões se explodam.

Mais do que um evento festivo. Um estado de espírito.

Impossível não se deixar levar pelo ambiente noturno. Exceto para um único rapaz, que permanecia parado ao lado do bar, com os olhos fixos na pista. Já era para ter sido puxado por alguém “afim”, se sua aparência pudesse ser vista... Sim, ele é invisível aos olhos humanos, sem precisar vestir uma roupa colante, cueca por cima das calças ou pertencer a qualquer irmandade mutante ou novela barata. O porquê, não fazia idéia... Apenas o era.

Seu nome: também não podia lembrar, por mais que se esforçasse. Mas seu propósito, este se encontrava no meio do solo colorido e abarrotado de gente no centro do salão, deixando que os cabelos vermelhos como fogo esvoaçassem enquanto se sacudia, rebolava e trocava passos como se o amanhã nunca fosse chegar. Linda, em todos os aspectos... O paraíso encontrava-se encarnado em uma única mulher. Sua protegida... A única razão pela qual vivia, desde a época que a consciência despertou-lhe a mente.

Por onde quer que fosse uma empatia sobrenatural o levava junto... Aquele assaltante que tentou abordá-la no ponto de ônibus, mas que foi parar no meio do trânsito assim que sacou a navalha. Ele que empurrou... O segundo que subiria no veículo na Visconde de Pirajá, mas que rolou as escadas de volta para a calçada fria. Foi o rapaz sem imagem que o expulsou. O “pitboy” folgado que avançou como um lobo faminto na moça, e por um infortúnio derrubou sua bebida na careca do segurança. Obra do protetor devotado...

Ouvia-a reclamar todos os dias que ninguém se importava com ela. Chorava, cansada de ser vista apenas como um pedaço de carne. Medo, insegurança, confusão... Ninguém a compreendia. Só desejava alguém para ficar ao seu lado, alguém que a amparasse. Não que dissesse que a amava, não que elogiasse cada fio de seu cabelo, mas que nutrisse realmente aquele sentimento puro, que o fizesse querê-la sempre por perto. Ao menos para ligar querendo saber como havia sido seu dia...

Porém, não fazia idéia de que esse alguém sempre existiu, somente para ela.

Seu guardião silencioso.

Era uma pena que não pudesse ser visto...

Heitor V Serpa
Enviado por Heitor V Serpa em 29/06/2009
Reeditado em 10/10/2012
Código do texto: T1672961
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