Ela se chamava Maria
Era uma vez uma adolescente, que estava prometida a um homem, que seria seu marido.
Ela se chamava Maria e só pensava no quanto seria feliz, em como faria pães tão bons para seu marido, em como teceria suas roupas e como sua casa seria varrida pelos menos duas vezes por dia e pensava nos filhos que lhe daria.
Ela não sabia ler nem escrever com perfeição, mas isso não era muito importante para as mulheres. Importante era ser mulher e mãe. Principalmente mãe.
Uma noite após as suas orações, uma grande luz encheu o aposento e um anjo de Deus – pelo menos ele disse que era – disse que ela teria um filho, por que ela era a mãe escolhida por Deus para dar ao mundo um filho que diria tudo, realmente tudo que todos os homens para sempre deveriam saber e que seria maior que Moisés, Elias e todos os profetas juntos. E foi chamada Maria da Conceição.
A moça achou estranho por que teria um filho antes de casar e isso era considerado um grande pecado. Mas o anjo – ele afirmava que era um anjo – disse que Deus a havia escolhido, então nada lhe restava senão aceitar a vontade Daquele que a criou. E foi chamada Maria da Graça.
E Maria enfrentou o pai, a mãe e o noivo – que ficou muito triste e decepcionado, afinal, a moça podia estar mentindo, com aquela estória de anjo – e disse que estava grávida, por que não pudera negar a Deus o que lhe havia sido pedido.
O anjo apareceu a José, o noivo – pelo menos foi o que José afirmou. Mas ele amava tanto a Maria! Vá se saber o que ele viu ou não viu? – que tratou logo de casar com a moça para evitar as más línguas.
Maria foi então para sua casa, fazer pães maravilhosos, tecer roupas, varrer duas vezes por dia. Até que Isabel, uma sua prima querida, que também fora alvo de um milagre a chamou para ajuda-la, pois iria dar a luz. A criança no ventre de Isabel saltou e se alegrou com a presença de Maria e ela saudou a Deus, Isabel acreditava e Maria estava feliz com isso.
Arrastada pelas circunstâncias de um censo real, Maria foi, junto com seu marido,em viagem para Nazaré.
Uma barriga enorme agora lhe pesava terrivelmente, mas ela não reclamava por que sabia que as mães passam por isso mesmo. Tão cheia estava a cidade, tão pobre era seu marido – ela não reclamava – que o descanso foi numa estrebaria, pois não havia dinheiro para nada mais.
E lá, protegido pelo hálito quente dos animais nasceu seu filhinho, que ela amou imediatamente, como qualquer mãe.
Para sua surpresa – ela já havia esquecido a conversa do anjo - as pessoas começaram a chegar e a dizer que aquela criança era o Messias de Deus, o Enviado dos Céus, o libertador. Mas para ela era apenas o seu filhinho querido, que ela cuidava de aquecer e amamentar. Aparecerem três reis do oriente, mas ela não se importou. Amamentava seu filhinho, que estava alimentado e aquecido, só isso importava.
Novas revoluções na cidade, o rei – o louco! – mandava matar os inocentes. Fugir era imperioso, proteger seu filhinho! Chorar pelas outras mães que não tiveram a mesma sorte.
O tempo passou e a criança – levada, mereceu umas boas palmadas e provavelmente as levou! – se fez um rapaz. E começou a falar e fazer coisas estranhas, que Maria não compreendia bem, mas que sabia fazer parte de suas missões. E começou a andar com estanhos amigos e a conviver com pessoas de má vida. Ela, mãe, se preocupava, insistia que ele voltasse para casa, que deixasse as má companhias, que casasse e fosse ser carpinteiro, como seu pai.
Mas aquele estranho filho, apesar de amá-la, não a ouvia. O que consolava seu coração de mãe é que por onde ela passava, vozes louvavam aquele seu filho, e o diziam santo, profeta, amor e caminho.
Um dia, ela soube que prenderam seu filhinho – aquela altura um homem feito – o torturaram e o crucificaram, de uma forma vil, como se ele fosse o pior dos ladrões.
Aquele filho que a deu a João, seu irmão mais doce e mais amado, para que fosse seu filho, para que ela fosse sua mãe.
Maria chorou todas as suas dores e foi chamada de Maria Das Dores – tantas, tantas, pela vida de seu filho.
Quando não havia mais lágrimas, trouxeram-lhe a notícia que seu filho havia vencido a morte e subira aos céus tranquilamente.
E é esta Maria, que são tantas Marias, que hoje é mãe da humanidade, espelho de todas as mães do mundo e minha mãe. Uma adolescente de Nazaré da Judéia, que teve a coragem de dizer SIM à espinhosa missão que lhe fora, por amor, confiada.
Olavo
(psicografado em 23/4/2003)