QUANDO NÃO HÁ AMOR, HÁ RUPTURA...

Uma separação é sempre dolorida. Tanto para quem decide sair da relação quanto para quem vai ser deixado...    

Quando se tem filho, a situação se complica um pouco mais porque surge aquele sentimento de culpa e egoísmo no cônjuge que tomou a atitude de separar. Culpa por fazer o filho sofrer. E o filho acaba sofrendo duas vezes. Por ele mesmo e por sentir dó da mãe abandonada. E egoísmo porque quem sai de uma relação fracassada muitas vezes pensa só em si, esquece que numa união familiar, na hora da ruptura a dor será compartilhada e geralmente quem fica não aceita o fim da “família”.  

Alexandre estava decidido a sair de casa e deixar para trás anos de uma união sem amor.   

 - Não, Jonas... Casei por simpatia, por empatia, por amizade, por admiração e esses sentimentos juntos confundiram-me com amor. Foi justo quando estava carente na cidade grande e fui acolhido com tanto carinho que qualquer uma que me oferecesse uma mão eu já estava acreditando ser amor. E você sabe como é homem carente...  Fica perdido, feito barco à deriva... – Se abriu Alexandre para o amigo de longas datas.  

 - Entendo, Xande... Mas, você pensou no Léo? Nessa idade... Ele tem treze anos não é? – Jonas interrompeu  a conversa para certificar-se da idade do afilhado.   

 - Não... Ele está com doze, ele é mais velho dois anos do que sua filha. – Respondeu Alexandre.  

 - Pois é... Nessa idade a criança fica muito perdida porque já entende das coisas e apesar de entender, fica arrasada com uma separação. E tem ainda a família da Ceci que adora você como se fosse filho e não genro! – Jonas agia feito um juiz conciliador.  

 - Sabe, Jonas que esse é um dos motivos que venho adiando essa decisão de sair de casa, de separar. Aguentei enquanto pude essa relação sem beijo, sem amor até que surgiu a Nanda... O que sinto por ela nunca na minha vida senti por outra mulher. Nem pela Inezinha, você lembra como tinha maior xodó com ela, não lembra? – Quis saber Alexandre.  

 - E se não lembro! Maior lambe-lambe que dava até enjoo! – Jonas confirmou achando graça daquela cena que lhe veio à mente.  

-Então! O que tenho sentido é muito mais forte, mais verdadeiro, mais gostoso, eu sinto incômodo quando não a vejo, quando não ouço sua voz... Acho que é amor! Pela primeira vez estou amando, você acredita?- A expressão no rosto de Alexandre era de um homem mesmo apaixonado. Foi a primeira vez que Jonas viu o amigo daquele jeito. Sim, Alexandre tinha razão. Era amor.  

 - É, meu amigo... Aí não tem jeito. Não há santo que resolva... Aliás, só santo Antônio casando vocês! E se for para continuar com a Cice sem amor e sofrendo por outra, sua vida vai se tornar cada dia mais um inferno de infelicidade. Você vai acabar transferindo toda sua amargura para sua mulher e para seu filho. - Alertou Jonas.   

- E isso é o que eu não quero. Fazê-los sofrer. Não amo a Cice, porém,  a respeito e admiro para querer magoá-la. É uma mulher e mãe maravilhosa, mas eu sei que isso não é suficiente numa relação a dois.  A união que satisfaz tem que ter amor, paixão, desejo ardente, beijo na boca... Sabe quanto tempo que eu não digo “eu te amo”? Nem eu mesmo eu sei, não me sentia bem em dizer que amava, pois no fundo sabia que estaria mentindo. Amar, amo meu filho,  embora tenha dito menos vezes do que deveria. – Reconheceu Alexandre.  

 - Para filho não devemos economizar demonstração de carinho. Agora que você vai precisar ter maior jogo de cintura e dizer para o Léo aquela célebre e verdadeira frase “filhos são para sempre” e dizer que são os pais se separam, mas não dos filhos. Se bem que tem pais que se separam e nunca mais voltam para visitar os filhos, nem mesmo telefonam! Conheço  tantos casos assim, meu caro amigo... – Disse o amigo Jonas.   

-Jamais vou deixar de amar meu filho, estarei sempre presente! Ele é tudo de bom dessa relação. Se não fosse por ele, acho que já teria terminado com a Cice a mais tempo... – Afirmou Alexandre.  

 - Olha, Xande... Vou dar um conselho porque você é como um irmão de sangue. Se você está certo nessa decisão e no que sente seu coração e se no coração da Nanda ela sente o mesmo que você, com a mesma intensidade, então siga em frente, por mais que sofram Ceci e Léo. Sofrimento maior será você viver o resto da vida sem provar o verdadeiro e forte amor. Amor esse que faz com que nossa vida seja cada dia mais feliz e que nos dá ânimo e revigora as energias, faz-nos sentir vivos, enfim. –Jonas com sinceridade aconselhou o amigo.  

- Já havia tomado a decisão do divórcio. Jonas, eu cansei de ficar vivendo uma mentira, uma relação sem amor, eu me excluí por causa da minha família, por causa da família da Cice e esqueci de mim! Na verdade, eu me casei com a família dela, eles me tratam tão bem que isso freia minha coragem de sair de casa... Quer dizer, freava! O meu amor por Nanda me deu asas e coragem para tomar a decisão na hora certa.  Eu busquei tanto o amor e ele me veio  duma forma tão diferente que nem mesmo sei... Estou feito bobo, um arlequim apaixonado... – Os olhos de Alexandre tinham um brilho todo especial. Era amor e ele sabia disso.  

Ceci e Léo sofreriam no início com o choque da notícia da separação, entretanto, seria melhor assim do que Alexandre abdicar de um amor que ele procurou pela vida toda nos braços de Ceci e não encontrou. Se não fosse por amor, ele continuaria sua vida sem cor, sem sabor em nome da moral e dos bons costumes.   


Não sei viver sem amor, não saberia, não quero saber. Eu só quero viver o amor com toda a sua intensidade até que a chama se apague ou que se inflame de vez...