Conto de Descoberta

Era uma vez uma garota que sonhava

Acreditava que lá no horizonte, bem longe

Estaria aquilo que lhe faltava

Aquilo que sempre quis ter

Mas o que era esse pedaço que lhe faltava?

Seria um pote de moedas brilhantes de ouro?

Seria o campo florido e encantado das historias que ouvia?

Seria o amor mais intenso e verdadeiro que se pode sentir?

Bem lá no fundo, ela realmente não sabia o que era.

Não sabia que pedaço era esse que faltava dentro de si.

Mas ela buscou. Caminhou, enfrentou barreiras.

Caiu, se feriu muito, e se levantou.

No caminho, se deparou com campos floridos, moedas de ouro e amores intensos.

Tão intensos que lhe tiravam o ar.

Tão intensos que as noites já não lhe eram mais tão escuras.

Tão fortes que lhe doía o peito cada pensamento só.

Tão bonitos que lhe faziam sonhar de olhos abertos.

Tão profundo que não lhe bastava a presença, mas o mais puro sentimento.

Certo dia, no ápice do amor dentro de seu coração, lhe surgiu um medo.

Um medo terrível de não chegar ao final do horizonte.

Um medo de não descobrir o que estava lá, bem longe.

Para preencher o vazio que lhe tinha cada vez mais.

Um medo que lhe fez seguir em frente. Sem olhar para trás.

Que lhe fez abandonar e renegar aquele sentimento intenso que lhe pedia calorosamente para ficar.

E o caminho foi árduo. Foi doloroso e a cada dia mais escuro.

E lá estava o horizonte. Mais lindo do que seus sonhos puderam criar.

Campos floridos, moedas de ouro, águas cristalinas.

Mas ainda assim, algo lhe faltava.

Ainda assim o vazio persistia, cada vez maior.

Ela simplesmente não entendia.

Não estaria ali a sua felicidade?

Não estaria o pedaço que lhe faltava do corpo?

Mas não era o corpo. E sim a alma que lhe pedia uma outra parte.

Que clamava por algo simples, intenso e verdadeiro.

E ela dizia: “Fui forte. Segui meu caminho sem deixar que nada me impedisse”.

Mas enfim, compreendeu.

Não era a garra, a renegação ou a dor do abandono que lhe fez forte um dia.

Mas o motivo que a levou àquele lugar.

Entendeu que não se é forte pelo que se deixa pelo caminho, mas pelo que se leva no coração.

Se é forte, quando não se sente medo, vergonha ou repulsa pelo que se tem dentro coração.

Se é forte, quando admite-se sentir sem pudor o amor mais intenso e verdadeiro que se pode sentir.

Teria sido então em vão sua jornada.

Já que o que ela buscava já havia se perdido no caminho.

E enquanto se jogava do alto da cachoeira mais límpida que já se soube, pensava:

“Sou forte. Pena que sou forte o suficiente para afastar as pessoas de quem amo de mim”.

Yara Barbosa
Enviado por Yara Barbosa em 02/03/2009
Reeditado em 10/03/2009
Código do texto: T1465546