Amor, amor

Não entrastes de chofre em minha vida, nem fizestes-vos de pouco aos casos do tempo e nem do adverso destino que nos separou por um ano. As dúvidas foram muitas, amas, não amas, deixais, não deixais, fugimos um do outro, mas a vontade do amor não é a vontade do homem, a razão não a decide tampouco o impede de acontecer. O amor tocou-te no Adeus de meu vô, tu me fizeste a imaginação virar realidade e teu desejo para minha paixão aconteceu.

Nossos olhares foram sublimes, eles se reconheceram e se desviaram. Por repulsa ao que nos poderiam pegar algum ente da família ou amigo que estava em nossa volta no velório. Lembro bem do seu jeito na grama e de como me aproximei, queria ver-te de perto.

Estavas sentada sobre as pernas, com o tronco inclinado para frente e a cabeça caída para frente à minha direita. Eu dei-lhe a volta por trás porque estavas cercada de tios, tias, primos, primas, pai, mãe e vó e vô, por todos os lados, e tu no meio deste círculo. Parei na sua frente, sentado, mirei nos seus olhos e fiquei com vergonha. Saí. Fui à direita em direção da capela mortuária.

Depois disso, eu fiquei pensando,imaginando, fantasiando que fosses se tornar minha mulher; teríamos filhos lindos e uma vida opulenta. Mas, logo, deixei as fantasias de lado e fui sofrer à morte de meu avô. Depois do enterro, no dia seguinte, acessei a internet e abri meu Orkut e tinha um convite: “deseja que Karla Vas Estero seja seu amigo (a). Sim ou Não?”, eu respondi que sim.

Em seguida, o recado:

- Oi, Tudo bem? Não sei se lembra de mim. Eu sou prima do Otávio, estava no velório do seu avô. Beijos. E eu para não desdizer as minhas vontades escrevi em sua página de recados:

- Oi, lembro sim. Adiciona-me no msn: contato@hotmail.com.

Eu pensei que seria mais uma dessas meninas sem graça que nada sabem e muito me irritam. Eu e minha tia cotinha vivíamos falando sobre as pessoas sem conteúdo, afinal, para dois leitores assíduos conhecimento era coisa importante. Enganei-me. Fiquei tão surpreso. Não acreditei que poderia ser real, apenas 15 anos.

Um sentimento de frenesi me tomou, queria conhecê-la e saber o que a garota pensava. Descobri que ela poderia ser a pessoa que me faria esquecer Ana Paula Monteiro. Eu não disse sobre Ana. Demorei um pouco para dizê-la que eu namorava.

Ela não contava as histórias dela. Mas estava namorando e por ventura tivera conhecido este em um velório também. Eu achei estranho... O que ela tem com os velórios? Um coisa ou outra,uma meu avô morreu tarde demais, outra deveria ter ido a mais velórios em minha vida.

Ela começou a namorar um mês antes de minha chegada. Por isso, disse que meu avô tardou.

Nós conversamos todos os dias. Antes e depois de ir para escola à noite, eu ainda não teria terminado o ensino médio. Foi virando rotina. Eu comecei a contar-lhe minhas histórias em Londres. De como as coisas aconteceram na minha vida, as mentiras que contei para conseguir empregos, enfim, a minha condição de ilegal.

Balthazar
Enviado por Balthazar em 22/12/2008
Reeditado em 21/02/2010
Código do texto: T1347856