A pipa

Você a enfeita com o mais lindo papel de seda e sorri feliz ao cintilar de sua garbosa rabiola. De manhã a solta nos ares e à tarde a recolhe com carinho. A vida se torna festa, seu desfilar faz o céu mais lindo e suas cores enche de alegria todo o bairro. 

As pipas são assim, sonhos que voam e encantam, não só pela beleza, mas acima de tudo pela ilusão de temos domínio sobre ela. A cada comando ela gira, rebola e risca magestosamente os céus para depois voltar a seus braços em uma marcha lenta e graciosa como uma musa na passarela.

As nuvens são traicoeiras, trazem consigo mil idéias repletas de inveja e de malignidade. Aos poucos, a pipa incorpora nova filosofia e os comandos que a encantavam são vistos agora como arrogância e machismo. Qualquer puxãozinho gera dor e a cauda se enrola em mágoas.  Aos poucos adquire vida própria até que arrebenta a linha e se perde no infinito.

Já não há o que lamentar, há muito já deixara de ser a rainha do seu céu para ser apenas um rastro de desenganos. Que voe em paz e que os ventos a ensine o valor da felicidade que perdeu e que o trovejar de seus lamentos fique bem longe dos nossos ouvidos.
Samuel da Mata
Enviado por Samuel da Mata em 01/01/2019
Reeditado em 04/09/2021
Código do texto: T6540083
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