Uma média, pão e manteiga podem ser perigosos
O ônibus chega à cidade. O rapaz consultou o relógio e constatou que já passavam das seis horas da tarde. Estava cansado. Desceu do veiculo e foi procurar um hotel. Não demorou muito e encontrou um. Era pequeno, mas confortável. Ali passaria o feriado. Ficou encantado com a cidade. Alguém lhe falou dela e ele resolveu conhece-la. Era mesmo linda e tranqüila.
O rapaz acordou cedo. Às seis horas da manhã saiu do hotel e foi dar uma volta pela cidade. Tudo estava calmo, apenas um vira-lata revirava um saco de lixo. Era um daqueles dias que parece que nada vai acontecer naquela cidadezinha turística do interior de Goiás. Estava frio. Comentou com seus botões sobre o clima da cidade.
A duzentos metros do hotel avistou um botequim. Entrou. Alguns homens bebiam cachaça àquela hora da manhã, em pé, encostados no balcão. Por um instante, ficou indeciso vendo tanta gente ali, bebendo. Criou coragem e pediu uma média com pão e manteiga. Depois, encostou no balcão e ficou esperando.
Um homem de vinte e poucos anos que acabara de entrar, ao pedir uma pinga, ouviu seu pedido. Virou o copo na boca, num só gole e, falando alto para todo mundo ouvir, disse:
- Detesto tomar pinga com gente pedindo leite.
Todos que estavam no botequim olharam para o rapaz com ar de deboche. Alguns riram com estrondosas gargalhadas. Outros caçoaram e aplaudiram o homem. De uma forma ou de outra, todos gostaram do que ele disse. O rapaz quando viu que todos olhavam e riam dele e aplaudiam o tal sujeito, ficou meio perturbado. Mesmo assim, manteve a calma e fez de conta que não ouviu e continuou esperando o seu pedido. O homem faz descer goela abaixo uma segunda dose da branquinha. Depois, acendeu um cigarro e depois de pedir outra cachaça, tirou a primeira fumaça e repetiu:
- Detesto tomar pinga com alguém tomando leite ao meu lado.
Novas Gargalhadas, novos aplausos. O rapaz continuou em saliêncio. Sentia vontade de sair dali correndo. Mas continuou firme, fingindo que não era com ele. O dono do botequim observava tudo de longe, enquanto prepara a média e o pão com manteiga. Parecia que não tinha pressa. E o rapaz doido para ir embora. Aqueles minutos de espera pareciam uma eternidade. Aí, o homem num gesto brusco atira o cigarro à rua e se dirige a ele:
- Você ouviu o que eu disse? Não gosto de gente tomando leite perto de mim, quando bebo a minha pinga.
O rapaz ficou embasbacado e não disse nada. Os outros riram.O homem bebeu mais um trago e continuou com a mesma conversa:
- Não gosto de tomar pinga com gente bebendo leite.
O dono do botequim trouxe a média e o pão com manteiga. Neste instante, para seu assombro, viu o homem levar a mão à cintura e alisar o cabo de um revolver que trazia por baixo da camisa, enquanto falava alto para todo mundo ouvir:
- Tenho raiva de quem toma leite....
O sujeito nem tinha acabado de falar e o rapaz já havia abandonado a média e o pão com manteiga, em cima do balcão, e batido em retirada, prometendo a si mesmo, nunca mais botar os pés naquela cidade.