A ponte caiu !
Era madrugada, mais ou menos por volta das três horas da manhã. Neste dia fomos todos dormir bem cedo. Na manhã seguinte meu filho tinha um torneio importante e precisávamos estar no estádio as seis horas da manhã .
Tenho o sono muito leve, e quando há um compromisso no dia seguinte fico mais sensível ainda e propensa a acordar com barulhos mínimos.
De repente ouço um barulho estrondoso no corredor que fica entre o muro e a minha casa, na hora percebi que o Bartô (meu felino manhoso e arteiro) havia derrubado a pontezinha que fiz para facilitar suas entradas e saídas noturnas.
A ponte é feita de um pedaço de madeira que achei largada na horta. Tem uns pregos, mas tomo o cuidado de deixar virada para baixo ( a parte dos pregos) , para que Bartô não se espete. Se bem que , acredito que ele não corra perigo. Pois segundo meus cáuculos, ainda restam cinco vidas para ele.
Tenho certeza, de que perdeu uma na semana passada quando ficou preso ao portão por alguns minutos. Porque eu não achava a droga do controle dentro de minha bolsa para abrir e salvar o peludo de um achatamento de costelas!
Meu marido odeia a tal ponte, por que quando chove o bichano deixa suas pegadas na janela tanto do lado de dentro como do lado de fora (pintamos recentemente a casa). Marquinhas de patinhas, nada demais! Nem sei para que tanta preocupação!
No instante em que ouvi o barulho da madeira se despencando, ouvi também um rosnado furioso, barulho de cascalho sendo agitado aos passos de minha cadela boxer Nikita . O barulho indicava que ela estava correndo e resfolegando atrás de um ser desafortunado e imensamente azarado!
Não tive dúvidas, só podia ser Bartô que desajeitadamente havia caído da ponte sobre a cachorra enfurecida. Sei que são amigos durante o dia, mas sempre desconfiei de que a Nikita devia ter um certo ressentimento da pose de abusado do Bartô e de suas mordomias (como dormir onde quisesse mesmo dentro de casa onde para ela era território proibido), e havia se aproveitado da escuridão, do tardio da hora e fingiu não reconhecer o bichano. Partindo assim, para o ataque e vingando-se da clara preferência que a dona demonstrava pela bola de pelos branca.
Num salto pulei da cama, depois de passar por cima de meu marido , quase o deixando inutilizado (ufa ,ainda bem que pisei na coxa) , abri com estouro a janela e comecei a gritar:
- Nikita!!!Larga ele !!!!Larga!!!!Larga!!!!
Ela não largou coisa nenhuma, ao contrário ficar mais agarrada era impossível ! O gato estava todo dentro da boca dela.
Era uma nuvem de poeira, gemidos , grunhidos , babação e histeria, esta última por minha conta, pois eu gritava tanto que praticamente todos os vizinhos já haviam aberto a janela!
Meu filho apavorado estava agarrado as minhas pernas gritando enlouquecido como a mãe perguntando(ele tem oito anos,e deveria estar dormindo tranquilamente):
- O que é mãe? O que é mãe? Deixa eu ver!!!!
-Larga ele sua monstra!!! – Eu gritava.
Olhei para o meu marido , que aturdido massageando a perna atingida por mim no salto triplo sobre ele, tentava ver alguma coisa no emaranhado de grunhidos no jardim.
- Faz alguma coisa!!! –Berrrei
Ele saiu correndo para rua ( estava só de cuecas), deu a volta no jardim e conseguiu chegar até o campo de batalha. A cadela louca, doida varrida sacudia o peludo para lá e para cá, desatinada em fúria.
Meu marido (de cuecas, vale lembrar) gritava com ela, puxava pelas ancas, batia com o tênis que havia recolhido na passagem pela lavanderia e ela nada de largar o bichano.
Os vizinhos aturdidos ,saiam de suas casas e espiavam em seus portões a fim de ver a chacina (e meu marido de cuecas).
Depois de muitos berros, e ataques histéricos da família toda ,Nikita finalmente largou o gato.
Ela saiu de mansinho e se escondeu sob a churrasqueira, certa de que a bronca estava por vir.
Ele o gato ficou gemendo encolhidinho no canto da casa, depois de alguns minutos que pareceram uma eternidade ele levantou meio zonzo , pulou o muro e se escondeu.
Meu marido (só de cuecas) acenou para os vizinhos indicando que tudo estava bem.
Meu filho nervoso deitou na cama ainda tremendo .
E eu, olhei para o lado constatando que havia um terceiro espectador angustiado na janela olhando toda aquela comoção. Era Bartô. Sim, o meu peludo!! Estava tão apavorado quanto todos nós ,e olhava muito intrigado , ora para fora , ora para minha cara de choro.
Dei um abraço apertado ( ele odeia abraços apertados), sentei na cama e sorri aliviada!
Não era Bartô a vítima da cachorra raivosa! Certamente era algum amigo de Bartô que ,desavisado havia o seguido e por azar caíra da ponte.
Graças a Deus!! Voltamos para a cama , desta vez eu , meu filho , Bartô e meu marido ( de cuecas). Espero do fundo do meu coração que o outro gatinho( que não sei como confundi com Bartô , pois segundo o relato de meu marido, era cinza) esteja bem.
Ps: Bartô nunca dorme nos quartos, neste dia recebeu este mimo. Posso afirmar que ele adorou, pois ficou o restante da noite sovando com suas patinhas o edredon !