Chico Damantino
Chico Damantino
E foi numa daquelas pequeninas cidadinhas do interiô nordestino, donde ocorreu o causo que agora vos narro.
Como toda interiorana que se preze, lá, tinha uma pracinha, e lá, bem no meio da pracinha, tinha uma fonte que jorrava dia após dia e era o mais próximo do que nois pudemo chamar de projeto de cartão postal de uma cidade, já que nada mais perlaquela redondeza, parecia chamar mais atenção do que pinto em miará.
Inda lembro quando eu era piquitinho assim, meuzavós contava a históra de Chico Damantino, sujeito que endoideceu desdi novo, quando perdeu a noiva prum diabo duma duença de rico lá. Dispois disso, todo o dia, ia para a pracinha e disinbocava a chorá todo santo dia. Vivia oiando a fonte que tanto sua noiva adorava. Dispois de uns tempo, não é que o cabra deu a achar que controlava as águas da fonte da praça?! Passava todo o dia sentado nauquele banquim, olhando fixo prus jorru, fazendo uns movimentu com as mão.
Só saia dalí quando a mãe vinha buscá para armoçar e pra durmi. E o doido só ia durmi lá pras tantas, quando a prefeitura mandava disligá as água da fonte.
Quando tinha muita genti puralí, ele vazia era chô. E levantava, e corria pur vorta da fonte, e pulava, e vazia feito aquelis chefe de banda, com a mão e batuta, dizenu que jorru que divia jorrá, que jorru que divia num jorrá. Ficou logo conhecido... Pra modo de que prus muleque que purali morava, feitu papai, piquitinho nesses tempo, era o maió mutivo de chacota na cidade. Era o homi das água pra cá, homi da água pra lá, mas seu Chico Damantino num ligava praus muleque não, ficava ali ó, na dele, controlanu suas água. Num ligava pruque os outro dizia não.
Quandu chergô a idade, morreu de morte morrida, já véinho. Morreu fazenu o que gostava. Reger as água da fonte em hominage à muié que tanto amô.
No dia que se sucedeu apóis a morte do velho Damantino, teve quem achasse que as água tavam diferente...
Fevereiro 2008
Duke