Le Chartreux - Um gato chamado Cartuxo
Capa: Pintura de Jean Baptiste Perronneau: Magdaleine
Pinceloup de La Grange.
Le Chartreux
(Um gato chamado Cartuxo)
Miau. Diz a lenda que a princesa Isabel fora passear com seu papis Dom
Pedro na França, quando viu um gato da raça Chartreux em uma loja de
animais. “ fofinho, fofinho” exclamou Bebel. “ compra papis” Pedrão
comprou, embora fosse alérgico a gatos, só para agradar a filha. Trouxe o
animal ainda filhote para o Brasil. Voltaram de avião quatorze bis feito por
Santos Dumont. Dumont projetou e construiu o avião na França já que
nunca recebeu nenhum apoia do Brasil. Nem muito obrigado.
O gato chegou aqui com sotaque francês. Educação francesa. Conforme foi
crescendo foi perdendo a vergonha. Foi abrasileirando -se. O bichano vivia
no colo da princesa. Bebel assistia a novela das seis com o gato no colo. A
princesa colocou no gato o nome de Cartuxo. Dom Pedro o chamava de
Encartuchado. O bicho era maroto. Arranhava o sofá da família real.
Quebrava vasos de porcelana.
Pulava, rolava, ronronava. Assim foi crescendo. Quando entrou na
juventude começou a subir nos telhados do palácio Boa Vista. Mexia na
antena de TV, bem na hora que Pedrão estava vendo o jogo do Flamengo.
Aprendeu a malandragem carioca. O samba. As rodas de samba. O correr
atrás de bola, sem bem que os gatos naturalmente correm atrás de bola.
Virava as madrugadas na gandaia.
Fez amizade com um “chat de gouttière” como dizia Cartuxo ou gato vira
lata como se fala no Rio de Janeiro, chamado Rueiro. Que lhe ensinou
muito sobre a vida na rua. A fugir dos cachorros. A roubar nas casas
comida. A pegar as “gatinhas” Rueiro era um gato vadio, um gato de rua.
Não tinha família para cuidar dele. Ele tinha uma pelagem preto e branco.
Era frequente nas rodas de samba
Cartuxo corria atrás de gatas a noite fazendo barulho nos telhados. Pedrão
pedia para Bebel se desfazer do gato. Bebel dava risadas. Sabe como é
princesa. Mimosas. O gato ia toda noite para a marancangaia. Numa
ocasião em que estavam reunidos príncipes da Áustria na casa de Pedro, o
gato começou a acasalar se com uma gata na frente dos convidados. Os
gatos não tem vergonha de fazer na frente dos outros. Pensam que a casa
da gente é bordel ou motel.
Como dizem: “ malandro é o gato” Isabel e Pedro ficaram com vergonha.
O gato não parava de meter. Disse que só ia parar depois de gozar, estava
gostoso demais e não dava para parar. Foi quando Pedrão pegou uma jarra
de água fria e jogou nos gatos. Apagou o fogo do bicho. A princesa tentou
reeduca lo. Matriculou o no colégio Des Oiseux. Tradicional colégio de
São Paulo, mas as meninas mimavam o muito. O bicho era safado. O bicho
nem estudava. Cabulava aulas. Pilantra. Bebel tentou devolve lo a França
que o rejeitou. Não quis repatria lo. Segunda a França já estava
contaminado pelo vírus da brasilidade.
Negócio era chamar Dona Chica para dar lhe umas pauladas. Certa feita
Cartuxo escorregou do telhado do palácio e quebrou a pata. Bebel o levou
ao hospital veterinário Alberto Einzestein. Custou o olho da cara, mas
quem pagou foi o povo brasileiro. O bicho ficou com a pata engessada. O
bicho não morreu porque tem sete vidas. Cartuxo ficou com medo, ele não
gostava de hospitais ficou com medo de ser castrado. Havia no palácio
um grande bandeira imperial onde Cartuxo afiava as unhas e por isso já
estava toda rasgada. Apesar de tudo, as coisas estavam bem na monarquia.
Pedro com o cú sentado no trono e coçando a barba branca. Bebel snobe e
rebelde como sempre. Alforriando aqui e ali. Deixando os fazendeiros
bravos. Mas o exército tramava a república. Um velho com barba chamado
Deodoro Fonte Seca. Naquela época para ser macho tinha que ter barba ou
bigode. Tinha um tal Floriano também, não o Pacheco era o Floriano
Peixoto.
Pedro não percebia mas os fazendeiros e os coronéis bravos com as
molecagens de sua filha tramavam bem abaixo de suas barbas. Um dia
Cartuxo foi na maracangaia e seu amigo vira lata chamado Rueiro lhe
contou: “ ei, compadre. Você não sabe do boato que tá rolando?” Cartuxo:
“ Mercy, me conta por favor Seigneur?”
Rueiro: “ tá rolando um boato que um barbudo vai proclamar a república.
Monarquia já era. Tua vida de burguês e fidalgo vai acabar. Se fosse tu, já
dava no pé. Cartuxão” Cartuxo rolou no chão e deu risadas e falou:
“ tudo isso é piada, o valente Duque de Caxias ama e venera o imperador.”
Rueiro “ aquilo é um traíra”
Cartuxo foi pela sombra para o palácio real. Na manhã seguinte foi
proclamada a república. A família real arrumou os panos de bunda e foi
para a Europa. Como a França não aceita fauna e flora de outros países
devido a segurança biológica Cartuxo ficou no palácio. Os republicanos
transformaram um palácio em museu e expulsaram o gato de lá. Cartuxo
foi morar em um barraco no morro da carioca. Onde conheceu um gata
preta chamada Jurema. Gata bonita e de olhos verdes da cor de licor
Chartreuse.
Na primeira ninhada nasceram seis filhotes. Na segunda nove e na terceira
quatro. Todos recebiam bolsa família. Assim nasceu o povo brasileiro. Um
povo mestiço. Um povo nascido nas rodas de samba. Na boemia carioca.
O Brasil mudou o sistema de governo de monarquia para república, mas
nada mudou para o povo. Absolutamente nada. O país mudou de dono.
Hoje em dia deputados e senadores vivem como reis e são a nova
monarquia. Trocamos seis por meia dúzia. Os políticos atiraram o pau nas
costas do povo e a Dona Chica se Admirou do berro que o gato deu:
“ Miau”
Moral da historia, Segundo La Fontaine:
“ Os gatos tem sete vidas, tem gente que tem uma só e ainda cuida da vida
alheia. Vai cuidar da vida dos gatos, eles tem sete vidas”
vamos todos juntos ao som do piano:
“Atirei o pau no gato, mas o gato não morreu. Dona Chica admirou se do
berro que o gato deu”
Nenhum gato foi machucado nas gravações.
Gravado nos estúdios “malandro é o gato”
Inspirado no livro A Cartuxa de Parma de Stendhal.
FIM