O ladrão de galinhas.

O ladrão de galinhas.

Eu morei e trabalhei em Carolina, no sul do Maranhão, em 1987. Pense numa cidade pacata! Não sei como estão as coisas por lá nesses dias. Afinal já se passaram 34 anos.

De tão pacata, chegava a ser monótona. Não acontecia, “bisulutamente” nada. Poder-se-ia dizer com segurança que se poderia dormir com as portas da casa abertas, sem sustos de qualquer ocorrência. Até arruaças de bêbados era incomum.

Geraldo, o delegado de polícia e seus dois polícias eram os funcionários públicos mais sem utilidades do planeta.

Não poucas vezes, eu passei pela delegacia de polícia e estava fechada.

Por mais estranho que fosse, ainda tinham férias anuais. Suas únicas atividades era jogar damas na porta da delegacia.

Carolina era aquele típica cidade interiorana onde todos se conheciam em decorrência do tempo que não corria. Junho e julho eram o mês de maior efervescência pelas festas de São Pedro e férias escolares e ainda pelas coroas do Rio Tocantins.

Para ajudar na monotonia, existia uma única repetidora de sinal de televisão na cidade e que só funcionava até às 24 horas. Isso era motivo de, não poucas, reclamações. Imagine você está assistindo um belo filme e à meia noite, alguém desligar o sinal e lhe deixar na saudade! Depois disso, o silencia era generalizado.

Uma noite, um dos policiais resolveu fazer uma ronda por conta de sua insônia, ou por intuição de ofício. Lá para as tantas, eis que ele dá de cara com um indivíduo suspeito, com uma galinha debaixo do braço, andando por uma rua pouco iluminada! Claro que as evidências eram irrefutáveis. O meliante estava furtando a penosa. Diante do fato, o policial fez valeu sua autoridade.

- Espere aí seu cabra! Pra onde você pensa que vai levar essa galinha?

Antes que o acusado esboçasse qualquer defesa, veio a sentença:

- “Teje” preso e não quero lero lero.

Na mesma cela ficaram o ladrão e o produto do furto.

Só que, no dia seguinte, enquanto tomava seu café da manhã, despreocupadamente, ao saber pela Rádio Calçada, da ocorrência da noite recém finda. O delegado Geraldo saiu às pressas rumo à delegacia para resolver a treta.

O problema residia no fato da prisão ter ocorrido por simples suposição do policial. Não havia denúncia formal, o flagrante não se sustentava e o acusado resolveu ficar calado. Diante disso, ao meio dia, o delegado resolveu libertar o preso e aguardar os acontecimentos futuros.

Os dias se seguiram sem que ninguém registrasse qualquer ocorrência e para piorar, a força policial herdou a incumbência de custodiar o suposto furto. O estado arcaria com as despesas de alimentação da ave, até que alguém reclamasse a posse.

Passados sessenta dias, mesmo com a notícia ter se alastrado pela cidade, ninguém se apresentou como dono do galináceo. No entanto, diariamente, apareciam na delegacia, pessoas para ver a galinha no xilindró e saírem fazendo gozações.

Um dia, misteriosamente, a galinha sumira da prisão sem deixar pistas. Virara fantasma. Anoitecera e não amanhecera na prisão. Esse fato causou mais espanto e indignação que o furto da galinha e a prisão injusta do acusado. Era inacreditável que um delegado e dois policiais pagos com dinheiro público, não soubessem explicar essa grave ocorrência. Não demorou muito para que a fachada da delegacia amanhecesse pichada com as frasee; ”Queremos a galinha! “Cococoricó!”, “a galinha é nossa”.

A primeira providência do delegado Geraldo foi dizer que o inquieto polícia estava transitando em segredo de justiça e que tudo seria devidamente esclarecido à sociedade no tempo oportuno.

Isso foi um santo remédio para que o tempo retornasse ao seu curso lento e o fato fosse aos poucos sendo esquecido, mesmo com uma outra frase escrito no muro do Colégio Sertão Maranhense: “Coitada da galinha, se não morre pelo ladrão, não escapa do delegado”.

Isso porque tinha gente que, à boca da noite, jurava que virá o delegado entrando em casa com uma galinha esperneando dentro de um saco de pano.

A máxima que resume a história: o que tem de ser, será, pois nada foge de sua natureza.