A convidada
Quando Georgina chegou em casa, já eram 7 da noite e o marido dela, Daniel, estava obviamente inquieto.
- Mas o que foi que aconteceu? Faz duas horas que cheguei e você não estava em casa! - Questionou ele sem sequer cumprimentar a esposa, de pé no vestíbulo da casa paroquial.
Ela, vestida de modo elegante demais para ter ido visitar uma amiga, fechou cuidadosamente a porta atrás de si e o encarou de modo analítico como se o encontrasse pela primeira vez - e não estivesse gostando do que via.
- Desculpe, eu teria ligado, mas nós não temos telefone - declarou, girando sua melhor bolsa entre as mãos.
- Claro que não temos telefone! - Exclamou ele contrariado. - Mas você poderia ao menos ter deixado um bilhete!
- Disseram para não fazer isso - disse Georgina. - Que quando voltasse, poderia contar a você... ao menos parte da história.
- Quem "disseram"? - Questionou Daniel, mãos nas cadeiras.
Georgina deu de ombros.
- Os dois cavalheiros do MI-5 que vieram me buscar, mais cedo.
Daniel franziu a testa.
- Quer que eu acredite que se produziu toda para um interrogatório no serviço secreto? Supondo que essa parte seja verdadeira?
Georgina parou de girar a bolsa e o encarou bem nos olhos.
- Não foi um interrogatório, Daniel. E me disseram que me arrumasse para encontrar quem estava à minha espera.
Daniel ergueu os sobrolhos e cruzou os braços.
- Você foi levada por dois agentes do MI-5 para um... encontro?
- Não era o que você está insinuando - replicou calmamente Georgina. - Na verdade, eu fui chamada para tomar chá. Com o rei.
Daniel arregalou os olhos. Ou a mulher estava ficando louca, ou...
- Você foi sorteada em algum tipo de loteria cujo prêmio era tomar chá com o rei? Ou ele realmente sabia da sua existência e mandou chamar você, especificamente?
Georgina balançou a cabeça.
- A segunda alternativa. Ele queria ouvir a mim, especificamente. Por isso pediu ao serviço secreto que mandasse dois agentes à minha procura.
Daniel começou a pensar se a esposa estaria realmente dizendo a verdade, por mais absurdo que aquilo parecesse.
- E... sobre o que ele queria a sua opinião? Partindo do pressuposto de que ele sabia quem você era.
Georgina balançou novamente a cabeça.
- Ele sabia quem eu era: uma diaconisa de vila. Já sobre o tema principal da nossa conversa...
Parou de falar um momento, para apreciar a tensão tomando conta do corpo do marido.
- ... é assunto de segurança nacional, punível com a pena de morte.
Passou por Daniel, que continuou parado, sem se virar, e acrescentou antes de seguir para o quarto do casal:
- Mas posso dizer que comi o melhor sanduíche de salada de ovo da minha vida!
- [23-09-2023]