SÓ FOI TOMAR UM CAFEZINHO (conto)

É dolorido ir ao velório de um amigo, do amigo especial, que era casado com a amiga especial há anos... André não gosta, mas compareceu. Não poderia deixar os dois sem a sua presença nessa hora difícil. Gustavo, logo será perpetuado na eterna morada, e Aninha seguirá a sua vida sendo uma viúva. Ele estará, certamente, em um bom lugar. Ela, depois de choros, deixará a viuvez e continuará vencendo seu desamparo ou desconsolo, privação ou solidão?

André é Funcionário Público como o finado amigo. Fiscais de Obras. Nada fanáticos. Faziam o essencial, e quando as obrigações apertavam na repartição, sussurravam: vamos fiscalizar obras importantes e tomar um cafezinho. Iam, demoravam, tomavam vários cafezinhos e nada fiscalizavam.

André é sensível demais. Não suporta as tragédias e fica sem ação diante das mazelas. Sem saber o que falar ou explicar. E Aninha, ao ver o amigo, o escolhe para ser ouvidos de desabafos, chorando e enaltecendo o marido. Mostrava a sofrência dolorida e infindável; André se angustiava. Ela, chorava e até contava sem pudor as intimidades, os planos do futuro; André se angustiava.

Mas, o sofrimento, se faz algo, provoca é o descontrole e, ela, chega ao máximo do desespero abraçando o amigo, ensopando a sua camisa de lágrimas sentidas, de incertezas e medos. André, diante da sua sensibilidade, não sabe o que fazer para consolar, o que responder e no que ajudar? Então ele a abraçou com afeto e balbuciou o seu consolo à amiga:

— Calma, Aninha! Gustavo só foi fiscalizar algumas obras e tomar um cafezinho. Ele volta logo!

Arabutã Campos
Enviado por Arabutã Campos em 05/08/2023
Código do texto: T7853938
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