O jogo virou, Zé Porrinha deu o troco

Quem me ver hoje de terno e gravata, atrás de uma mesa em um escritório climatizado, não faz ideia que eu já fui trabalhador braçal, na verdade nem tão braçal assim, eu era o orçamentista de uma pequena marcenaria de fundo de quintal, na verdade criei esse cargo para ter uma função pois o marceneiro proprietário não sabia precificar o valor do seu serviço. Nos momentos em que eu não estava em visita aos clientes executando orçamentos ou no telefone cotando preços e fazendo pedidos de materiais ajudava a equipe na produção das peças. E como de praxe no horário do almoço, partíamos para Tendinha de Seu Jorge, um coroa esguio, com um medalhão de prata no pescoço, sempre com aquela fala mansa, mas com uma habilidade muito peculiar nas anotações do famigerado fiado. Peculiar habilidade pois por mais que você comprasse rigorosamente os mesmo itens diariamente, no meu caso uma dose de cachaça, uma garrafa de cerveja e um cigarro a retalho na sexta-feira dia do pagamento a conta era sempre diferente para cima. Reclamava-se mas de nada adiantava, certo dia o limite de Zé Porrinha, um mineiro muito gente boa chegou ao fim, sua conta chegou com o valor duplicado como se ele não tivesse pago a semana anterior, Zé Porrinha pagou a conta e ao chegar na marcenaria disse que se vingaria.

Passou o final de semana e na segunda-feira Zé Porrinha avisou para a gente consumir legal na Tendinha pois essa semana ele daria o troco, chamou uma namoradinha dele e mandou a moçoila comprar de tudo que fosse necessário, meio receoso perguntei o que ele ia fazer e ele apenas me respondeu:

-Consuma…

Na quinta como de costume, peguei meus aperitivos e uns mimos para incrementar o feijão da sexta, quando percebi que Zé Porrinha estava com a caixa de ferramentas, pensei que ele faria algum serviço, extra, mas na verdade, fazia parte do plano, no descuido de Seu Jorge, ele jogou o caderno para dentro da caixa e foi embora, chegando na marcenaria mineiro acendeu o fogareiro e sem pensar duas vezes jogou o caderno na brasa que em poucos minutos virou pó. No dia seguinte fui beber minha cachacinha para abrir o apetite e Seu Jorge estava todo inquieto peguei meu cigarro, a cerveja e pedi a conta. Ele ciscou de um lado pra outro, colocou a mão na cabeça e me perguntou o que eu consumi naquela semana, eu disse o mesmo de sempre 5 doses, 5 cigarros e 5 cervejas dei o dinheiro e sair sorrindo, logo que o pessoal descobriu que o caderno sumiu o clima de vingança pairou no ar, gente que devia mil alegou que só devia cem e os acréscimos habilidosos de Seu Jorge foram diluídos na vingança do Zé Porrinha.

Você pensa que ele aprendeu a lição, piorou, agora o cliente compra uma caixa de fósforo ele lança um pacote, compra 2 cigarros a retalho ele coloca dois ll pauzinhos na hora da conta o dois vira onze e por ai vai.

Dizzy César
Enviado por Dizzy César em 09/06/2023
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