Nem perceberam que estava doente

Depois de passar muitas ruas avista a velha casinha que o viu nascer.

Seus olhos se enchem de lágrimas. Mais de Cinquenta anos. Tira os óculos limpa-o pra enxergar melhor. “Quanto tempo, nada mudou – e respira fundo. Até o cheiro é o mesmo! Cheiro de mato mesmo com essa selva de pedra. Só não tem mais cheiro de fumaça porque agora os fogão são todos a gás. Mas não reconhece ninguém que passa apressado, será possível? Vê na porta da farmácia o Zé Carioca! Velho careca, seu bigode branco, as rugas e o corpo encurvado pela idade, não mudou nada. Nem vou precisa perguntar como se chega ao centro da cidade vou a pé mesmo, guiando-se por suas lembranças. O centro continua como era. A praça. A Igreja, prefeitura, até o vendedor de bilhetes na frente do Clube Comercial

parece o mesmo.

Até quem fim!!! Uma conhecida....

— Você não tinha um cachorro?

— O Cusca? Morreu, ih, faz vinte anos.

Ele sabia que subindo a Rua Quinze vai dar num cinema.

Sobe a Rua Quinze. O cinema ainda existe. Mas mudou de nome. Agora é o

Rex. Do lado tem uma confeitaria. Ah, os doces de minha infância…. Ele entra na

Confeitaria. Tudo igual. Fora o balcão de fórmica, tudo igual. Ou muito se engana

Ou o dono ainda é o mesmo.

— Seu Adolfo, certo?

— Lupércio.

— Errei por pouco. Estou procurando a casa onde nasci. Sei que ficava

Ao lado de uma farmácia.

— Qual delas, a Progresso, a Tem Tudo ou a Moderna?

— Qual é a mais antiga?

— A Moderna.

— Então é essa.

— Fica na Rua Voluntários da Pátria.

Claro. A velha Voluntários. Sua casa está lá intacta. Ele sente vontade de

Chorar. A cor era outra. Tinham mudado a porta e provavelmente emparedado

Uma das janelas. Mas não havia dúvida, era a casa da sua infância. Bateu na

Porta. A mulher que abriu lhe parecia vagamente familiar. Seria….

— Titia?

— Puruca!

— Bem, meu nome é….

— Todos chamavam de Puruca. Entre.

Ela lhe serviu licor. Perguntou por parentes que ele não conhecia. Ele

Perguntou por parentes de que ela não se lembrava. Conversaram até escurecer.

Então ele se levantou e disse que precisava ir embora. Não podia, infelizmente,

demorar-se em Riachinho. Só viera matar a saudade. A tia parecia intrigada.

— Riachinho, Puruca?

— É, por quê?

— Você vai para Riachinho?

Ele não entendeu.

— Eu estou em Riachinho.

— Não, não. Riachinho é onde moro. Faz muito tempo que mora lá?

— Faz!

Durante alguns minutos os dois ficaram se olhando em silêncio. Finalmente a

Velha pergunta:

— Como é mesmo o seu nome?

Mas ele estava na rua, atordoado. E agora? Não sabia como voltar para a

Rodoviária daquela cidade estranha.

Jova
Enviado por Jova em 18/04/2023
Reeditado em 18/04/2023
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