O CAUSO DO SUBMARINO
Era dia de feira quando seu Olegário chegou no bilhar de Tota Medrado, sentou-se na primeira mesa perto da porta e pediu com aquele seu vozeirão que Marcolino trouxesse uma cerveja véu de noiva, porque o calor estava a ponto de tocar fogo no mundo.
- Seu Olegário, o senhor viu o caso do submarino russo que se perdeu?
- Eu vi, mas aquilo foi sabotagem. Submarino é fácil demais de ser manobrado, só perde ele quem é ruim de direção ou quem é atacado, mas a guerra já acabou, faz tempo como diabo.
- O senhor entende de submarino, seu Olegário?
- Óxente, menino! Comigo não tem esse negócio de dizer- num sei fazer isso não.
E com os olhos perdidos num ponto qualquer do passado, seu Olegário narrou...
Era já no finzinho da guerra contra os alemães eu tinha dado baixa do exército, aí o almirante Tenório meu amigo de longas datas, que era ministro da marinha, foi lá em casa e me perguntou se eu podia fazer o favor de comandar o submarino que estava patrulhando o litoral daqui do Nordeste porque tinha aparecido um boato de que tinha submarino alemão bombardeando os navios brasileiros.
Eu disse a ele, ói Tenório, eu estou meio desencantado com essa guerra, com esse chove e não molha, com esse tal de Hitler que ninguém tem coragem de ir lá botar esse cabra no lugar dele...
Ai o almirante Tenório me disse, ói Olegário, se o caso não fosse sério demais eu não teria vindo aqui perturbar a sua tranquilidade...
Eu acho que você não está sabendo que esses condenados estão bombardeando nossos navios de passageiros com brasileiros dentro.
Essa notícia foi mesmo que botar gasolina no que já está pegando fogo.
Me levantei da cadeira, chamei Maria e disse a ela. – Oh! Mulher, eu vou com Tenório aqui resolver um problema, acho que só vou voltar no mês que vem.
E dali mesmo saímos no jipe do comando naval para a capitania dos portos.
Me deram a farda de capitão, eu embarquei e zarpamos na mesma hora.
Dois ou três dias se passaram sem que tivéssemos avistado nada.
Mas eu sou macaco velho, sei que submarino tem que subir de vez em quando para tomar ar novo, aí mandei mergulhar e botei um vigia dia e noite montado no periscópio.
Não teu outra, o submarino alemão subiu para respirar quase na nossa frente.
Mandei preparar o torpedo, mas o imediato me disse que estávamos sem munição.
Não tive dúvida, mandei aprumar a proa bem no meio do submarino deles e dar a velocidade total.
Aí o imediato me disse, seu Olegário, se a gente bater de frente no barco deles, a gente afunda também.
Eu respondi na bucha, você nunca leu vinte mil léguas submarinas não, foi?
Ele ficou meio ressabiado, mas sabe como é militar, ordem é para ser obedecida.
E, dito e feito. Pegamos o barco deles bem no meio. No nosso, submarino só fez um machucãozinho na venta.
Resgatamos a tripulação alemã e entregamos eles para a polícia.
Em menos de quinze dias eu já estava de volta em casa...