Causo 7 do livro "Casos Inacreditáveis de Coribe", de Marcos Macedo

Causos de Coribe - Gado é ótimo, mas pode ser assustador numa noite sem lua

 

| São histórias do povo que, num mundo cheio de problemas, tornam-se um bom remédio para se obter uma boa e merecida distração | 

 

Um lugar que é caminho para a famosa vila Água do Carmo, conhecido como Campininha, sem delimitações precisamente marcadas e do conhecimento apenas dos moradores que ali passam, principalmente para catar pequi no povoado Riachinho, foi berço de acontecimentos assustadores com alguns residentes do povoado coribense Ispiau.

 

Além de servir de estrada, aquele pequeno lugar tinha, tempos atrás, outra grande importância: ali existe o melhor barro de gerais da região. O povo o utilizava para misturar com areia e “barro colento” para construir casas, uma vez que não se via massa de cimento naquela época. Sua extração se dava com enxadão, enxada e pá; já o transporte ocorria por meio de carro de boi. Tal meio de transporte, quando utilizado para transportar barro, areia e tudo o mais que derrama, com exceção de líquidos, era forrado com couro de boi.

 

Dito isto, vamos ao caso do gado mal-assombrado!

 

Ruy Barbosa, um homem bastante gente boa, rumo ao Ispiau, vinha a cavalo da Vila Nova, um dos maiores aglomerados de casas do município de Coribe, distante 20 km da sede.

 

Ao invés de passar pelo povoado do Tingui, seguindo a estrada certa, quis cortar caminho passando pelo mata-burro de Itambé que, necessariamente, o levaria a passar na Campininha. Mas já estava à noite... e sem lua!

 

A decisão não foi das melhores. É melhor percorrer uma distância maior numa estrada boa do que uma menor num caminho perigoso! Afinal de contas, a fama do caminho escolhido por Ruy não era nada boa!

 

Após pouco tempo andando naquele breu, ele ouviu uma boiada berrar. Parou o cavalo, olhou para todos os lados, suou frio, mas não viu nada.

 

Continuou andando. De repente, ouviu o barulho de pisadas de gado atrás dele. Parou novamente e olhou em todas as direções. Nada viu! O silêncio tomou conta do ambiente... e a escuridão também! Sabe-se que, mesmo no escuro, é fácil perceber a presença de gado.

 

Sempre que Ruy começava a andar, o gado – para não dizer outra coisa – iniciava a perseguição. Quando parava, os animais paravam também e o silêncio dominava, fazendo-o ouvir sua própria respiração.

 

Morrendo de medo, ele segurou o chapéu, pôs o cavalo em galope e arrochou as esporas, passando a ouvir, imediatamente, o som inconfundível da carreira das vacas e bois o seguindo. Alguns passavam na beira da cerca, onde tinha muito mato, gerando o som característico, mas Ruy não os via.

 

Ele não aguentou a pressão daquilo, reduziu a velocidade e foi parando aos poucos. Entretanto, antes de parar por completo, ouviu o berrado daquela boiada invisível, como se todas as vacas e bois estivessem berrando juntos e ao mesmo tempo, o que gerou um pânico terrível nele.

 

Ruy Barbosa deu um grito naquela boiada. Quando o eco sumiu no horizonte estrelado e escuro, veio se arrastando do meio do mato um imenso couro de boi branco e luminoso e o cobriu, derrubando-o do cavalo.

 

O animal deu uma arrancada e foi para a beira da cerca comer capim.

 

Ruy, por sua vez, ficou caído no meio do areão. Logo levantou-se tremendo de medo e se locomoveu, bem devagar, na direção do cavalo para evitar que disparasse, o que o deixaria sozinho naquele lugar. Com jeitinho, conseguiu montar nele e foi embora.

 

A partir daquele momento, todo o percurso restante não teve a presença de coisas estranhas.

 

Sabe-se que outras pessoas também passaram por essa mesma aflição naquele caminho, com exceção do couro luminoso, uma vez que este apenas foi visto por Ruy Barbosa.

 

 

Marcos Macedo (Cantor)
Enviado por Marcos Macedo (Cantor) em 09/02/2023
Reeditado em 09/02/2023
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