Uma solucão inusitada
No município de Cavalcante, interior de Goiás não havia outra maneira de executar nosso trabalho de campo, a não ser acampando. Para chegar até lá só a cavalo e depois de dois dias viagem. Num local escolhido, montamos, em poucas horas, o acampamento. Para servir de cozinha erguemos um galpão com suporte de madeira e o cobrimos com uma lona. O Chico nosso colega de equipe era o dono da lona.
Durante a noite do primeiro dia, choveu muito. Em cima da lona acumulou muita água, formando uma verdadeira caixa d’água que deveria ser esvaziada antes que mais chuvas a fizesse despencar. O dia amanheceu sem chuva. Aproveitamos a manhã ensolarada para sairmos ao campo, deixando o esvaziamento da lona para depois. Era tarefa para a tarde, quando voltássemos.
Mas, à tarde choveu muito. Depois do aguaceiro, uma parte do céu continuou nublada, e uma chuva fina persistente continuou, enquanto o sol fraquinho ia entregando os pontos para a noite. Com a chuva, o volume de água da lona aumentou de tal forma, que não podíamos sequer, pensar em adiar seu esvaziamento sob o risco de desabamento. Alguma coisa teria que ser feita.
O sol desapareceu, a noite chegou, e a chuva aumentou de intensidade. Ficamos preocupados. O Chico principalmente. A lona parecia pedir socorro. O Chico não conseguiria dormir com aquela água estufando sua lona. Ela o acompanhara por vários anos e muitos acampamentos no Mato Grosso e Goiás. Uma lona daquela custava caro. Representava algo que não sei dar o nome, mas que de certo modo ele tinha o maior ciúme dela.
Diz um ditado que quando você quer fazer bem feito, faça você mesmo. Todavia o Chico pensou diferente. Sentamos a mesa para jantar. Estávamos de frente para a lona estufada que parecia não resistir mais o peso da água. Acabamos de jantar, e quando o pessoal já se dirigia para suas barracas, Chico ergueu-se da cadeira, afastou-se um pouco e chamou o peão, que além de servir de guia, fazia de tudo, era o pau para toda obra:
- Você pode tirar a água da lona?
- Claro doutor – disse o peão cheio de boa vontade.
Respondeu orgulhoso e convicto de que tinha competência para resolver aquele problema. Era um trabalho chato àquela hora da noite. Mas não negaria um favor ao chefe. Não havia razão para negar. Começou o trabalho fazendo uma avaliação preliminar da situação. Parou embaixo da lona e com o olhar de quem entende das coisas, falou bem calmamente:
- Vou resolver isto agora mesmo!
E, imediatamente, tirou uma faca da cintura e a enfiou na lona, furando-a e livrando-a da água, mas se molhando todo.. Foi tão inesperado que não deu tempo evitar a tragédia. Chico ao ver sua lona furada gritou furioso:
- Rapaz! Ficou louco? onde você viu tirar água de uma lona, furando-a.
O peão respondeu envergonhado e todo molhado:
-Eu pensei que assim fosse mais fácil, doutor!