Contos do Tio TATU Ep.12 - BIRUIA em O Engraxate
Biruia em... : “O Engraxate”
No intervalo entre as paradas dos trens de passageiros na Estação dos Laranjais, Biruia aproveitava a folga na venda das frutas para engraxar os sapatos dos passageiros e frequentadores da estação.
Biruia tinha construído o seu próprio caixote de engraxate, ele o fez com madeira usada de caixas de cebola da fazenda.
E o caixote ficou muito bem feito, pois ele havia aprendido um pouco de marcenaria com Seu Carito.
No caixote, o menino tinha sempre várias flanelas limpas, escovas, e graxa nas cores Preta, Marrom, Branca e Incolor.
Biruia nunca ficava sem fregueses, afinal o garoto sabia chamar a atenção com sua oratória incrível.
Ele aprendera todos os segredos e trejeitos dos demais engraxates que ficavam por ali, por exemplo, quando acabava de engraxar um par dos sapatos, ele dava três batidinhas no caixote para que o cliente trocasse o pé a ser engraxado.
Sempre que o soldado Corruira voltava de sua folga e descia na estação, passava pelo caixote de Biruia antes retornar ao quartel Arapuca.
Os dois se conheciam a bastante tempo, e o menino tinha criado uma certa libertada, então, ao invés de das as três batidinhas no caixote, Biruia batia levemente do lado do coturno onde o soldado tinha um dolorido calo.
Corruira dava um gemido de dor e olhava firme para o garoto.
Biruia apenas sorria e dizia que aquele já estava pronto e que era pra trocar os pés do caixote.
Mesmo Corruira lendo o jornal e tapando o rosto para direção do menino, este sabia que o soldado estava sorrindo com a habitual e costumeira brincadeira.
Biruia além de fazer um serviço rápido, também era muito caprichoso, e os sapatos sempre saiam brilhando do seu posto de trabalho.
Alguns de seus clientes regulares nem era passageiros, os taxistas e charreteiros que trabalhavam na estação, sempre deixavam com o menino um par de sapatos para ser engraxados enquanto eles passavam o dia levando seus passageiros, e vinham pegar no final do dia.
Nas sextas-feiras, Biruia também era chamado nas casas próximas para dar um trato no calçado daqueles que queriam sair nos finais de semana e claro, estarem impecáveis quando forem das aquelas voltas em torna da praça se exibindo para as moças.
Ao final de ultimo trem de passageiros, Biruia recolhia todas as suas coisas e preparava a carroça para ir embora.
No caminho de volta, o menino parava na venda do seu Manoel para pegar a lista das mercadorias que Dona Preta havia lhe pedido e também alguns itens para manutenção da fazenda a pedido de seu Carito.
Lá ele sempre comia um delicioso pimentão recheado, tomava uma sodinha, e gastava o restante do seu merecido dinheiro em gibis e palavras cruzadas.
Já na fazenda, após descarregar tudo e de tratar e levar o cavalo a cocheira, o menino toma seu banho.
Já com a roupa de dormir, ele se senta do beiral da janela abraçando as pernas, e do lado de fora estão Seu Carito sentado nos degraus da sacada e Dona Preta na cadeira de balanço, e todos ouvem mais um capitulo da rádio novela.