Missa mauriliana
Domingo de Páscoa, finalzinho dos anos cinquenta... Padre Maurílio, filho dileto da terra, com seu metro e noventa de altura, voz suave, abaritonada, celebrava a missa madrugal solene no cemitério de São Miguel das Almas em Pitangui, MG. Como a capelinha era incipiente de conter toda a turba de fieis que ali se apinhava, o ato era oficiado ao ar livre, defronte o pequeno templo...e o breu era quase total para que com o romper da aurora coincidisse e se acentuasse o milagre da ressurreição...
Dados o inusitado da hora, a compunção dos fiéis, e o jejum obrigatório, era normal que algum cochilo pegasse aqueles que porventura, ou por desventura mesmo, fraquejassem...na compulsória vigília...
E a seguida a modorra do latinório eclesiástico, na oportunidade, e dadas as circunstâncias, sem os aromas turiferários, também concorria para aquele quase entorpecimento, até que, bem, até que, não mais que subitamente, Padre Maurílio, numa explosão pulmonar de fé, de repente, não mais do que de repente, bradou:
- Levaaantaaaa!
E não bastasse o susto generalizado com aquela exaltação, que se dirigia ao Cristo vitorioso, um velhinho, que cochilava assentado à borda de um recém-aberto túmulo, precipitou-se para atrás... e o tumulto foi total, entre empurrões, gritos de socorro e avessos tropeços...
Só mesmo o Salvador permaneceu impassível ...