Num brado retumbante
Se você não viveu em Lagoa da Prata, MG, naqueles anos dos cinquenta, a probabilidade é de 99,999% de que não conheça a história de Tinoco e Tininha. Eu, que só por uma vez visitei essa aprazível e plana cidade o Centro-Oeste mineiro, a meros cem quilômetros a oeste de minha Velha Serrana, fiquei sabendo hoje e já faço parte daquele 0,0001 restante...
E vamos equilibrar essa equação: Tinoco e Tininha cresceram próximos, namoraram, se casaram e se não foram felizes para sempre é porque o destino não quis. Mas continuaram morando juntos e sem papo um pra outra, ou uma pro outro. Incompatibilidade de gênios.
E sem meios para encarar uma separação radical, mas mais ainda para não caírem no escárnio moral de uma sociedade conservadora, ma non tropo, ajustaram-se à conveniência de partilharem o mesmo leito desde que com cabeças em direções opostas. E assim continuaram a vidinha, com os mesmos amigos, mesmas atividades, mas sem papo.
O que não se sabe é se comemoram na volta para casa, depois daquela rodada de víspora, jogo muito comum na cidade, e de que sempre participavam, quando, extraída a pedra 69, alguém batizou o evento, num brado retumbante seguido de gargalhadas estridentes:
- Deu Tinoco e Tininha!