OS COMPADRES PESCADORES
O caboclinho aproveitou a tarde chuvosa e deu um pulinho até o povoado para aviar algumas coisas que estavam faltando em casa, chegando no povoado como de costume foi até o empório onde fazia suas compras a mais de trinta anos e lá encontrou um de seus compadres, um pescador tarimbado e um loroteiro de mão cheia e após os cumprimentos de costume o compadre pescador logo começou contar vantagem de uma pescaria que havia feito para bandas de um tal Paranasão.
___ Eita lugar de peixe bom!
Exclamou o compadre que prosseguiu contando suas vantagens e como sempre os peixes mais grande acabavam fugindo, aliás nesta pescaria só pegaram peixes grandes, embora nunca ninguém tivesse visto e nem sequer sentido o cheiro dos ditos cujos, O caboclinho, meio que boquiaberto, estava só assuntando e de vez em quando pedia mais uma dose da branquinha e o compadre pescador a narrar suas façanhas de pesca, cada uma mais exuberante que o outra.
O Caboclinho que já havia tomado algumas doses a mais da branquinha, tomou coragem e para não deixar passar em branco, resolveu bota sua colher no meio da prosa, fixou o olhar no compadre pescador e disse com seu sotaque acaboclado:
___ Pois óia meu cumpadre, o sinhô mi perdoe a desfeita, mais pexe maiô do qui eu ninguém inté os dias di hoje conseguiu pescá, vice! Quando cheguei por estas bandas, e isso já faz tempinho, lá no brejo das antas, pertinho do meu rancho, tinha a fama dum pexe tão grande, mais tão grande, qui ninguém conseguia fisgá, divia di sê irguar esti qui escapô du cumpadre la no tar paranasão, porque o danado escapava sempre, levano anzor e tudo mais, e tanto é verdade qui eu mesmo perdi arguns anzor pru danado. Um dia chuvoso qui não dava pra trabaiá, quinem hoje, fiquei no rancho pensano com meus botão e não é qui mi veio uma ideia maluca na cabeça, aproveitei a tarde qui a chuva tinha brandado, fui no calipiá do compadre Onofre, outro home di bom coração tá ali, qui Deus o tenha, iscoí uma vara bem fininha e não muito pesada, di calipio, cortei, botei nos ombros, levei pra casa, dias antes tinha comprado uma corda boa, amarrei na vara, e fiz um cabresto com ela indo inté mais ou menos no meio da vara, caso ela quebrasse a ponta, a corda não deixava a vara si separá, né memo cumpadre? Fiz um impate cumprido com arame grosso, amarrei uma ponta na corda e a outra num anzor bem grande qui cumpadre Onofre, qui Deus o tenha, tinha mi dado, na época ele inté falou qui era anzor de pescar baleia no mar, o home era muito sabido. Num domingo, logo dispois do armoço, peguei a mula nobreza, botei na carroça e desci rumo ao brejo das antas levando a vara com intenção di trazê aquele danado fujão pra casa. Por sorte naquele domingo di manhã, tinha matado um lagarto qui veio buli no ninho das carijó. Cateio o bitelo que havia escondido no teiado do paió de mio, prus cachorro não consumi com o bichinho e levei como isca. No qui cheguei na beira do brejo, isquei o anzor com o lagarto e joguei na água. Cumpadre do céu, inté pareceu que o dando do peixe tava de boca aberta esperando comida, foi jogá e o pexe pegá, eita beliscada firme que tinha o dando, siô, mais eu fui mais forti qui ele, tarraquei na vara com firmeza mais tava veno qui ia perde a parada pro pexe e minha sorte foi qui tinha mais quatro vizinho, todos amigos meus, qui tamem tavam pescano no brejo das antas, quando virô aquele riboliço e queu tava em apuro, correro pra mi ajudá, foi um luta cirrada, mais com muito custo, tiramo o bicho d’água. Oiá seu moço, era uma baita duma traíra qui era difícil inté de aquerditá. Matemo a danada,e coloquemo na carroça, ela fico com o rabo relano no chão, eu mais os quatro fumo pra casa, eles mi acompanharô para ajudar na lida da bicha. Cumpadre do céu, dentro da barriga da danada encontramo vinte e dois anzor, uns trinta metros di linha di pescá, doze chumbadas das grandes, além de déis trairinha pequenas, di mais ou menos um quilo cada, qui a danada havia comido no dia. Ficamos até tarde da noite fritando pexe, deu treis latas di vinte litros, dessas de por carne, di peixe frito, sem contar as partes mais ruins qui nois joguemo fora. No finar, reparti um poco com os amigos qui mi ajudaram e ainda sobrô mistura pra mais di um mês.
Finalizando o causo ocaboclinho ainda se lastimou:
___ Pena qui os quatro amigos si mudaram daqui sinão eles podia confirmá pro sinhô este acontecido.
O Compadre fanfarrão que pôs sentido na conversa do começo a fim, como bom entendedor de pescaria, não tendo o que retrucar, olhou para o caboclinho e disse:
___ Pois então compadre, vamos tomar a saideira pra comemorar este dia, siô!
Tomaram mais uma dose da branquinha e cada um seguiu pra sua casa.