O PURGATORIO NO IMAGINARIO POPULAR

Vó Sinhana era uma benzedeira afamada em toda região, benzia pessoas ofendidas por animais peçonhentos, espinhela caída, vento virado, lombriga aguada, mal de simioto e, para todas doenças, ela sempre ela tinha um reza forte para contornar a situação. Nós morávamos próximo a sua casa e vez por outra íamos até lá para brincar com seus netinhos, talvez daí o costume de chamá-la de Vó Sinhana, e receptiva que era, ela nos acolhia como parte da família, tanto é que sempre que podia se juntava a nós para contar causos, procurando sempre dar um sentido religioso, tamanha a devoção da bondosa mulher.

Certo dia, num dessas conversas ela nos falou a respeito de um tal purgatório, ai todos nos queríamos saber ao certo o que era isso e ela, sábia como sempre, nos contou esse causo que lembro-me como se fosse hoje:

“Conta-se que há muitos anos atrás, quando Deus veio a terra por intermédio de seu Filho Jesus, eles andavam a pé por uma região chamada de Galiléia, seus seguidores eram chamados de apóstolos e ao todo eram Doze e onde Jesus estava, lá estavam os seus apóstolos. Jesus só fazia coisas boas, curava os doentes, fazia o cego enxergar, o paralitico andar e o mudo falar, mas isso não agradou os poderosos daquela época e por causo disso o entregaram ao governador como um criminoso e o governador cruel que era, mandou matar Jesus pregando em uma cruz. Três dias depois ele ressuscitou, ou seja, voltou a viver e esteve com seus apóstolos mais um tempo na terra, depois subiu para o céu antes porem, prometeu que todo aquele que fosse bom na terra, depois de morto, sua alma iria com ele para o céu onde viveria a vida eterna. O tempo passou e os apóstolos continuaram a pregar a Palavra de Jesus e a ajudar os pobres e necessitados ao que eles chamavam de Viver o Evangelho, ou seja, aquilo que Jesus ensinou, mas era uma boa nova diferente da boa nova dos governantes daquela época, pois falava em libertação e isso levou a serem perseguidos até a morte e, uma vez mortos foram ao Céu, conforme promessa de Jesus e lá foram recepcionados com muito carinho e amor, prerrogativas de Deus. Um desses apóstolos porem tinha uma mãe que apesar de ser uma pessoa bondosas e conhecedora da Palavra de Deus, tinha um defeito imperdoável: era muito ridica, não partilhava nada com ninguém. Ao passar dos tempos a Mãe deste apóstolo também morreu e chegando lá no céu, São Pedro que era o porteiro oficial do Céu, uma vez que Jesus lhes havia entregue as chaves do céu a ele, ao verificar o Livro de caridade, onde é anotada todas as boas obras dos viventes da terra, notou que a mãe de seu companheiro não havia praticado as boas obras na terra e pra não dizer que o livro estava totalmente em branco, apenas um breve anotação: Um dia quando lavava sua verduras para vender na feira, um raminho de Salsa escapou de suas mãos, caiu nas águas do córrego e levado correnteza, ela bem que tentou mas não conseguiu alcançar, neste dia ao invés de lastimar apenas exclamou:

___ Vá com Deus!

Notou o porteiro que esta obra era uma coisa boa, mas no seu modo de julgar as coisas, era pouco para ganhar o descanso eterno, como era um homem enérgico e justo, encaminhou aquela alma para o Inferno apesar de ser a mãe do colega. Ao saber do ocorrido, o outro apostolo foi interceder pela mãe a Jesus, e ele não podendo desfazer as ordens daquele a quem confiara a chave dos céu porem, sábio e misericordioso que era, dispondo do raminho de Salsa que a senhora havia lhe dado, entregou ao filho e disse:

___ Se conseguir trazer sua mãe com esse raminho, ela ganhara o reino dos céus.

Pegando o raminho, o Apostolo desceu até as profundezas do inferno onde sua mãe sofria toda espécie de tribulação, chegando a porta deste infortúnio, ele estendeu a mão com o raminho de salsa para que a sua mãe segurasse e com a qual ele a transportaria até o céu. Houve um verdadeiro tumulto no inferno, assim que a mulher segurou no raminho e estava saindo daquele lugar indesejável, as outras pessoas vendo que a mulher estava sendo retirada dali, na tentativa de aproveitar a oportunidade se agarraram a mulher, uns pelos pés, outros pelas pernas, vestidos, enfim no desespero, em qualquer lugar que pudessem pegar para saírem daquele lugar medonho era válido. A mulher vendo isto, por mais que seu filho pedisse para ficar quieta, se debatia muito na tentativa de derrubar os que nelas se seguravam na ânsia de também serem salvos, assim quando estavam quase chegando a porta do céu, o raminho de salsa partiu e todos ficaram vagando ao léu, assim formou o purgatório, lugar onde devem ficar aqueles que não foram suficientemente bons na terra para ganhar o reino dos céus, mas que também não foram demasiadamente maus para queimarem eternamente no fogo do inferno.

Quando terminou de contar a história, a mesa já estava posta com bolinhos de chuva feito por tia Tereza, sua filha que apesar de casada, não teve a felicidade de ter filhos, morava e cuidava da mãe, mulher já de idade avançada, e zelava dos sobrinhos como se fosse a mãe deles. Fomos para mesa sabendo mais uma novidade: era preciso ser bons meninos para ganhar o céu, caso contrário, poderíamos ir para o inferno ou ficar vagando como uma alma penada pelo purgatório.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 22/03/2021
Código do texto: T7213608
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