O VENDEDOR DE SONHOS
Era um homem bem vivido, de cabelos de prata. Aliás, esse era o seu apelido: "cabelo-de-prata". No entanto, era mais conhecido por seu ofício de vendedor de sonhos, deliciosos sonhos, irresistíveis sonhos. Dos quais, só ele tinha a receita. Nenhum sonho se igualava aos dele, vendidos numa carrocinha ambulante, extremamente saborosos. Lá vinha o vendedor de sonhos. As crianças devoravam despreocupadas de etiqueta e os adultos não resistiam a vondade de provar, ainda que receosos de lambuzarem-se. E ele vendia os seus sonhos. Os quais, além de massa, doce de leite e açúcar eram permeados de uma estranha magia. Uma mistura de idealismo, amor e perseverança.Quem provava daqueles sonhos via-se envolvido, extasiado com uma sensação de poder.
De poder fazer algo, de poder contribuir, de poder somar, de poder realizar. Sentia-se grandioso, irmão das estrelas, galáxias e constelações. Também sentia-se em sintonia com as particulas atômicas de uma pétala dourada num imenso jardim. Via-se em consonância com as formigas ou com as aves livres no céu. Na esquina, o vendedor oferecia os seus sonhos. A cada mordida, a possibilidade de mudar o mundo. Em cada grão de açúcar, um segredo do universo. Não se sabe se os sonhos teriam perdido o gosto ou se os clientes tenham perdido o desejo. Hoje é mais difícil de provar daqueles sonhos, o vendedor sumiu. Ele e suas frases enigmáticas ao anunciar seus produtos pela vizinhança: "Sonhos. Sonhos transformam o mundo"; "A grandiosidade de um homem pode ser medida por seus sonhos"; "Sonhos dão sabor à vida", ele dizia, enquanto apertava uma buzina...