DITINHO, O ANDOR E O VESPEIRO
Estava chegando o dia da tradicional festa de São Benedito no bairro, festa dava início na casa do festeiro, onde se servia gratuitamente aos fieis que iam chegando a festa, doces de todas as espécies que eram preparados carinhosamente pelas caridosas mulheres da própria comunidade e a comilança ia até o momento da reza do terço, depois o andor de São Benedito era carregado por todos entre cantos e rezas até a Igrejinha do Bairro onde era celebrada a Santa Missa e a festa seguia com Congada até o dia seguinte.
Naquele ano aconteceu que depois de quase duas semanas se preparando para a festa, na véspera, no momento de colocar o santo no andor para o esperado dia, por um descuido das zeladoras, o santo se estatelou no chão, se multiplicando em mil cacos e foi um Deus nos acuda, na região não se tinha conhecimento de outro São Benedito em tamanho para o andor, não havia tempo hábil para ir a cidade grande para tentar adquirir outra imagem e sem o andor com o santo, a tradicional festa de São Benedito não poderia acontecer, estavam todos muito abalados com o acontecido, até que alguém teve uma ideia:
___ Por que não colocamos o Ditinho do Nho Custódio no andor.
A ideia a principio foi motivo de risos mais aos poucos as coisas foram tomando forma, o Ditinho era um rapazinho muito sapeca, raça negra, magro e de aproximadamente 1 metro e meio de altura, bem parecido com o tamanho da imagem quebrada e assim a ideia de estapafúrdia, aos poucos foi parecendo a solução do problema e só tinha um obstáculo a ser superado: O Ditinho, apesar de ser fiel devoto do santo, será que toparia a parada? E quem o convidaria para tal honra?
Todos foram unânimes em confiar a missão a Seu Neco, um dos festeiros mais tradicional do bairro, muito devoto do santo, era um homem rude mas cujas ordens eram sempre respeitadas, além do que o Ditinho, por ser seu afilhado, lhes tinha muita estima e o respeitava, desta forma seria maior a probabilidade de rapazote aceitar o esquisito convite .
Assim foi feito, tomado de surpresa e após relutar um pouco, Ditinho acabou aceitando substituir o santo porem impôs algumas condições, alegou que não poderia ficar o tempo todo no andor, seria o santo na saída da procissão, permaneceria até o termino da missa quando o andor deveria ser recolhido em uma sala e ele seria liberado para a festa e assim ficou combinado.
No dia da festa, na hora aprazada, lá estava o Ditinho, em pé e inerte no andor como a própria imagem de São Benedito e nem o mais astuto e observador devoto percebeu que era Ditinho do Nho Custodio que carregavam nos ombros assim, a procissão seguia ziguezagueando pelos caminhos do bairro que mais pareciam trilhas do que estradas propriamente ditas, tudo corria bem até ao aproximarem de um arvore que tinha uma enorme caixa de marimbondo num dos seus galhos e se o andor continuasse naquela direção, a cabeça de Ditinho se chocaria exatamente com o vespeiro a frente, não se contendo com o perigo eminente ele gritou desesperado:
___ A Caixa de marimbondo!... A caixa de marimbondo! ...
A procissão seguia a seu roteiro e os fiéis absoltos em seus cantos e rezas nem se deram conta que o santo estava gritando no andor até que a pouco mais de um metro de colidir com o vespeiro, como não tinha nenhum dom para ser mártir, Ditinho não pensou duas vezes, soltou das amarradas que lhe dava firmeza e saltou do andor indo estatelar no chão, foi outro Deus nos acuda, para muitos o Santo havia ressuscitado, as mulheres gritaram, as crianças correram choramingando e foi o maior rebuliço até perceberem que era o Ditinho do Nho Custodio que se passava por São Benedito no andor.
Após os esclarecimentos necessários e passado o susto, por respeito ao santo, Ditinho se posicionou novamente no andor e a procissão continuou como tudo havia sido combinado.