SEU MINGO
Era respeitado e admirado na comunidade por ter ganho na Loteria Federal por duas vezes. Naquele tempo, década de 1960, não havia Mega Sena. Na segunda vez foi o primeiro prêmio, o que fez dele um homem rico. Com tanto dinheiro disponível, mudou para um apartamento grande e confortável em bairro nobre de São Paulo, comprou casa na praia, um automóvel vistoso e caro, além de ajudar familiares. Sobrou uma quantia substancial que aplicou e dos rendimentos vivia sem preocupações com dinheiro. Mas Seu Mingo não era inteiramente feliz...
Além da esposa Nina, tinha dois filhos, Maria Amélia e Rodrigo. Este, um jovem universitário que sofria de um distúrbio mental, uma doença genética que herdara da família de sua mãe. Talvez devido a essa enfermidade que limitava grandemente sua juventude, caiu em forte depressão. Maria Amélia, que era mais velha, estava casada e feliz.
Quando Rodrigo tinha 23 anos e nem havia concluído seu curso superior, a doença genética piorou e com ela a depressão. Com os recursos que tinha, o pai procurou os melhores especialistas e tratamentos, mas foi em vão. O jovem vivia um tormento, um turbilhão desesperador. Não se interessava por mais nada, permanecia longas horas no quarto, com olhar perdido. Pouco falava com os pais e estes não sabiam mais o que fazer. Nem imaginavam que Rodrigo arquitetava um plano macabro. A ideia de tirar a própria vida tomava forma em sua mente.
Seu quarto no nono andar tinha uma janela ampla e relativamente baixa, sem grades. Era 12 de dezembro de 1970, o dia fatídico em que Rodrigo pulou para a morte.
Quatorze anos depois, o marido de Maria Amélia descobriu que tinha um câncer de pulmão em estado avançado. Estava com 52 anos. Procurou tratamentos vários porém a doença não cedeu. Era de um tipo raro. Não teve estrutura para enfrentar a moléstia e nem os tratamentos penosos que viriam. Repetiu o que fizera o cunhado anos antes. Jogou-se da sacada de seu apartamento para morrer 12 andares abaixo, no pátio do prédio onde morava.
Seu Mingo e a esposa não mais existiam, nem iriam suportar tamanha fatalidade. A família se resumiu a Maria Amélia e uma filha solteira que com ela morava. Queira Deus que estejam bem.
Esta não é uma narrativa de ficção. Conheci os personagens. Mudei seus nomes para evitar constrangimentos desnecessários.
Era respeitado e admirado na comunidade por ter ganho na Loteria Federal por duas vezes. Naquele tempo, década de 1960, não havia Mega Sena. Na segunda vez foi o primeiro prêmio, o que fez dele um homem rico. Com tanto dinheiro disponível, mudou para um apartamento grande e confortável em bairro nobre de São Paulo, comprou casa na praia, um automóvel vistoso e caro, além de ajudar familiares. Sobrou uma quantia substancial que aplicou e dos rendimentos vivia sem preocupações com dinheiro. Mas Seu Mingo não era inteiramente feliz...
Além da esposa Nina, tinha dois filhos, Maria Amélia e Rodrigo. Este, um jovem universitário que sofria de um distúrbio mental, uma doença genética que herdara da família de sua mãe. Talvez devido a essa enfermidade que limitava grandemente sua juventude, caiu em forte depressão. Maria Amélia, que era mais velha, estava casada e feliz.
Quando Rodrigo tinha 23 anos e nem havia concluído seu curso superior, a doença genética piorou e com ela a depressão. Com os recursos que tinha, o pai procurou os melhores especialistas e tratamentos, mas foi em vão. O jovem vivia um tormento, um turbilhão desesperador. Não se interessava por mais nada, permanecia longas horas no quarto, com olhar perdido. Pouco falava com os pais e estes não sabiam mais o que fazer. Nem imaginavam que Rodrigo arquitetava um plano macabro. A ideia de tirar a própria vida tomava forma em sua mente.
Seu quarto no nono andar tinha uma janela ampla e relativamente baixa, sem grades. Era 12 de dezembro de 1970, o dia fatídico em que Rodrigo pulou para a morte.
Quatorze anos depois, o marido de Maria Amélia descobriu que tinha um câncer de pulmão em estado avançado. Estava com 52 anos. Procurou tratamentos vários porém a doença não cedeu. Era de um tipo raro. Não teve estrutura para enfrentar a moléstia e nem os tratamentos penosos que viriam. Repetiu o que fizera o cunhado anos antes. Jogou-se da sacada de seu apartamento para morrer 12 andares abaixo, no pátio do prédio onde morava.
Seu Mingo e a esposa não mais existiam, nem iriam suportar tamanha fatalidade. A família se resumiu a Maria Amélia e uma filha solteira que com ela morava. Queira Deus que estejam bem.
Esta não é uma narrativa de ficção. Conheci os personagens. Mudei seus nomes para evitar constrangimentos desnecessários.