Lendas do bairro Pontal¹
 
     O bairro Pontal se localiza na sede do município de Quixeré/CE e atualmente é um dos locais mais frequentados pelos quixereenses devido à recente reforma e urbanização da lagoa do Pontal, com a construção de uma grande praça, com espaços para a prática de esportes, exercícios e lazer. O nome “Pontal” provavelmente é de autoria do morador João Cazuza, quando questionado certa vez sobre onde morava, ele teria dito que morava “ali na ponta da rua, naquele pontal.” O nome caiu no gosto do povo e o bairro passou a se chamar bairro Pontal, ou simplesmente, Pontal. E em relação à lagoa e seu nome antigo, “lagoa da Cornincha”, temos várias versões. Uma delas fala do barulho e da festa que os pássaros noturnos faziam nos arredores da lagoa, durante a caça de peixes. E o mesmo cidadão que deu nome ao bairro, João Cazuza, costumava dizer desse barulho de pássaros que “a lagoa hoje tá que é uma cornincha”. Daí o nome ficou, embora hoje em dia não seja mais tão usado quanto no passado.
           Mas, nessas épocas passadas, o Pontal era um local bem diferente, com pouca iluminação e poucas casas, essas afastadas umas das outras. E é desse tempo - as décadas de 60, 70 e 80 - que circulavam algumas histórias e lendas sobre aquele bairro. Tinha-se de tudo: lobisomens, burrinhas, casas mal assombradas, aparições de vultos, discos voadores etc. Eis aqui alguns dos “causos” mais curiosos do bairro Pontal contados a mim por um de seus mroadores, conhecido como seu José*.
         Uma das antigas lendas que o povo costumava contar era sobre a aparição dum vulto de um rapaz vestido de branco que costumava se manifestar nas proximidades da lagoa. Segundo o que se dizia era um rapaz bonito, de cabelo grande, que não falava nada, apenas acenava para quem passasse por ali de noite. Em noites escuras, quando muitos casais iam namorar nos arredores da lagoa, era quase certo dar de cara com esta aparição. Mas, com o tempo, o povo se acostumou, e nem se assustava mais com ela. Ninguém nunca soube dizer quem era este rapaz fantasmagórico nem o porquê de ele estar ali.
           Em outra ocasião, também no Pontal, contou-me José que ele tinha saído para buscar lenha no mato, pois tinha o hábito naquela época de cozinhar em fogão de lenha. O terreno onde costumava buscar a lenha ficava próximo a um antigo campo de vaquejada. Certo dia, por volta das 17:00hs, ele estava cortando a lenha quando notou, mais à frente, um homem parado o observando encostado numa árvore. Ele então foi se aproximando lentamente daquela figura misteriosa para ver melhor quem era, mas o homem se escondeu atrás da árvore e acabou desaparecendo ali mesmo. Ele então pegou a lenha que já tinha cortado e voltou para casa, intrigado com o que tinha visto. Quem era aquele homem? Até hoje ele não tem resposta.
      Também existe uma história a cerca de uma antiga moradora qur tinha o ofício de lavadeira. Uma certa noite, vinha ela com a sua trouxa de roupas no caminho da lagoa do Pontal, que nesta época já tinha a fama de ser local mal-assombrado. Ao chegar em certo ponto, percebeu a presença de um cachorrinho branco que começou a segui-la do seu lado direito por um longo tempo. Não teria nada de anormal encontrar um cachorro vadio por aquelas bandas, mas o detalhe sinistro é que o tal cachorro não tinha cabeça! Assustada, ela continuou a caminhar até chegar na porta de casa, e somente aí foi que o cachorro desapareceu. Ao contar para seus pais o ocorrido, eles tentaram tranquilizá-la dizendo que isso era alguma “coisa da noite”. E o fato repetiu-se outras vezes, com aquele cachorro branco sem cabeça sempre acompanhando a mulher até a porta de sua casa, e desaparecendo logo em seguida. Isso perdurou ainda por quase um ano, quando a mesma veio a falecer. Será que o “cachorro fantasma sem cabeça” era algum tipo de aviso de morte ou algo do tipo? Ou somente mais uma das “coisas da noite” que andam por aí?
      Por fim um caso ufológico, isto é, sobre discos voadores. Este é um relato bem mais recente, contado por um amigo, atualmente morador do bairro Pontal, próximo da lagoa. Ele contou-me que certa vez, por volta do ano de 2013, em uma noite de céu limpo, ele estava juntamente com seu irmão no alpendre de sua casa quando avistaram algo estranho em meio às estrelas. Eram aproximadamente 20:00hs quando começaram a aparecer algumas luzes no céu, no total de 8 a 9 pontos de luz. Estas luzes se moviam ora rápido, ora devagar, e tinham cores variadas, como vermelha e azul, mas a cor branca era a mais comum. Não se pareciam com luzes de algum avião ou qualquer outra coisa, pois se moviam de um jeito peculiar. De acordo com o seu relato, ele e seu irmão testemunharam: “uma luz indo rápido em direção à Lagoinha e voltando, em direção ao cerrado; duas luzes indo devagar e umas cinco ou seis luzes em cima do cerrado.” Diante daquele avistamento, correram para pegar uma câmera e filmar o estranho fenômeno, e perceberam que as luzes se moveram para longe, indo em direção à Chapada do Apodi, e então desapareceram na escuridão do céu noturno. Ainda de acordo com ele, seu pai teria visto, em outra ocasião, uma luz grande e brilhante em formado de disco sobrevoando a lagoa.
      Em Quixeré, quase sempre em que eram avistadas luzes misteriosas nos céus, que agiam de forma estranha e costumavam perseguir as pessoas, a sabedoria popular as associavam com algum tipo de aeronave ou objeto (provavelmente daí veio o nome “aparelho”, que as pessoas usavam para se referirem aos OVNIs). 

¹Fonte: "Coisas da noite: o Quixeré assombrado e suas lendas populares" (SOUZA, José Lucas Brito, 1ª ed., Rio de Janeiro: Letras e Versos, 2019)
*Nome fictício
Créditos da imagem: Valdetrudes Paz Júnior
José Lucas Brito Souza
Enviado por José Lucas Brito Souza em 17/05/2020
Código do texto: T6949735
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