A Guerra Social
Em seu caminho de volta à cidade latina de Asculum, fugindo das legiões romanas comandadas por Sextus Caesar, lugar-tenente do cônsul Pompeius Strabo, o centurião Sergius Audens montou acampamento ao abrigo de uma floresta, aguardando a chegada de um mensageiro que viria com instruções do líder rebelde Vidacilius. As perspectivas, bem o sabia Audens, eram as piores possíveis. Após o início dos confrontos contra a República Romana, onde haviam lançado mão do elemento surpresa e obtido algumas vitórias pontuais, os italianos rebelados agora tinham contra si toda a força militar do Estado romano, e esta os estava rechaçando de forma implacável. Finalmente, o mensageiro a cavalo chegou ao acampamento dos rebeldes e foi conduzido à tenda de Sergius Audens.
- Ave, centurião! Eu sou Stephanus Belenus, mensageiro de Gaius Vidacilius - apresentou-se o rapaz, erguendo a mão direita espalmada.
- Ave, Belenus - redarguiu Audens. - Então, quais são as novas de Asculum?
- A cidade foi sitiada... mas temos tropas fora dos muros, e estamos organizando um contra-ataque.
- Mas quem está sitiando Asculum? - Indagou Audens, perplexo.
- As legiões de Pompeius Strabo.
Audens encarou seu amigo e subordinado, o optio Megadorus Fronto, que acompanhava a conversa de pé, ao seu lado.
- Escapamos de Sextus Caesar para cair nas mãos de Pompeius Strabo - comentou, em voz baixa. E, voltando-se para o mensageiro:
- De quantas legiões estamos falando, no entorno de Asculum?
- Creio que... umas quatro legiões - admitiu o mensageiro. - Sem contar tropas auxiliares da Gália e Hispânia.
Audens ergueu os sobrolhos.
- E Vidacilius quer que nos juntemos às suas forças para este... contra-ataque? De quantos homens ele dispõe para romper o cerco?
- Cerca de 4.000 - informou o mensageiro, cabisbaixo.
- Quatro mil homens contra quatro legiões... - avaliou Audens. - O que acha, Megadorus?
- Vai ser um massacre - replicou o optio.
O centurião cruzou os braços.
- Mensageiro, você já ouviu falar da "Lex Julia de civitate Latinis et sociis danda"?
Belenus fez um gesto afirmativo.
- É a nova lei aprovada pelo Senado, que concede cidadania romana a qualquer peninsular... desde que ele não tenha levantado armas contra a República. Isso não se aplica a nós, rebelados, como sabe. E, certamente, não aos moradores de Asculum, caso os romanos invadam a cidade.
- De fato... mas qual foi a razão pela qual começamos esta guerra contra Roma?
- Para obter a cidadania romana, que nos era negada, na condição de associados que somos.
- E agora, Roma nos oferece a cidadania pela qual vínhamos lutando.
- Sim, mas, como eu lhe disse, não para os beligerantes...
Audens voltou-se novamente para seu optio.
- Acho que chegou a hora de nos juntarmos aos vencedores. Ordene aos homens que ponham roupas civis, e vamos procurar o posto de recrutamento mais próximo do exército romano.
- Isso é... isso é... - murmurou apavorado o mensageiro.
- Traição? - Completou Audens com um sorriso irônico. - Digamos que ninguém aqui quer morrer, agora que podemos conseguir aquilo que pelo qual vínhamos lutando.
E, dedo em riste apontado para Belenus:
- E você vai vir conosco, como fiel súdito da República Romana que é. Se disser que trabalhava para Vidacilius, pode ter certeza de que os romanos te cortarão a cabeça.
O mensageiro não ousou contradizê-lo.
- [17-08-2019]