A Cinta da Ambrósia

Josué!

Cabôco pacato

Inraizado e matuto filiz

Morava numa paioça a bêra rio

Nas banda do corgo do lavado

Siei fio e a muié Ambroza

Uma famia filiz

Vivia da pesca e da prantação

No brejo o arrôis

Nôta parte o mio e o fêjão.

Duas vaquinha leitiêra

Um capado no xiquêro

O terrêro forrado de galinha

O Fugão dispejano o chêro

Ora-po - nóbi cum custelinha

A Ambroza é boa no tempero

Tomém é fia da D.Joaninha

A mió da rigião sem inxagêro

Ela num gostia de ladainha

E nem de disispêro.

Dia de festa no puvuado

Festa de São Jusé

O Santo fazedô de chuva

E a coiêta ta uma belezura

O povaréu na aligria

Pa mode celebrá a fartura

As moça de laço de fita

Pa casá os moço inté jura

Dispois de vê os pai cum as garrucha na cintura.

A Jandira do Nonô

Que morava na cidade

Comprô um vistido muderno

Pa sê da festa a nuvidade

Pois o marido ia de terno

Tinha infruênça na sociedade

Dinhêro ali era mato

E pidiu inté uma cinta

Pa Ambroza que era sua cumade.

Foi logo pidino uma no tamain "P"

E cum carin mandô imbruiá

Foi-se imbora cum o marido

Pu povoado pa festejá.

Chegano na casa do Josué

Foi uma porvorosa

O presente foi intregue

A Ambrosa toda fogosa

Ao vê a cinta disse:

- Vô ficá toda charmosa!

Na ança da arrumação

A Ambrosa toda imporgada

Nem se feiz apercebê

Que era mei gurdinha

E os muderno se diz EXTRA G

Ajuntô aquilo na cintura

Rispirô fundo e arrochô

E a Jandira: - Que belezura!

Ficô prefeitia!

Que cinturinha de tanajura!

O Jusué já arrumadim

De butina nova

A carça era de brim

A camisa vorta o mundo

Passô inté um prefumin

E ele ao lado de Ambroza

Ficô todo assanhadim

E logo mudô de prosa

E disse bem baxin:

- Qui muié maraviosa!

O sacristão bateno o sino

O pade de batina nova

Chegava um, chegava ôto

Uns trazia as prenda

Pu animado Leilão

Ôtos o ofertóro

Tinha inté fuguete

Era uma animação!

Seu Isidoro o festêro todo respeitoso

Cum o chapéu na mão.

Era uma nôte quente

O Calôre tava de duê

A capela arroiada

Qui nem dava pa mexê

E a Ambrosa suano...suano...suano

Água desceno

E os zóio isbugaiano

O Jusué oiava de lado

E foi percupano

Num guentô e num ficô calado.

- Muié qui diacho é isso?

Pu mode que tanta suadêra uai?

Ocê ta cum isprito?

Ocê parece inté uma cachuêra.

Vai tumá um ventin lá fora

Sinão ocê vai dismaiá

Tarvêz ocê miora

E num vai a reza atrapaiá

Eu num vô imbora agora

Tem o leilão pa rematá!

Uma voiz isprimida

Saiu lá do fundo da Ambroza:

- É a cinta Jusué! É a cinta!

Jusué num cumprindia

E foi logo na ingnorança:

- Qui Jacinta Ambroza? Que Jacinta?

E ela cheia de dôre:

- Jacinta não Jusué! A cinta!

Tá aqui no meu istrambo

A cinta qui a cumade Jandira me presentiô!

Jusué im disispêro

Logo gritô na capela:

- Ispera seu pade! Ispera!

A Ambroza vai dismaiá

Tá passano male

É uma tale de cinta

Eu num sei de quale

A cumade Jandira quis fazê o bem

Purisso quéla tava fininha

Magrinha cumo ninguém.

Foi um corre-corre

Pa mode tirá a cinta

O peso era medonho

E ela tá qui grita.

A Jandira logo chegô

E fêiz tudo iscraricê

Dispois de muitia lida

É qui vei a se intendê

Que o mare num cabe no corgo

E que EXTRA "G" num cabe no "P".

O pade deu uma xinga:

- Dadonde se viu botá

Mare dento do riacho

Pa pudê mufiná?

Ino contra as lei de Deus

Pa mode se imbelezá

Ocê é inté fofinha

E o Jusué deve gostá

Pára cum isso

Sinão vô te castigá.

O silenço foi profundo

E aquilo foi um inxempro

Quem qué secá a rôpa

Num pode xingá o vento.

Jusué abraçô a Ambroza

E o bêjo deu um istalo

E ela toda dengosa:

- Jusué meu prinspe!

E ele: - Dexa o pade celebrá!

Agora cê ta fogosa né!

Dispois da celebração

Foi aquela festança

Muitias prenda no leilão

E muitia cumilança.

A Ambrosa dançava e rodava

A Jandira nos braço de Nonô

E o sole já crareava

O sanfonêro no maió vapôre

De vêiz im quando umas gargaiada

Quando da cinta se alembrava.

A Ambroza nem qué mais sabê de cinta

Come feitia uma loba

O Jusué fica de ôio e pensa no sufoco

O pade já ordenô nas redondeza:

- Um aviso às muié: pode pará de mudernidade

O que Deus deu é uma beleza!

Num importa a idade.

A Jandira pidiu discurpa

Agora é filicidade!

Inté pessuale!

Mestre Tinga das Gerais
Enviado por Mestre Tinga das Gerais em 28/03/2019
Reeditado em 24/07/2020
Código do texto: T6609571
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